Lançada em janeiro pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em parceria com a Universidade de Coimbra (UC), a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a colaborar na Campanha de Monitorização Nacional do Gás Radão, que pretende determinar a concentração deste gás radioativo no interior dos edifícios.
A participação da UTAD iniciou-se nos dias 17 e 18 de janeiro, através de investigadores desta universidade e também da UC que colocaram cerca de 100 detetores em várias habitações nos concelhos de Vila Flor, Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro e Miranda do Douro. A distribuição irá continuar nas próximas duas semanas, em localidades dos distritos de Bragança e de Vila Real, para avaliar a concentração de radão. De acordo com Elisa Preto Gomes, docente da UTAD, a campanha da APA abrangerá zonas previamente selecionadas porque o território nacional apresenta “grande geodiversidade”.
O radão é um gás radioativo de origem natural, sem cor nem cheiro, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde como a “segunda causa de cancro do pulmão na população, depois do tabaco”. Entra nos edifícios, vindo do solo, através de fissuras e fendas, produzindo partículas radioativas. Essas partículas ficam retidas nas vias respiratórias, podendo provocar “danos nos pulmões e aumentar o risco de cancro do pulmão”.
Por não ter cor nem cheiro, a monitorização é feita através de um detetor de radão que se coloca no interior da habitação, na divisão onde se passa mais tempo, durante cerca de três meses. Os detetores são de pequenas dimensões, não têm custos associados e não necessitam de energia para funcionar. Após o período de monitorização, o detetor é analisado no Laboratório de Radioatividade Natural (LRN) da UC, dirigido por Alcides Pereira, único em Portugal, com acreditação Internacional.
Os resultados desta campanha serão tratados de forma agregada para elaboração de um mapa de risco de exposição ao radão para o território nacional, que permita estabelecer um plano de medidas de proteção da saúde das populações. Segundo a APA o mapa de risco será publicado no site oficial, para livre consulta, previsivelmente em julho de 2020.
A UTAD e a UC têm vindo a estudar este gás desde 2004 na região transmontana e de Amarante, em estágios de fim de curso, teses de mestrado e através de uma tese de doutoramento em Geologia, desenvolvida por Lisa Maria Martins em 2017, trabalho pioneiro que estudou o controlo geológico e mineralógico da radioatividade natural, a partir da região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Este estudo avaliou a concentração de radão nos solos e no interior de 269 habitações numa área de 1280 km2, que abrangeu uma grande variedade de rochas distribuídas nos concelhos do distrito de Vila Real. Os dados foram obtidos com detetores idênticos aos distribuídos nesta campanha, através da medição em habitações durante 3 meses no inverno, altura em que se verifica uma maior concentração em espaços confinados. Os detetores foram revelados no LRN, pelo que os dados obtidos através de estudos da UTAD serão integrados no mapa nacional que resultará desta campanha da APA.