A edição deste ano da Festa da Castanha foi realizada em formato digital devido às restrições impostas pela pandemia Covid-19. Num formato inovador a autarquia apostou na venda da castanha online através da plataforma Dott.pt, uma aposta que se revelou ganhadora.
Numa altura em que as grandes concentrações de pessoas não são permitidas, a Festa da Castanha, evento que reúne normalmente cerca de 50 mil participantes, foi uma das que teve que se adaptar à nova realidade.
Para Armando Mateus, vereador da autarquia com quem o VivaDouro esteve à conversa, este é um formato de sucesso, na promoção do território e na economia local, que deve ser mantido e melhorado no futuro.
De uma forma geral, que balanço faz a autarquia desta edição especial da Festa da Castanha?
O balanço é extremamente positivo. Os objetivos que tínhamos perspetivado foram largamente ultrapassados. Obviamente que num formato completamente novo, a venda online de castanha através de uma plataforma que tem conhecimento nesta área e com dimensão nacional, a Dott.pt que inclui ainda o apoio dos CTT.
Este formato de feira digital foi-nos apresentado, já experimentado com outros produtos regionais, como por exemplo a cereja, queijos ou vinho, contudo todos ainda numa fase de experiência.
Mais do que a venda do produto em si vimos neste formato digital a oportunidade de continuar a divulgar a nossa castanha Martaínha, que é aquela que produzimos aqui na nossa DOP, os Soutos da Lapa, mantendo ainda a marca Terra da Castanha bastante ativa, estes eram os principais objetivos.
Obviamente que escoar a castanha dos nossos produtores, que em média são cerca de 30 na Feira da Castanha, foi para nós uma preocupação até porque havia um risco de quebra do seu valor pela existência de oferta em excesso.
A imagem visual desta iniciativa foi também muito elogiada, foi uma das vossas preocupações?
Procuramos logo de início que esta campanha apostasse numa vertente visual muito atrativa, daí desenvolvermos uma embalagem com algum cuidado gráfico que no seu conteúdo levasse também alguma comunicação do município sublinhando a marca Terra da Castanha, no fundo procuramos que a caixa levasse também uma experiência ao comprador.
Esta iniciativa foi acompanhada de uma forte campanha de comunicação com a colocação de outdoors, participação em programas televisivos e rádio e inserções nos meios de comunicação locais. O primeiro grande impacto acabou mesmo por ser a participação no programa “Praça da Alegria”, da RTP. Após ir para o ar a Dott contactou-nos a informar que a plataforma, que ainda só tinha o produto em pré-reserva, contava já com 1 tonelada de castanha encomendada. Isto deixou-nos logo a antever uma excelente campanha.
Obviamente que os CTT e a Dott vêm na nossa campanha uma oportunidade para eles também se alavancarem, trabalhando-a nos meios deles, e de uma forma bastante intensa. Reuniram-se diversas condições para que esta fosse uma iniciativa de sucesso, que totalizou no final das três semanas as 15 toneladas de castanha vendidas.
Qual foi o feedback que receberam do público?
O feedback foi muito positivo, as pessoas viram neste formato a hipótese de partilharem um momento único em que o Covid acabou até por ser um pouco esquecido.
E dos produtores?
Os produtores ficaram também bastante satisfeitos até porque conseguimos manter um preço elevado de compra ao produtor.
É importante dizer aqui que a autarquia teve a função de promover uma plataforma e fazer a divulgação mas depois, toda a logística comercial é da responsabilidade da Associação Sementes da Terra que teve um compromisso com todos os produtores em que o preço pelo qual a castanha fosse vendida ele revertia na totalidade ao produtor.
O objetivo sempre foi ajudar diretamente o produtor, permitindo assim colmatar as dificuldades de um ano de média produção e onde o preço da castanha ao produtor baixou muito. França e Itália estão a retomar as suas produções depois de resolvido o problema com a vespa da galha do castanheiro, que nós agora estamos a vivenciar, aumentando a presença de produto no mercado que leva ao decréscimo do preço.
No próximo ano, e de acordo com as informações que vamos tendo, por esta altura a pandemia estará já controlada. Nessa perspetiva, este formato é para se manter?
Este formato surge para dar resposta a uma necessidade e inicialmente pensou-se que seria uma situação pontual mas, esta pandemia também nos trouxe uma nova realidade, pautada pelo sucesso, que é a venda online através das diversas plataformas digitais.
A Dott foi convidada para um programa onde se evidenciavam cinco casos de sucesso em contexto de pandemia e dentro da Dott foi escolhida a Festa da Castanha de Sernancelhe como um caso de sucesso dentro de outro caso de sucesso.
Obviamente que com isto nós nunca mais poderemos descartar a venda online, não nos podemos desligar deste cliente que aqui encontramos. É um cliente que recebeu em casa uma embalagem não só com um produto mas com uma experiência também, através de uma brochura que apresentava o nosso concelho, locais a visitar, onde comer ou dormir, etc. Algo que desperta nas pessoas a vontade de visitar Sernancelhe no futuro.
Nas redes sociais as reações foram muitas e referiam sempre não só o produto como a forma em que o receberam, prometendo uma visita em breve.
Estas plataformas digitais permitem-nos, através dos nossos produtos endógenos, chegar a outros públicos e trazê-los ao nosso território para que o conheçam melhor.
Com esta solução não foi possível chegar aos muitos emigrantes que estão espalhados pelo mundo, já está pensada uma forma de chegar até eles no futuro?
Esta plataforma só trabalha para Portugal continental e ilhas. Recebemos centenas de mensagens de emigrantes saudosos por este ano não poderem estar presentes na Festa da Castanha e por não poderem estar a consumir a castanha da sua região. Esta é uma situação que pretendemos solucionar até à próxima edição.
Conseguimos colmatar esta falha com a ajuda de alguns dos nossos grandes produtores que acabaram por fazer essa ponte, expedindo diretamente para os emigrantes. Temos também algumas empresas locais de transporte de pessoas e produtos locais, nomeadamente para a França e Suíça, que colaboraram nesta operação.
Sentimos que não conseguimos resolver todos os casos solicitados, resolveram-se alguns mas no próximo ano queremos alargar esta plataforma para o estrangeiro.
Podemos então assumir que no próximo ano a Festa da Castanha terá uma vertente presencial e outra online?
Será isso mesmo. Iremos trabalhar, como sempre trabalhamos, as edições presenciais mas nunca mais nos vamos desvincular da plataforma digital porque é outro potencial mercado que entendemos que devemos apostar.
Houve muita gente envolvida em toda esta dinâmica, a autarquia tem algum agradecimento especial que queira fazer?
Este projeto só foi possível com a entrega, a participação e o empenho de todos aqueles que foram solicitados.
Obviamente que recorremos, como sempre, à nossa logística, aos nossos funcionários e técnicos. Mobilizamos toda a nossa secção de cultura para esta iniciativa porque foi necessário envolver muita gente.
Houve também a participação de diversas associações locais, da escola profissional e claro, de destacar a Associação Sementes da Terra que, juntamente com os seus associados, deram uma alavanca muito importante a este projeto.
Como não podia deixar de ser fica também o nosso agradecimento especial aos nossos produtores e algumas empresas agroalimentares que colaboraram connosco.