No passado dia 25 de abril o Diretor Geral da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, John Barker, apresentou o documento intitulado State of the Vine and Wine Sector. Das principais conclusões denotam-se essencialmente quatro aspetos principais.
1) A área de vinha do mundo continuou a decrescer, diminuindo 0,5% em relação a 2022, para 7,2 milhões de hectares. Esta tendência, observada pelo terceiro ano consecutivo, foi impulsionada pelo arranque de vinha nas principais regiões vitícolas em ambos os hemisférios. Portugal ocupa o 9.º lugar (variação de -5,8% face a 2022; representa 2,5% da área de vinha mundial; Top 3 Mundial: Espanha, França, China).
2) A produção de vinho deparou-se com condições climáticas extremas e doenças fúngicas generalizadas que afetaram severamente muitos vinhedos em todo o mundo, culminando numa produção global de vinho historicamente baixa de 237 milhões de hectolitros. Isso marcou uma queda de 10% em relação a 2022 e representou a menor produção desde 1961. Portugal ocupou a 10.ª posição (variação de +9,8% face a 2022; representa 3,2% da produção mundial de vinho; Top 3 Mundial: França, Itália, Espanha).
3) O consumo global de vinho em 2023 é estimado em 221 milhões de hectolitros (mhl), indicando uma diminuição de 2,6% em relação aos números já por si baixos de 2022. O aumento dos custos de produção e distribuição, impulsionado por pressões inflacionistas, conduziu a preços mais elevados do vinho para os consumidores, que já lidavam com a diminuição do poder de compra. Apesar destes desafios, alguns mercados importantes demonstraram resiliência. Portugal ocupa o 10.º lugar (variação de -9,2 % face a 2022; representa 2,5 % do consumo mundial de vinho; Top 3 Mundial: EUA, França, Itália). De notar que o consumo de vinho na China, que era de 17,6 mhl em 2018 (na 5.ª posição), tem vindo a diminuir consecutivamente, sendo de 6,8 mhl em 2023 (9.ª posição).
4) O comércio internacional de vinho em 2023 também foi particularmente afetado pelo aumento dos preços. Embora o volume total de vinho exportado tenha caído para 99 milhões de hectolitros, tal foi compensado por um elevado valor de exportação, que atingiu os 36 mil milhões de euros. O preço médio por litro de vinho de exportação atingiu um recorde de 3,62 euros por litro. Portugal ocupou a 9.ª posição em valor (variação de -1,2% face a 2022; Top 3 Mundial: França, Itália, Espanha).
Quando avaliamos a evolução das tendências por cor na produção mundial de vinho no período 2000-2021 deparamos que, em 2021, a produção global de vinho branco está estimada em 130 mhl, representando 50% da produção total. O vinho tinto, com 110 mhl, representa 42% e os restantes 8% são vinhos rosés, estimados em 21 mhl. Em 2021, a produção de vinho tinto diminuiu 25% desde o seu pico em 2004, enquanto a produção de vinho branco aumentou 13% desde o seu nível mais baixo em 2002. A produção de vinho branco excedeu a de vinho tinto a partir de 2013. Uma das principais forças motrizes por trás desse aumento é o boom na produção de espumantes, conforme descrito no Foco Temático da OIV 2020.
Desde que atingiu o seu pico em 2007, o consumo de vinho tinto diminuiu 15% em menos de quinze anos. Por outro lado, o vinho branco aumentou 10% em relação ao seu nível mais baixo em 2000. Ao contrário do que aconteceu na produção, o consumo de vinho branco não ultrapassou o de vinho tinto. Isto porque a maior parte do vinho destinado a utilizações industriais (destilação, produção de vinagre, bebidas à base de vinho, etc.) é branco. Note-se que o consumo de vinho branco se manteve relativamente estável no período 2000-2009, e tem vindo a crescer a um ritmo relativamente rápido a partir de 2010, impulsionado pelo sucesso global do vinho espumante.
O consumo de vinho rosé aumentou 17% em relação ao seu nível mais baixo em 2000. Após um rápido crescimento no período 2000-2007, o mercado de rosé foi atingido pela crise financeira global no período 2008-2010, e voltou a crescer a partir de 2011, embora a um ritmo mais lento.
Talvez esta descrição possa explicar as notícias que nos informam sobre medidas intensas de arranque de vinha em França, ou sobre a colheita em verde em Espanha, entre outros países. De facto, hoje não importa revisitarmos o passado ou criticarmos as medidas estruturais que a Região Demarcada do Douro (RDD) adotou há décadas, mas sim apresentar e concretizar áreas de atuação que possam valorizar as Denominações de Origem Protegidas Douro e Porto garantindo a sustentabilidade da região. Por outro lado, é inegável que este sector, muito competitivo e inovador, aproveitou a capacitação científica e técnica proveniente das universidades, reestruturando vinhas e melhorando a qualidade dos vinhos produzidos, mas também é verdade que as outras regiões mundiais, também elas célebres, não suspenderam o seu desenvolvimento e afirmação mundial.