Entre 28 e 30 de outubro, Sernancelhe sublinhou, uma vez mais, o seu estatuto de Terra da Castanha, com a organização da 30ª edição da Festa da Castanha, que este ano foi inaugurada pelo presidente do PSD, Luís Montenegro.
Mantendo fidelidade ao formato original, a edição contou este ano com mais espaço na “tenda lounge” que, mesmo assim, esteve repleta para o momento inaugural do certame, que incluiu ainda uma homenagem a diversas personalidades que contribuíram ativamente para o sucesso do evento ao longo das três últimas décadas.
Para lá de um certame exclusivamente dedicado ao fruto mais desejado do outono, a Festa da Castanha é também uma mostra do que melhor se faz e produz no concelho de Sernancelhe, projetando o território turisticamente.
Durante os três dias do evento, Sernancelhe proporcionou dezenas de momentos de cultura e animação com grupos de música tradicional portuguesa, não faltando fado à desgarrada com Borguinha de Braga e Nati Vieira, o Rancho Folclórico de Sernancelhe, o grupo de música tradicional Chulada da Ponte Velha, animação de rua e sessões de “showcooking”, em que esteve presente o conceituado Chef Fábio Bernardino.
Referência também para o sucesso dos já tradicionais trail, caminhada e passeio BTT “Rota da Castanha e do Castanheiro” e ainda o passeio equestre “Rota da Castanha”, assim como os concursos da Melhor Castanha Soutos da Lapa e do Melhor Doce de Castanha.
No ano em que cumpriu 30 edições, a Festa da Castanha confirmou-se como o evento com maior longevidade do Concelho e uma manifestação popular única que começou em 1992. Um exemplo regional de evento que desde a sua origem alcançou todos os objetivos definidos. E ainda logrou muito mais ao registar, no país, a marca “Terra da Castanha” como símbolo que hoje identifica, explica e diferencia Sernancelhe.
Tradição, dinamismo económico e futuro do setor agrícola são premissas que o Município garante com o evento Festa da Castanha. E o resultado tem sido claro na notoriedade alcançada pela castanha Martaínha, no posicionamento deste fruto no mercado e no impulso económico que representa para centenas de produtores do concelho e da região.
Para o dirigente do PSD, estar presente na inauguração do certame é importante para estar próximo do território, como considera que todos os governantes deveriam fazer, para terem um maior conhecimento das reais necessidades dos autarcas e das populações na hora de tomar decisões, dando ainda como exemplo a iniciativa que o tem levado a viver uma semana por mês nas diferentes capitais de distrito.
“Acho que temos que cultivar a relação de proximidade com o território, por todo o país, só assim poderemos tomar as opções que são mais favoráveis, quando temos oportunidade de o fazer, tornando assim Portugal num país mais próspero, mais equilibrado e mais justo.
Não há dúvida nenhuma que se há uma medida da qual me orgulho e da qual tenho tirado muitos ensinamentos, é a iniciativa “Sentir Portugal”, vivendo uma semana por mês em cada distrito. Já estive em Viseu e hoje reencontro aqui algumas das pessoas com quem me cruzei ao longo dessa semana. É mais uma oportunidade que temos de partilhar as ideias e as dificuldades de quem vive nestes territórios.
Muitas vezes os problemas que aqui encontramos são pequenos, mas todos somados podem ser grandes opções estratégicas para o país.
Andamos há muitos anos a fazer grandes investimentos, e não digo que não devem ser feitos, mas por vezes há pequenos investimentos, pequenas obras, que fazem toda a diferença. Ainda há pouco falava com um produtor de maçã que me apresentava os problemas que teve este ano devido à falta de água, sublinhando que bastava um sistema de retenção de águas da chuva durante o inverno para minimizar esses problemas.
Por vezes parece que está aqui instalada uma fatalidade segundo a qual as pessoas aqui não têm oportunidades. Aqui há algumas oportunidades e têm que ser aproveitadas, na área agrícola, do turismo ou dos serviços, por exemplo.
Temos a oportunidade de aproveitar o que é mais característico e identitário em cada segmento, cada um tem que saber escolher a sua área e fazê-lo bem. É preciso criar marca e sinergias”.
Para Luís Montenegro, a Festa da Castanha “é um emblema da região”, que está bem estabelecido e que “ajuda a promover outros produtos do concelho como o mel, a maçã, o vinho, o artesanato, etc, uma panóplia de produtos que tem mercado e que são diferenciadores”.
No final do certame, em declarações ao nosso jornal, Armando Mateus, vereador da cultura de Sernancelhe e responsável pela organização mostrava-se satisfeito pelo resultado alcançado.
“Fazemos um balanço extremamente positivo porque atingimos todos os parâmetros a que nos propusemos no início. Desde logo pela promoção que fizemos do nosso município, nos diferentes meios e canais de comunicação que utilizamos, assim foi possível chamar até aqui mais gente e, mesmo aqueles que não vieram, ficaram com a informação gravada na sua memória que esta é a Terra da Castanha. Em segundo lugar foi o trabalho que fizemos para celebrar os 30 anos deste evento com a participação de todos quantos estiveram envolvidos com ele ao longo destas três décadas, só assim tem sido possível que ele perdure no tempo. Para finalizar, a importância que teve a realização deste evento num ano de tão má memória para os nossos produtores. Não há memória de um ano tão mau para a produção como este mas a realização da Festa da Castanha veio aliviar um pouco esse problema”.
A Festa da Castanha é muito mais do que um certame onde apenas se consome e adquire este fruto de outono, há uma série de eventos que surgem associados a esta celebração, algo que para Armando Mateus “é muito importante, até porque é a continuidade deste agregar de eventos paralelos que foram surgindo ao longo dos tempos, e que atraem milhares de visitantes”.
Celebrados os 30 anos da Festa da Castanha, o vereador autárquico acredita que este é um evento ainda com um longo futuro pela frente, “há eventos que organizamos que sabemos que são esgotáveis no tempo, neste caso é diferente, eu arriscaria a dizer que havendo castanheiros e produtores de castanha, haverá Festa da Castanha até ao infinito”.
Miguel Santos – Frusantos
É um ano péssimo. Tendo uma estrutura montada para receber 2 milhões de quilos e ter uma quebra de mais de 70% não é fácil para a empresa. De há 15 anos para cá a produção tem vindo sempre a cair mas este ano a queda foi abrupta e isso pode trazer-nos muitos problemas. Sinto-me triste, não só por mim mas também pelos nossos agricultores.
É péssimo para nós mas também para os produtores e para o concelho em si porque há menos atividade económica.
Apesar da quantidade ser mais reduzida este ano, a qualidade está toda lá. Para mim é a melhor castanha do mundo.
Um problema que também se nota mais em anos como este é o do mercado paralelo, o Estado deve controlar mais este setor e uma forma de o fazer seria de atribuir os subsídios com base na faturação de cada agricultor, talvez assim se evitasse o mercado paralelo.
Recordo-me da primeira edição, a Frusantos esteve presente nessa edição, na altura com o meu pai e nós temos continuado a marcar presença para mostrar o nosso produto. Este evento é sempre importante para que as pessoas conheçam melhor o nosso produto e o nosso território, que tem muito para descobrir.
Alberto Correia - Confrade-mor da Confraria da Castanha
A confraria vive essencialmente de um fenómeno cultural, de conhecer a castanha, da sua raiz à aplicação na gastronomia ou divulgação.
Partilhamos toda a vivência dos proprietários dos soutos que, neste território, se mantêm sustentando a economia local.
A castanha é um produto com muita procura, em especial durante os dias deste certame em que aumenta bastante.
Este ano, devido às alterações climáticas que nos afligem, temos alguns problemas. Mesmo os castanheiros mais antigos, com raízes profundas, viveram um ano muito difícil. É um ano imensamente penoso como talvez não tenha havido outro neste século.