Destaque Entrevista Vila Nova de Foz Côa

“Tenho o sentimento de ser fozcoense. Pode haver quem o seja tanto como eu mas, certamente não há ninguém com esse sentimento maior que o meu”

 

João Paulo Sousa chega ao leme da autarquia fozcoense após 12 anos na vice-presidência do município. Sublinha as semelhanças com o passado e traça novos caminhos para Vila Nova de Foz Côa, numa conversa onde há ainda uma comparação ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Ser autarca implica uma dedicação ao cargo que vai muito além das habituais 8 horas de trabalho. O que se perde ao dedicar o dia a dia à causa pública?

Provavelmente a família queixa-se um pouco, não escondo isso. Contudo, eu sou uma pessoa muito equilibrada, sei gerir muito bem o meu tempo. Durmo muito pouco, às 4 e meia da manhã já começo a chatear a minha esposa (risos), sou como o Presidente Marcelo.

A adrenalina que sinto neste cargo é precisamente pela vontade de fazer. Costumo dizer que se algum dia perder esta vontade então é melhor retirar-me. Não sou pessoa de estar acomodada porque se entramos na rotina acabamos por não fazer nada de diferente e isso tira todo o interesse.

Tenho uma equipa fabulosa, com duas pessoas mais novas que eu e que trazem uma visão diferente e que se complementa muito bem com a experiência autárquica que eu trago na bagagem.

As decisões que se tomam, quase nunca são do agrado unânime da população. Como autarca, que peso tem a opinião dos munícipes nas suas decisões?

Tenho o costume de dizer que no dia em que eu não tiver a capacidade de ouvir, vou-me embora.

Uma das características fundamentais que tenho é ser um bom ouvinte. Sempre fui uma pessoa muito ponderada. Se alguém se queixa é porque sente alguma necessidade.

Se um dia não tiver paciência não estou aqui a fazer rigorosamente nada. Há duas coisas que aprendi na política, não há gratidão nem ressentimento.

Depois há o sentimento de ser fozcoense. Pode haver quem o seja tanto como eu mas certamente não há ninguém com esse sentimento maior que o meu.

Herdou uma câmara gerida pelo mesmo autarca durante 12 anos, do qual foi vice-presidente. Que legado ficou da gestão de Gustavo Duarte?

Deixou uma câmara numa situação financeira invejável. Deixou também vários ensinamentos de competência, transparência e integridade. E acima de tudo deixa-me a vontade de querer fazer mais. Somos um concelho de referência e queremos continuar nessa senda.

Como referência digo que o concelho de Foz Côa é um território que tem recursos e know-how para assumir a liderança dentro deste território.

Aquilo que o ex-presidente Gustavo me deixou, e já nos conhecemos há muitos anos, para além da sinceridade, da competência e da dedicação, foi a vontade de lutar assumindo que temos que sentir o território. Não se ganha o território se não o sentirmos.

Não aceito aquela máxima que os políticos são todos iguais. Costumo dizer que não sou político, estou na política para servir as pessoas que me viram nascer. Sei quais são os problemas e as limitações que temos e, tendo isso em conta tento fazer o melhor que sei e posso em prol deste concelho e destas pessoas.

Nestes 12 anos desempenhou um papel de relevo na governação da autarquia. Como vice-presidente, se lhe pedisse para escolher um momento desta última dúzia de anos, qual seria?

Tivemos alguns. É difícil escolher um, depende do campo de intervenção. Se falarmos da justiça, foi conseguir manter o tribunal a funcionar quando muitos foram encerrados, no campo da saúde foi a conquista da SUB, da qual assumimos a componente financeira, a nível cultural a manutenção da Fundação do Parque Côa que passou por algumas dificuldades na altura da Troika.

Depois houve também diversos eventos que estruturamos e que sentimos que valeu a pena fazer esses investimentos porque deram mais visibilidade ao concelho. São exemplo disso o Festival dos Vinhos do Douro Superior e a continuidade da Festa da Amendoeira em Flor que já leva 40 anos de longevidade, atraindo centenas de pessoas…

Centenas? Não estará a ser um pouco modesto?

É difícil contabilizar. Eu sou muito comedido nestas coisas, se fosse mais exagerado eu falaria em 150 ou 200 mil. A Festa da Amendoeira em Flor tem características muito próprias, ao longo do evento são realizadas mais de 40 atividades. Só os passeios pedestres, que são quatro ou cinco, juntam 300 ou 400 pessoas cada um. No desfile etnográfico as ruas de Foz Côa ficam completamente preenchidas.

Não é fácil contabilizar porque não é um percurso fechado. É efetivamente muita gente e quando se fala em amendoeiras em flor é Foz Côa, ponto.

Olhando agora para o futuro. Sendo que há aqui uma certa continuidade na governação do município, agora é o João Paulo que está na presidência. De que forma quer deixar a sua marca no concelho?

Já o estamos a fazer. Eu e o anterior autarca somos muito próximos mas pessoas completamente diferentes. Quando dizemos que somos diferentes refiro por exemplo que, em termos de prioridades, embora nos completássemos, eu estou a apostar em outras áreas de intervenção.

Sempre demos muita importância às pessoas, com programas na área da saúde, por exemplo. Neste momento queremos dar atenção a outras áreas de intervenção, nomeadamente assumindo quatro compromissos essenciais.

Desde logo uma atenção muito grande à questão da juventude. Temos de dar atenção aos jovens, e aos jovens casais, criando um sentimento de identidade e pertença. Não temos que lhes dar o peixe mas temos que lhes dar todas as condições para pescar. No caso das creches, por exemplo, eu antecipei-me ao Governo reduzindo 50% do custo das famílias com a creche, é uma forma de incentivo.

Ainda nas pessoas temos de continuara a dar atenção aos nossos idosos. Estamos a protocolar, com os diferentes presidentes de junta, aulas de educação física para diversas infraestruturas ligadas aos idosos, como os centros de dia ou os lares. Cada freguesia receberá dois mil euros para esse fim. A Universidade Sénior, por exemplo, só ainda não arrancou devido ao número de infetados por Covid-19 que existem neste momento na comunidade, não queremos arriscar.

Em segundo temos alguns projetos que são estruturantes para nós. Há obras que são urgentes arrancar como a construção de um Centro de Recolha Animal, que já está em andamento. É uma estrutura para cerca de 200 animais, que terá um custo a rondar os 400 mil euros. Outra obra estruturante, e para a qual já temos o projeto, é a construção, de raiz, das piscinas cobertas municipais. São duas obras estruturantes. Já deixo aqui de parte o Mercado Municipal e a Foz Côa Story House, que já estão com uma taxa de execução de 80% e serão finalizados no decorrer deste ano.

Um outro plano, o terceiro, e que irá ser apresentado na Assembleia Municipal de fevereiro é o plano habitacional de recuperação de casas, apoiado pelo PRR. Já temos 65 habitações sinalizadas no concelho. Vamos fazer uma candidatura e mediante o resultado vamos apoiar as pessoas na recuperação das suas habitações.

Outro compromisso que para nós é importante está relacionado com a questão cultural e turística, desde logo com a ligação à Fundação do Côa, estando já eleito como representante do município no Conselho de Administração.

A reabertura da Linha do Douro até Barca D’Alva será também uma bandeira desta presidência. Tenho sido irreverente o quanto baste no que diz respeito a este tema e ainda recentemente reunimos todas as partes interessadas aqui em Foz Côa. Considero que temos todos o mesmo objetivo, independentemente da posição espanhola. Vamos ver se realmente avança ao contrário do que aconteceu em 2009 em que a ministra da época, Ana Paula Vitorino, veio assinar um compromisso de intenções que não saiu do papel.

Uma outra questão que me parece fundamental, e que está relacionada com a questão do turismo, é criar o tal sentimento de pertença que referi há pouco. Precisamos de tornar o concelho mais atrativo, mais dinâmico, inclusivo, mais digital. As smart cities estão aí e recomendam-se. Um dos grandes projetos que estamos a desenvolver neste momento é uma candidatura, a nível internacional, para integrar o 5G nos Passadiços, que são um fator estruturante no nosso desenvolvimento na área do turismo.

As coisas mudaram muito, em especial com este cenário pandémico, e as nossas preocupações atuais devem refletir isso. O apoio ao comércio local é fundamental, o investimento em determinadas atividades não deve ser travado. Na área da viticultura existem neste momento projetos no valor de cerca de 20 milhões de euros por privados.

Temos a noção que estamos a atravessar momentos difíceis mas é nestes momentos que podemos marcar a diferença, e é isso que queremos fazer aqui.

Há uma garantia que fica, é que nunca nada será feito comprometendo a saúde financeira do município. Por muito diferentes que eu e o anterior autarca pudéssemos ser, essa sempre foi uma linha vermelha que não se ultrapassava.

Recebi uma autarquia com um saldo positivo de cerca de 4 milhões de euros, mesmo com parcas fontes de rendimento, ainda por estes dias foi noticiado que temos a água mais barata do país, no IMI também cobramos a taxa mais baixa, com os descontos aplicados aos filhos. É preciso muito rigor para se conseguir isto, e esse rigor é para continuar.

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