Já arrancaram, oficialmente, as celebrações do Douro – Cidade Europeia do Vinho 2023. O momento inaugural desta distinção que ao longo do ano será o mote para cerca de 600 eventos, foi dado no Pavilhão Multiusos de Lamego no dia 4 de fevereiro.
Centenas de convidados, representantes dos municípios da CIM Douro e outros, instituições, organismos e figuras de destaque na região encheram o espaço para uma noite que foi abrilhantada por homenagens, atuações musicais e a passagem oficial de testemunho ao Douro da distinção, momento que Carlos Silva Santiago, presidente da CIM Douro, fez questão de partilhar com os seus homólogos da Comunidade Intermunicipal.
“O Douro tem no seu ADN o legado de várias gerações de durienses, obreiros desta fabulosa paisagem cultural, de três Patrimónios da Humanidade, que combinam a obra centenária do homem e da natureza, “a oitava maravilha do mundo”, como descreveu José Saramago.
“Nas margens deste rio de oiro, onde “há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo”, esta nossa insigne comunidade intermunicipal tem feito jus a esta nobre herança, dando primazia à partilha, cultivando a união e remando, em conjunto e de forma inquebrantável, o barco rabelo que transporta este património que é de toda a Humanidade, o Douro.
Em seu torno nos congregamos, os 19 municípios detentores desse privilégio. Por ele, enquanto coesa comunidade, porfiadamente pugnamos.
Fazemo-lo porque a História só se constrói com o respeito pela nossa memória. Uma memória bela, que flui na corrente de um Douro que é epifania poética que tantos artistas inspirou: o nosso Douro. Um “rio louco, que abriu caminho em fúria por entre montes gigantes e, obstinado, quis ir ver o mar. E chegou. Cansado, mas chegou”. Chegou ao destino, por ser forte, uno, destemido e guardião de inigualáveis epopeias, como relata Alves Redol.
O nosso Douro, este “prodígio de uma paisagem”, “um excesso de natureza”, como o nosso Torga tão sublimemente descreveu, conhece este ano um dos seus mais elevados tributos: é Cidade Capital Europeia do Vinho. É uma referência em Portugal e na Europa, é a montra de um território notável pelo seu nível civilizacional, pelo seu sentido exportador, atrativo para os jovens e com notável dinâmica turística e económica. É um orgulho que assumimos como missão histórica, certos de estarmos a construir um desígnio desta grande região.
Poderíamos agora, aqui chegados, dar por cumprida a nossa missão, mas ela, tal como as águas que correm até à foz, ainda estão longe de alcançar o Atlântico. E por devermos ao Douro este tributo, ao Douro que nos acolhe, que é a nossa casa e a nossa terra, aqui lhe consignamos este galardão de Cidade Europeia do Vinho, certos de que continuaremos a senda do progresso seguindo a máxima do Mestre Aquilino Ribeiro: Alcança quem não cansa” ”, afirmou Carlos Silva, no discurso inaugural.
No final da cerimónia em declarações exclusivas ao nosso VivaDouro, Francisco Lopes, autarca lamecense, anfitrião desta Gala, afirmava estar “bastante satisfeito com a imagem de união que o Douro transmitiu com esta organização”.
“É um privilégio poder integrar uma região como o Douro com um conjunto de autarcas que estão de facto envolvidos em objetivos comuns como a promoção do nosso território e do nosso vinho.
Este momento de arranque só pode significar um bom augúrio para o trabalho que vamos fazer enquanto Cidade Europeia do Vinho em 2023, nos 19 municípios da Comunidade Intermunicipal do Douro”.
O autarca lamecense acredita ainda que “aquilo que será feito ao longo deste ano irá ter efeitos imediatos e a longo prazo. É uma oportunidade de dar mais visibilidade àquilo que somos como território, àquilo que somos como gente, que sabe receber e, sobretudo, ao Vinho do Porto”.
Durante este momento de afirmação regional, a CIM Douro homenageou, os construtores da paisagem vinhateira e quem contribuiu para o seu desenvolvimento, nomeadamente os antigos primeiros-ministros de Portugal António Guterres, Durão Barroso e Francisco Pinto Balsemão, Miguel Cadilhe e Fernando Bianchi de Aguiar, respetivamente, mentor e coordenador da candidatura do Douro a Património Mundial da Humanidade, uma distinção que se veio a concretizar em 2001 e aos professores e investigadores Nuno Magalhães e Arlete Mendes Faia pela criação do curso de enologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o primeiro do país.
Em palco, a festa contou com a atuação dos artistas Ana Bacalhau, António Zambujo, Pedro Abrunhosa e Miguel Araújo e ainda de grupos da região.
Carrazeda de Ansiães recebeu o primeiro evento do Douro – Cidade Europeia do Vinho
Não obstante o momento inaugural ter acontecido a 4 de fevereiro, o primeiro evento oficial, criado no âmbito da distinção recebida pela região, aconteceu em Carrazeda de Ansiães, o I Encontro Intermunicipal de Cantadores das Janeiras.
O frio intenso que se fazia sentir, sublinhado pelo branco do gelo que teima em permanecer sobre os terrenos menos afortunados pela luz solar, não foi obstáculo para centenas de cantadores e populares acederem ao Largo da Feira.
Ao todo, durante a tarde passaram pelo palco do evento 19 grupos de cantadores de janeiras, cada um representativo de um dos 19 municípios que compõem a CIM Douro.
Para o autarca de Carrazeda de Ansiães, João Gonçalves, receber o primeiro evento oficial desta distinção foi “uma satisfação”, mas, garante, “seria igualmente satisfatório se fosse em qualquer um dos outros dezoito municípios da Comunidade Intermunicipal do Douro. Este tem o simbolismo de ser o primeiro, obviamente que estamos agradados com isso”.
O autarca lembra ainda que “o Douro é isto mesmo, um trabalho conjunto como o que os nossos agricultores fazem há tanto tempo para produzirem os vinhos de excelente qualidade que aqui temos”.
Sendo um evento mais ligado às tradições da região, João Gonçalves acredita que é “demonstrativo da oferta diversificada que temos para oferecer, queremos divulgar o nosso povo, as nossas tradições, dar a conhecer o Douro ao mundo”.
A mesma ideia foi marcada por Carlos Silva, presidente da CIM Douro, que, em declarações ao nosso jornal no evento ao explicar que “a CIM vai escolhendo os municípios em função das atividades, de acordo com aquilo que são os espaços físicos disponíveis e a dinâmica da cultura de cada um para podermos organizar este tipo de eventos. Este é o primeiro. Não interessa, nunca, qual é o local onde ele é realizado. Interessa sim é que o Douro esteja unido em volta de uma atividade de grande dimensão.
Estamos num concelho rural, um concelho do interior profundo de Portugal com muita dinâmica, com boas infraestruturas. Também por isso juntamos aqui esta ruralidade com a dureza da terra, de trabalhar o vinho com o frio de janeiro. É uma afirmação solene daquilo que somos e é isto que queremos afirmar”.
O também autarca de Sernancelhe explicou ainda que estão pensadas “atividades dos mais variados géneros. Cada município vai usar esta distinção como marca nos seus eventos de maior relevância, mas vão também ser criados eventos de raiz, como este Encontro Intermunicipal de Cantadores de Janeiras”, ficando a garantia que em todos esses eventos “a gastronomia e os vinhos irão desempenhar uma papel relevante como representação daquilo que somos”.
“A nível internacional vamos fazer um roadshow pelas principais capitais europeias a promover a programação para este ano mas também a região em si, com os nossos vinhos, para que venham até ao Douro conhecer a fantástica região em que são produzidos. São ações que trazem um retorno imediato mas também a longo prazo e esta é uma oportunidade que não podemos desperdiçar”.