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Urbano Miranda, presidente da Associação Comercial e Industrial de Vila Real/ Foto: Salomé Ferreira[/caption]
Urbano Miranda encontra-se na presidência da Associação Comercial e Industrial de Vila Real desde julho de 2014. Um ano e meio depois de ter assumido funções a resolução da divida da instituição continua a ser a grande prioridade neste momento. Em conversa com o VivaDouro, o dirigente falou acerca do mandato e das expetativas que tem para o futuro da associação e do concelho de Vila Real.
O que o levou a candidatar-se a este cargo?
Por achar que estava na altura de pôr trinta anos de trabalho em desenvolvimento ao serviço do associativismo e por pensar que era uma mais-valia para o trabalho da instituição.
Quando assumiu a presidência em 2014, considerou que a situação financeira da instituição era delicada, um ano e meio depois de ter assumido funções, houve alguma melhoria, já conseguiu fazer o equilíbrio das contas?
Nesta fase temos duas prioridades principais, sendo que a primeira é desenvolver a sobrevivência da própria instituição. A associação neste momento não tem entradas suficientes de dinheiro para poder solver as suas responsabilidades. Essa é uma das nossas grandes metas e isso tem a ver nomeadamente com algumas renegociações bancárias no sentido de dissolvermos a dívida que a associação tem e que esgota praticamente as verbas que recebemos dos nossos associados. Temos também uma dívida ao Fundo Social Europeu que nos obriga a transferir mensalmente cerca de 3300 euros.
Herdou essa divida?
Já veio detrás. Essa é uma das principais razões para que a associação esteja em estado de aperto financeiro. Temos vindo a cumprir com essas responsabilidades e pensamos que até ao final do ano é possível resolver. No entanto, para não estarmos permanentemente com o aperto de não termos dinheiro para fazer absolutamente nada e inclusive haver meses em que não temos dinheiro para assumir as nossas responsabilidades do dia-a-dia, estamos a negociar com uma entidade bancária um alargamento do prazo de amortização dessa dívida, o que seria muito importante para nós.
Mas conseguiram essa negociação?
Estamos a trabalhar nisso. Queremos tentar fazer um encontro de interesses, porque a associação apesar de ter estes problemas não deixa de ser uma entidade importante em termos de representatividade de um conjunto alargado de empresários, nem que seja por uma questão de política comercial da própria banca poder estar ao lado da associação no sentido de a ajudar naqueles que são os seus principais problemas. Até porque a associação tem dificuldades mas paga.
Ou seja, a imagem que tem aqui na cidade é que as pessoas respeitam a associação e que tem alguma credibilidade?
Penso que sim, até porque a associação não deve dinheiro a ninguém e procura ser parceiro quer dos seus associados, quer de todas as instituições que operam aqui no concelho.
A relação que tem na cidade quer com as forças políticas quer com os comerciantes é saudável?
Com as forças políticas vamos projeto a projeto tentando negociar aquilo que são os interesses de ambas as partes, até porque quer os agentes políticos quer a própria associação não deixam de ser motores de desenvolvimento local. Seria estranho que dois parceiros de desenvolvimento estivessem de costas voltadas. Nós já somos poucos para tentar fazer alguma coisa, se estivermos de costas voltadas pior será a tentativa de atingirmos qualquer tipo de objetivos. A atitude mais inteligente é estarmos todos em parceria no desenvolvimento de projetos para que possam contribuir para a melhoria das condições de negócio, de oferta comercial, da criação de emprego e da dinâmica da própria cidade a esse nível.
Enquanto presidente da Associação Comercial de Vila Real, como encara a atual situação económica e social, em particular no que respeita aos setores do comércio, turismo e serviços?
(Risos) A situação económica do país é complicada e quanto mais complicada é mais difícil fica para as regiões mais fracas, são logo as primeiras a queixarem-se da gravidade económica em que nós estamos e isso nota-se particularmente na saúde financeira dos nossos associados em geral, aqui em Vila Real e nas cidades onde temos responsabilidade. Portanto é um período muito complicado mas os nossos associados têm vindo a lutar no sentido de manter as suas atividades comerciais, mas não tem sido fácil.
Na sua opinião, quais é que foram os setores económicos mais afetados pela crise destes últimos anos?
Todos. Tanto que se dermos uma volta aqui no centro histórico da cidade vimos que existem muitas lojas vazias e isso é um sintoma de que algo vai mal no comércio tradicional. É evidente que não é só por causa da crise, mas esta situação veio dar um grande empurrão a esta realidade.
Considera que os grandes centros comerciais vieram piorar a situação do comércio tradicional?
Quando falamos de centros comerciais estamos a falar nomeadamente do Dolce Vita, eu pelo menos tenho uma visão relativamente aos centros comerciais um pouco diferente daquilo que é o tradicional. O Dolce Vita é uma âncora para o concelho, traz aqui gente que de outra forma nunca viria aqui a Vila Real. Aquilo que importa saber é se nós enquanto comércio tradicional temos ou não capacidade de conseguir atrair as pessoas que normalmente vão para o
shopping, irem também ao centro histórico fazer compras. Eu acho que ver os centros comerciais como responsáveis da desgraça local é demasiado redutor.
Pegando no caso concreto de Vila Real, que medidas têm previstas no vosso mandato para voltar a dinamizar o comércio tradicional?
Como sabe os problemas dos centros históricos são complexos e têm uma responsabilidade mais ao nível das políticas de desenvolvimento local. A responsabilidade está mais concentrada na autarquia do que propriamente na Associação Comercial, nós tentamos colocar-nos ao lado do município como parceira desse desenvolvimento. Nesse aspeto achamos que temos um papel importante porque julgamos que o centro histórico se pode reconverter numa espécie de um centro comercial em espaço aberto, com uma entidade gestora desse centro comercial, em que essa entidade gestora pode ser a Associação Comercial, enquanto representante dos próprios comerciantes e também do espaço físico da intervenção. No entanto, para que isso seja uma possibilidade tem que haver uma definição de políticas de desenvolvimento do próprio centro histórico, da responsabilidade da autarquia e do poder central. Tem que haver uma redefinição estratégica daquilo que é a repovoação do centro histórico, temos um centro relativamente grande onde vivem meia dúzia de famílias, temos que fazer com que haja mais pessoas a ir viver para o centro histórico, porque aquilo que dá a oportunidade de negócio são as pessoas. Temos de tentar atrair mais empresas para o centro histórico, quantas mais empresas maior é a capacidade de atração e tem que haver uma regra para a ocupação quer de lojas, quer de edifícios que estejam por ocupar. Da mesma forma que existe uma política fiscal que premeia a atividade também temos que ter uma politica fiscal que penalize a inatividade.
Preconiza um futuro risonho para o centro histórico?
Se houver vontade política eu acho que é possível ter novamente os centros históricos com a força que tinham antes. Evidente que é necessária uma reavaliação daquilo que são as prioridades dos parceiros políticos nesta matéria. Preconizamos que os empresários, que são os principais dinamizadores do centro histórico, possam acreditar que a curto ou a médio prazo é rentável investir no centro histórico.
Quais é que são as vossas principais prioridades neste momento?
Esperar que os fundos comunitários abram e que possamos rapidamente começar a trabalhar para cumprirmos aquilo que é o nosso papel, de apoio e ajuda aos nossos associados e aos comerciantes em geral. Só trabalhando é que podemos ser úteis, só trabalhando é que conseguimos resolver o problema financeiro da associação e é nesse foco que nós estamos concentrados e na perspetiva de podermos fazer em 2016 uma estratégia de trabalho positiva para todos.
Qual é o balanço que faz até ao momento do seu mandato?
O meu mandato até agora tem sido um pouco complicado porque quando entrei na associação tínhamos os problemas que acabei de referir. Neste momento aquilo que eu tenho vindo a fazer é tentar resolver os problemas que vinham de trás. A capacidade de construção até agora tem sido praticamente nula exatamente por não haver ferramentas que permitissem a associação posicionar-se no sentido de um trabalho positivo e tem sido um bocado difícil.
Qual é o foco que pretende atingir até ao final do mandato?
Eu gostava de colaborar para que a associação pudesse ter uma incubadora de empresas aqui no centro. Queria também contribuir de alguma forma para que alguns dos nossos associados possam melhorar a sua capacidade de internacionalização. Gostava de ter um conjunto de candidaturas que permitissem melhorar a competitividade comercial e individual de cada um dos comerciantes. Temos um desejo em relação ao centro histórico, em que a Associação se possa ir constituindo como uma entidade gestora e possa contribuir quer para a angariação de novos parceiros, que se possam definir como âncoras, e eles próprios serem chamariz para os consumidores e os outros que já cá estão poderem usufruir dessa melhoria e que possam chamar outros comerciantes, para que nos próximos anos possamos ter um centro histórico cheio de lojas, com uma capacidade de atração diferente, com lojas mais modernas, mais competitivas e que Vila Real se possa constituir como uma espécie de um centro comercial grande numa perspetiva regional e quem sabe até para a região norte do país.
Que mensagem diria a um comerciante que queira abrir uma loja, o que é que ele ganha em ser sócio da associação, que benefícios pode ter?
O que ele ganha é ver-nos como parceiro, como apoio ao seu negócio. Podemos ajudar na informação, no encaminhamento, temos parceiros associados que podem ajudar os comerciantes e fazê-lo de uma forma mais económica. A associação serve para falar numa voz coletiva em nome dos comerciantes, portanto a associação procura estar ao lado dos comerciantes no sentido de apoiar na resolução de eventuais problemas.
É candidato a mais um mandato?
Não sei, ainda é um pouco prematuro.