[caption id="attachment_3365" align="alignleft" width="300"] Cerca de 50% dos funcionários da Adega Cooperativa de Sabrosa são mulheres/ Foto: Salomé Ferreira[/caption] Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Num mundo que era tradicionalmente reservado aos homens e as saias só costumavam ser admitidas a personalidades como a célebre Dona Antónia, as mulheres começaram nos últimos anos a entrar em força no espaço sagrado do vinho, apesar de não concederem grande importância a este facto, uma vez que consideram “já não haver diferenças entre homens e mulheres” nesta ou qualquer outra profissão. No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o VivaDouro foi conhecer duas durienses que têm dado cartas no mundo dos vinhos. São vozes no feminino que optaram por fazer da sua paixão pelo vinho e pela região a profissão que faz delas mulheres realizadas diariamente. Celeste Marques e Olga Martins. São estes os nomes de duas das mulheres que se têm distinguido no universo dos vinhos na região do Douro. Celeste Marques é diretora e enóloga da Adega Cooperativa de Sabrosa e Olga Martins é CEO da Lavradores de Feitoria. [caption id="attachment_3364" align="alignleft" width="300"] Celeste Marques, diretora e Enóloga da Adega Cooperativa de Sabrosa / Foto: Salomé Ferreira[/caption] “A minha avó foi a minha grande inspiração, o meu exemplo”, revelou ao VivaDouro Celeste Marques, diretora e enóloga da Adega Cooperativa de Sabrosa. Foi há cerca de 32 anos que ingressou na área dos vinhos. Mas a paixão já é antiga, desde os tempos de criança, “em que fazia vindimas na Quinta da avó com a irmã gémea”, recorda Celeste Marques. Quando iniciou a vida profissional eram “poucas” as mulheres na área e as que “haviam eram direcionadas para o laboratório, nunca para cargos de chefia ou responsabilidade”, explica a enóloga. “O mundo da enologia era dos homens mas neste momento não é assim”, acrescentou. “Fui também das primeiras a entrar no curso de Enologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em 1985, mas por acaso havia mais mulheres do que homens no curso”, assertou Celeste Marques. A enóloga iniciou a vida profissional em vindimas na empresa Sandeman, “nessa altura ainda não havia muitos sítios no setor onde as mulheres pudessem trabalhar”. Depois disso, Celeste Marques foi a “primeira mulher a trabalhar numa multinacional italiana, onde só havia homens a trabalhar”, explica. [caption id="attachment_3366" align="alignleft" width="300"] Olga Martins, diretora executiva da Lavradores de Feitoria / Foto: Direitos Reservados[/caption] Olga Martins, o “motor” da Lavradores de Feitoria, tem um percurso indissociável da empresa que se encontra a dirigir, uma vez que esta foi uma das suas primeiras experiências profissionais após concluir os estudos na UTAD. Assim, Olga Martins cresceu profissionalmente na Lavradores de Feitoria, onde esteve, desde sempre, ligada à área comercial e  conseguiu transformar o projeto que reúne vários empresários agrícolas, numa empresa de sucesso. Mas o seu percurso no mundo dos vinhos foi tudo menos tradicional, uma vez que não foi “uma herança”, como acontece com a maior parte dos profissionais ligados ao setor na região. “A grande maioria das pessoas que está no mundo dos vinhos já têm a ligação das famílias a este setor, principalmente as mulheres, e eu não tenho nada a ver com isso, nunca tive nenhuma ligação à agricultura e a minha ideia nunca foi seguir esta área”, explicou ao VivaDouro. Ao seguir o gosto que tinha pela área da Química, Olga Martins ingressou a licenciatura em Engenharia Química pela Universidade de Aveiro, mas depois decidiu mudar-se para Vila Real e especializar-se em enologia pela UTAD. O trabalho de campo começou enquanto tirava o curso e fez estágio de vindima na Quinta do Noval, empresa produtora de Vinhos do Porto. Os responsáveis gostaram do trabalho de Olga Martins e convidaram-na de novo para colaborar com a empresa, desta vez para estagiar em França durante quatro meses. Entretanto tinha enviado um currículo para a Lavradores de Feitoria e tinha sido convidada para fazer um estágio de vindima no Douro, uma vez que já tinha aceitado a outra proposta teve de recusar. Quando regressou a Portugal recebeu um contacto da Lavradores de Feitoria a perguntar se estaria disponível, os responsáveis estavam à procura de recém-licenciados e chamaram-na para entrevista, uma vez que tinham boas referências de Olga Martins. A entrevista teve lugar no Palácio de Mateus, no local em que a equipa do VivaDouro se encontrou com Olga Martins para descobrir o seu percurso no mundo dos vinhos. A enóloga acabou por não aceitar a proposta, mas algum tempo depois, e após alguma insistência e tentativa de “conquista” por parte da empresa Olga Martins acabou por iniciar atividade na Lavradores de Feitoria, onde se encontra até ao momento. Olga Martins afirma que atualmente não “sente qualquer diferença” ou tratamento diferenciado por ser mulher. “Senti nos estágios que fiz, lembro-me que nos primeiros anos olhavam por mim um pouco de lado por ser mulher mas também por ser jovem”, explicou. “Ainda assim nunca fui vista com maus olhos, também já faço parte de uma nova geração de enólogos do Douro em que fomos todos colegas, que nos entreajudamos e que essa situação de ser mulher ou homem já não interessa nada”, acrescentou. “Sempre senti respeito da parte de toda a gente. Agora estamos a começar a vender para o Japão, já sei que os japoneses são complicados a trabalhar com as mulheres, para eles quem tem que estar à frente dos negócios são homens mais velhos, nesse aspeto Portugal está muito à frente”, disse a enóloga. “Em Portugal há muitas mulheres a fazer muito bem vinho, a venderem muito bem vinho, acho que realmente o mercado está bem dividido. O perfil depende da pessoa não depende do sexo acho que hoje de facto não se sente esse tipo de diferenças”, concluiu a enóloga. “Sensibilidade” é uma das características que distingue as mulheres no setor dos vinhos No que diz respeito às características que distinguem as mulheres no setor dos vinhos, Celeste Marques aponta a “sensibilidade” como a principal diferença. “A mulher tem muita mais sensibilidade, quer em termos de prova, quer de higiene, notam-se diferenças quando uma Adega é dirigida por mulheres”, afirmou a enóloga. Na Adega Cooperativa de Sabrosa cerca de 50% dos funcionários são mulheres, sendo que por vezes a enóloga prefere optar por contratar mão-de-obra no feminino, uma vez que acredita serem mais “multifacetadas” e também “minuciosas” no exercício das funções. Tânia Ribeiro, funcionária da Adega de Sabrosa há quatro anos, vê Celeste Marques como uma “mentora”, uma vez que lhe ensinou “praticamente tudo” que sabe “tanto a nível de enologia como de relações pessoais”, afirmou. “As mulheres são mais perfecionistas, entre todas formamos uma equipa e sabemos lidar muito bem umas com as outras”, acrescentou. Natércia Veiga, também funcionária da cooperativa, revela que existe uma “diferença enorme” no que diz respeito a trabalhar com uma mulher na direção. “As mulheres têm mais sensibilidade e uma visão diferente, com outro cuidado para os pormenores”, afirmou. Celeste Marques revela sentir uma “grande diferença” entre o estado do mercado do trabalho de há vinte anos e o atual, uma vez que acredita não haver neste momento “grandes distinções” entre sexos no contexto profissional. Ainda assim, a enóloga acredita que para vingar no contexto profissional “uma mulher tem de trabalhar três vezes mais do que os homens para ser reconhecida”, defende.

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