Natural de Barcos, Tabuaço, foi na AJAB (Associação Juvenil Abel Botelho) que deu os primeiros toques como futesalista. Com a equipa tabuacense subiu à 2ª divisão, palco que lhe permitiu dar o salto para a divisão cimeira, ao serviço do SC Braga.
De Braga o jogador tabuacense rumou a Lisboa, onde jogou no SL Benfica durante seis épocas, findas as quais regressou novamente a Braga para representar os arsenalistas.
Na seleção, Fábio Cecílio conta já mais de 100 internacionalizações, tendo ganho dois campeonatos europeus e um mundial. Conquistas sobre as quais fala ao VivaDouro, numa conversa na cidade dos arcebispos.
Já passou algum tempo desde a conquista do bi-campeonato europeu de futsal. Já deu tempo para saborear esta conquista?
A nós jogadores não “cai a ficha”. São momentos em que chegamos ao céu mas acabamos por não usufruir desse espírito na totalidade.
Logo depois de uma conquista destas temos de regressar aos clubes e trabalhar por novos objetivos, é a nossa profissão. Pecamos por não disfrutar mais destes momentos tão especiais.
Quando alguém chega ao pé de nós e nos dá os parabéns pelo campeonato do Mundo ou pelos da Europa é que nos lembramos que já levantamos aquelas taças, são pequenos momentos que nos relembram das conquistas.

É mais difícil disfrutar da vitória ou ultrapassar uma derrota?
As derrotas ninguém as quer. No desporto é difícil digerir uma derrota e o pensamento fica logo no jogo seguinte para fazermos melhor e voltar a dar aos adeptos o gosto da vitória.
A vitória é mais fácil de disfrutar, apesar de termos pouco tempo para isso (risos).
A seleção portuguesa é olhada agora com mais respeito pelos adversários. Isto é fruto das conquistas alcançadas?
Na minha opinião isso chama-se responsabilidade. Quando chegamos ao topo os nossos adversários olham para nós com mais respeito.
Hoje os adversários olham para nós como uma seleção mais competitiva, mais focada durante os 40 minutos e sabem que vão encontrar dificuldades. Acaba por haver sempre alguma pressão mas se estivermos bem preparados então certamente que as coisas vão correr bem.
No nosso grupo esse é um fator muito importante, o foco no trabalho que fazemos, o nosso querer.
Nos últimos anos temos evoluído muito, também porque o nosso campeonato se tornou mais equilibrado e isso ajuda à evolução da seleção.
Dos três grandes troféus que já conquistaste pela seleção (dois campeonatos da Europa e um do Mundo), algum que tenha sido mais especial?
Todos são especiais mas o Europeu de 2018, que foi o primeiro, teve um gosto especial. Os portugueses estavam à espera de uma grande conquista por isso teve um gosto especial.
Era um grupo muito unido, tal como os das outras conquistas, as condições de trabalho foram perfeitas e tudo correu como planeamos, quando assim é torna-se especial.
Grande parte do grupo vem de dois clubes rivais, Sporting e Benfica. Como se gere esta rivalidade no seio da seleção?
Fora da seleção cada um representa o seu clube e faz o melhor que consegue, na seleção é diferente.
Quando nos concentramos na seleção sabemos quais são as nossas responsabilidades, sabemos que é um espaço completamente diferente, onde todos remamos para o mesmo lado, com os olhos postos no mesmo objetivo que não é fácil de alcançar.
Na seleção somos uma família muito unida.
Ter um treinador transmontano e um jogador duriense no grupo, ajuda a fomentar esse espírito de família?
(risos) Sabemos que os transmontanos são rijos e o mister Brás sabe como nos guiar, como nos incentivar. Tenho a certeza que todos os jogadores que passam pela seleção estão dispostos a deixar a vida em campo por ele.
Quando começaste a jogar futsal na AJAB certamente não imaginarias todas as conquistas alcançadas. O que dirias hoje ao Fábio de 14 anos, em Tabuaço?
Quando somos do interior sabemos que as possibilidades não são as maiores.
A minha luta ao longo dos anos foi contrariar o discurso que estando em Tabuaço seria muito difícil porque ninguém ia ver os jogos, etc.
O ano em que tudo mudou foi o ano em que a AJAB esteve na 2ª divisão e chegou aos oitavos de final da Taça de Portugal.
Aos miúdos que ambicionam um dia chegar ao mesmo patamar que eu o melhor conselho que posso dar é que não desistam, tal como eu não o fiz. Ouvi muita gente a dizer que não era possível mas dei a resposta da melhor forma, trabalhando para alcançar os meus objetivos.
Nas grandes conquistas fazes sempre questão de levar a bandeira de Tabuaço contigo e partilhar uma foto nas redes sociais. É uma forma de mostrares Tabuaço ao mundo, junto com o teu nome?
No mundial fiz questão de levar duas bandeiras, a de Barcos, que é a minha freguesia e a de Tabuaço. É a minha terra e tenho muito orgulho nela.
Espero um dia, já velhinho, estar por lá. São as nossas origens e isso tem muito peso. Tabuaço deu-me muito e eu sinto que também devo fazer algo pela minha terra.
Já tens muitos anos como profissional, já pensaste como gostarias que fosse o teu último jogo?
O meu sonho era acabar na AJAB, com o pavilhão cheio. Quando comecei a jogar nos juvenis o pavilhão estava sempre vazio, quando saí da AJAB para o SC Braga, já como sénior, o pavilhão estava sempre cheio. Era essa imagem que gostava de manter na hora do ponto final na carreira.