A produção de castanha no concelho de Santa Marta de Penaguião é já hoje uma realidade ainda que reduzida. A aposta do município é desafiar os privados, bem como os Conselhos Diretivos dos Baldios, a promoverem de forma sustentável a cultura do castanheiro na Serra do Marão.
De acordo com o autarca local, Luís Machado, a ideia não é nova e já vem desde o seu primeiro mandato. O autarca teve sempre “um plano de sustentabilidade” que passa pela valorização dos três produtos endógenos do concelho: o vinho, o azeite e a castanha”.
“Na área do vinho fizemos um trabalho diferente, porque tendo a nossa adega cooperativa passado por anos de grandes dificuldades financeiras permitiu o aparecimento de jovens e menos jovens produtores/engarrafadores que apostaram na marca “chapéu” SANTA MARTA que tem, como todos sentimos, reconhecimento nacional e internacional”, afirma o autarca. Este último completa a ideia afirmando que o concelho “tem hoje referências de vinhos Douro, Porto e Aguardentes de qualidade, que têm conquistado diversos prémios de reconhecimento nos mais variados e prestigiados certames da especialidade”.
Para Luís Machado este foi um “caminho difícil”, mas que a autarquia continua determinada em afirmar, deixando escapar que “o objetivo é que em Santa Marta de Penaguião só se produzam vinhos a partir de uvas do concelho ou da Região. Queremos acabar com a importação de vinhos de outras regiões”.
O autarca penaguiense sublinha ainda a importância da “relação próxima” que foi conseguida entre a restauração e os produtores de vinho do concelho. “Hoje em dia qualquer restaurante do concelho tem na sua carta de vinhos, vinhos produzidos em Santa Marta de Penaguião e esse foi um passo de gigante”, conclui.
Com o trabalho no setor vinícola em andamento a autarquia aposta agora em duas novas frentes: revitalizar o setor do azeite e avançar na produção de castanha na Serra do Marão.
“Santa Marta de Penaguião nos anos 50, 60, teria entre 15 a 20 lagares de azeite, hoje, infelizmente, não tem nenhum. Não faz qualquer sentido que os penaguienses produtores de azeite tenham de se deslocar fora do concelho ou ao concelho vizinho para fazer o seu azeite, assim como não faz sentido que não tenhamos uma marca deste produto”, afirma Luís Machado para explicar o objetivo da autarquia, que passa por incentivar e promover a construção de um lagar de azeite”.
Se no azeite pouco está por fazer, na castanha pouco está feito. A produção deste fruto outonal no concelho é ainda residual, contudo a autarquia vê na Serra do Marão uma grande e única oportunidade.
“Como toda a gente sabe, as alterações climáticas vão fazendo com que a altitude da produção de castanha vá subindo e, no Marão, temos uma faixa em altitude que permite essa evolução”.
No total, a área potencial de produção aproxima-se dos 700 hectares, “que juntando aos terrenos onde já existem soutos, poderá tornar o concelho como um dos maiores em área de produção deste fruto. “
“É nossa convicção que o negócio da castanha é um caminho a seguir pelos penaguienses. A maior parte da área nesta altura é gerida pelos Conselhos Diretivos de Baldios mas nós entendemos e acreditamos que um projeto único para toda a área do Marão será o caminho a seguir para criar valor, fixar jovens e essencialmente tornar Santa Marta de Penaguião cada vez mais um concelho sustentável.
O desafio que temos é valorizar a Serra do Marão, criando valor para os que lá vivem e trabalham.
O que gostaríamos é que todos os Conselhos Diretivos dos Baldios se unissem num projeto único que, do meu ponto de vista, pode ter dois caminhos. Um é fazer lotes/unidades de cultura disponibilizando-os aos jovens residentes e naturais desses locais para que estes tenham uma parcela de terreno para explorar, o outro passa por serem os próprios Conselhos Diretivos a explorar.
A minha ideia era que os jovens residentes ou naturais tivessem a oportunidade de terem uma parcela de terreno para manterem as suas raízes e criarem um valor acrescentado aos rendimentos da sua atividade profissional”.
Com o objetivo de garantir um projeto de sucesso, Luís Machado explica à nossa reportagem que irá convidar especialistas desta área, nomeadamente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro que poderão, entre outros aspetos, ajudar a perceber qual a qualidade de castanha mais aconselhável para a referida produção.
“Naturalmente vamos ter que ir junto de quem conhece e domina esta cultura, neste caso a UTAD, desafiando-a a que nos ajude a escolher a melhor castanha para o nosso território, enquadrando-nos desta forma no contexto produtivo nacional. Estamos confiantes que a UTAD irá ajudar, e que os penaguienses vão entender e participar”.
Para Luís Machado, ao longo dos anos a influência da Serra do Marão na Região Demarcada do Douro tem sido pouco reconhecida, e pretende assim intensificar as atenções do município e dos seus munícipes para esta vertente, apostando nas potencialidades do lado serrano do concelho como fator de desenvolvimento e de afirmação da economia local.
“Durante muitos anos, as lideranças fixaram-se na Região Demarcada do Douro achando que a parte serrana era a parente pobre do concelho, quando nós achamos que esta tem as mesmas potencialidades de criação de valor. Estou convencido que nesta altura, até pela paisagem e pelo turismo de natureza, no nosso caso, a parte serrana tem um potencial forte e perfeitamente complementar ao nosso Douro.”
Finalizando, o autarca refere que “olhando para a Região do Douro como um todo, o Marão tem de ser incluído nessa visão. Hoje em dia já não é razoável pensar na valorização da Região Demarcada e Regulamentada do Douro sem incluir a Serra do Marão. Ambos são complementares e assim o potencial de criação de valor é muito maior. Este é o caminho”.