Luís Leucádio é um dos mais recentes agentes económicos do Távora-Varosa, mas nem por isso a sua entrada foi discreta, pautando-se pela irreverência já conhecida dos vinhos Titan, e na qual a nossa equipa de reportagem foi envolvida durante o almoço com o enólogo.
A ligação da região à literatura de Aquilino Ribeiro valeu-lhe o epíteto de Terras do Demo um nome que, não podendo ser usado serviu de inspiração ao enólogo para a criação da sua própria marca, a Deamon.
Em 2018, a aquisição de um pequeno terreno “com uma produção muito fraca” rendeu, logo na primeira vindima “666 garrafas, um número curioso tendo em conta toda a envolvência e que decidimos logo adotar para a nossa referência topo de gama”, explica.
Luís leucádio começa por explicar que a ideia do projeto “não foi entrar com os espumantes, até porque na região já há quem os faça e muito bem, a nossa aposta foi nos vinhos tranquilos porque consideramos que também aqui a região tem uma palavra a dizer, como fica demonstrado na prova destes vinhos”.
O plural não é inusitado, para as entradas é-nos servido um Titan of Távora-Varosa Deamon 2020, um vinho com características muito frescas, mas marcante, que harmonisa na perfeição com as entradas: terrina de abacate com truta, mini covilhetes e croquetes de carnes de caça, um bouquet de paladares que fica na memória.
Para a refeição, com pratos de carne (pato, cabrito e vitela maronesa), Luís Leucádio propôs um Titan of Távora-Varosa Deamon 666, um vinho excecional.
“Este branco entrou diretamente para os melhores do ano com 19 pontos. Por isso a aposta está correta, o importante agora é manter esta consistência e depois avançar para outros vinhos como os rosés ou os tintos, por exemplo”.
A explicação para o nome deste vinho é simples. “Encontramos uma vinha com mais de 100 anos na região e que produz muito pouco, são 0,8 hectares e logo no primeiro ano produzimos um total de 500 litros de vinho que resultaram em 666 garrafas. Pareceu ser obra do diabo por isso ficou ali decidido que seria o nome do vinho, Deamon 666, mantendo também assim uma ligação à região e à sua história”.
Não será fácil conseguir uma destas garrafas, só existem 666 garrafs, tendo cada uma o custo de 666€.
“Conseguimos que o Távora-Varosa, depois de já ter o espumante mais caro do país, da Murganheira, tenha também o vinho branco mais caro do país com este 666, com uma produção muto limitada em comparação com outras regiões.
A região está cheia de vinhas velhas, a uma altitude fantástica que dá para fazer vinhos leves, frescos e equilibrados. Aquilo que tentamos fazer são espumantes sem bolha, mantêm o carácter da região, um lado muito mineral que ganham muito com o estágio, com o tempo”.
De qualquer forma, a entrada no mercado dos espumantes não está posta de lado e o enólogo explica que “todo o espumante começa com um bom vinho, a diferença está depois no estágio e na refermentação que já fazem na garrafa.
Estamos a experimentar diversas metodologias de estágio para depois escolhermos o que mais se adequa ao perfil de espumante que queremos ter”.
Já com experiência na produção de espumantes, Luís Leucádio sabe bem o perfil ideal para um espumante de qualidade como os que são produzidos na região Távora-Varosa. “Pureza e frescura, muito equilibrados em termos analíticos logo na vinha, uma acidez muito alta e ph’s mais baixos para que se obtenha um mosto muito fresco que depois torna mais fácil o processo de vinificação”.
Também na vertente comercial estes vinhos requerem uma atenção especial “são vinhos diferenciados, diferentes dos restantes e que muitas vezes têm dificuldade em serem comercializados por isso mesmo, é preciso conhecer a região e a sua história para perceber os seus vinhos.
Este Deamon 666, por exemplo, não se consegue vender nos EUA porque a imagem os assusta, porque não percebem nem conhecem a região”.
O futuro dos vinhos Titan na região está assegurado, “queremos investir na região e enquanto não tivermos um espaço físico na região não vamos conseguir ter as condições para fazer um espumante de qualidade como pretendemos. Estamos a começar a construção da nossa adega no Douro e depois avançamos para a adega aqui no Távora”.