Entrevista Moimenta da Beira

“Não tomo decisões com pensamento político, tento tomá-las com racionalidade, em prol de todos”

A cumprir o seu primeiro mandato à frente da autarquia de Moimenta da Beira, Paulo Figueiredo garante estar a cumprir grande parte dos objetivos traçados. Com um percurso profissional marcado por passagens em grandes empresas na área da auditoria financeira, o autarca assume mudanças profundas no funcionamento dos serviços municipais.

Ser autarca implica uma dedicação ao cargo que vai muito além das habituais 8h de trabalho, pessoalmente, como é que isto se gere?

Em média um autarca trabalha 16 horas ou mais. Costumo dizer que a vida de autarca não é difícil mas é volumosa e ocupa-nos muito tempo.

Quem fica mais a perder é sem dúvida a família.

Tendo essa consciência, de que forma tenta compensar essa falta de tempo?

Não gosto de acumular assuntos pendentes, no entanto uma casa destas é constantemente sobrecarregada com centenas de assuntos.

Quer via email, mensagens, telefonemas, etc, somos solicitados de todas as formas. O telefone neste momento é o meu maior inimigo.

O que fazer para mudar isto? Sinceramente não sei…

Tenho um compromisso comigo próprio, estou a chegar a 20% do tempo do mandato, vou de férias e no regresso quero mudar algumas coisas nesta casa para que efetivamente possa ter mais tempo para pensar e delinear a estratégia que tenho para o município.

É um presidente com dificuldade em delegar?

Não. Tenho uma equipa muito boa, sabedora e experiente.

Nesta casa há muitos assuntos para tratar e muitas pessoas que nos solicitam para resolver todo o tipo de problemas. Isto também é um problema da nossa população que por vezes pensa que o autarca ou os vereadores têm que resolver tudo.

No interior aquilo que mais privilegio é a proximidade, a amizade, a transparência e o contacto mas não podemos salvar tudo.

Quando digo que temos de mudar alguma coisa é precisamente isso. Infelizmente acho que temos de colocar algumas “barreiras”. Não é criar distância mas as pessoas têm que perceber que, se o assunto é efetivamente importante, cá estaremos para solucionar, se não for não podemos ser incomodados por isso.

Hoje exige-se muita rapidez, hoje não podemos ser lentos, tudo acontece muito rápido.

Conheço a autarquia há muitos anos e temos hoje um grau de exigência muito grande ao nível dos organismos que nos controlam. Neste momento temos que acabar o Portugal 2020, temos a Transferência de Competências que nos ocupou muito tempo, temos o 2030 já em andamento e um PRR que todos os dias tem novidades com candidaturas muitas delas difíceis de elaborar e muito trabalhosas.

Tem que haver rapidez e não podemos perder tempo com coisas menores.

Uma não decisão na obtenção de algum fundo pode prejudicar a autarquia?

Claro que sim. Temos que estar atentos, ser ágeis e perspicazes na tomada de decisões.

Muitas das decisões que um autarca toma no dia a dia nem sempre são do agrado de toda a população. Que peso tem a opinião dos munícipes sobre essa decisão?

Eu quero que os munícipes entendam que, qualquer decisão que eu tome neste cargo é feita com bom senso e senso comum.

Obviamente temos que decidir. A primeira preocupação é estar bem comigo mesmo sobre essa decisão.

Não tomo decisões com pensamento político, tento tomá-las com racionalidade, em prol de todos.

Está a cumprir o seu primeiro mandato, como é que encontrou a casa quando cá chegou?

É uma casa que eu já conhecia, em outras funções.

Essencialmente encontrei a autarquia com alguma passividade, muito fruto de dois anos de pandemia que, quer queiramos quer não, parou tudo.

Há pouco eu falava que hoje em dia é tudo muito rápido e isso aplica-se, por exemplo, ao Portugal 2020. Só neste programa temos cerca de 10 milhões de euros, em 16 candidaturas que estavam estagnadas e eu tive que as colocar em andamento, numa fase muito turbulenta como sabemos, e com um deadline até 30 junho de 2023 para executar tudo.

É exequível?

É. Não podemos falhar. É isso que digo aos meus colaboradores e aos empreiteiros, não podemos falhar, sob pena de perdermos muito dinheiro e de não executarmos aquilo a que nos propusemos.

Para além disso já lançamos projetos novos, houve candidaturas que redirecionamos para outros investimentos e que estão todos a começar agora.

Depois da fase inicial do mandato em que nos inteiramos de tudo, tivemos que colocar as coisas a andar.

Como disse, já conhecia a casa. Aquilo que delineou para este primeiro mandato está a ser cumprido?

Está. Posso afirmar que estou a conseguir em 80%, ou mais, concretizar o objetivo para este ano.

Num concelho iminentemente agrícola, como é toda a região a autarquia tem tido um papel importante no apoio a este setor. Foram já instalados diversos canhões anti granizo, por exemplo, que outras medidas poderão sem implementadas?

A fruticultura, em especial, é um pilar fundamental da nossa economia.

Tendo isso em conta obviamente a autarquia tinha todo o interesse em abraçar este setor para que os nossos produtores não sofram cortes avultados nos seus rendimentos, daí a aposta na instalação dos canhões, que eu quero crer que já trabalharam e já salvaram muita da produção deste ano.

Temos agora a questão da falta de água que terá consequências gravíssimas na qualidade da nossa maçã e isso preocupa-me mas sinto-me impotente para fazer seja o que for.

Sendo a agricultura o pilar mais importante da economia local, e atravessando estes problemas. Pode este ser mais um entrave no objetivo de estancar a perda de população no concelho?

Claro que sim. Se as pessoas têm um rendimento expectável e isso não acontece, então têm que ir à procura, e isso passa pela emigração, quer a nível nacional quer internacional.

Não queremos que isso aconteça mas, se esta seca se prolongar não sei o que fazer, será um cenário cada vez mais comum.

Queremos o interior cada vez mais povoado, sabemos que aqui as pessoas têm qualidade de vida, os salários podem não ser altos mas o rendimento disponível permite ter uma vida tranquila.

Hoje, que vivemos uma fase de retorno daqueles que emigraram, era muito desagradável se voltássemos a assistir ao inverso.

A contar para o aumento da qualidade de vida de quem aqui reside está também o recente protocolo que a autarquia fez com a ESTGL para trazer o Ensino Superior a Moimenta. É importante, como autarca, dar este passo a pensar essencialmente nos mais novos e na forma de os fixar aqui?

Sem dúvida. Sabemos que o Ensino Superior é mobilizador e sabemos o quão importante é ter aqui este polo, ainda que seja no Ensino Superior Profissional.

Queremos muito atrair os jovens e menos jovens que queiram ingressar nestes cursos.

Os cursos disponíveis são os que definimos para este ano, existindo a possibilidade de alargar a oferta formativa nos anos futuros.

Quero muito que este projeto seja um êxito.

Em paralelo temos também já uma candidatura aprovada para umas residências de estudantes, na ordem dos 350 mil euros, permitindo assim que os custos com o alojamento sejam muito baixos, por forma a atrairmos mais gente para a escola.

Com que capacidade?

Até 20 quartos. Já fizemos o investimento numa casa com esse propósito mas há outra que temos em vista e que pode aumentar essa capacidade.

A autarquia apresentou recentemente uma nova imagem. Qual o conceito por trás desta nova imagem?

Na minha candidatura propus que queria uma marca para Moimenta da Beira. Temos diferentes potencialidades como a maçã, o espumante ou a serra, por exemplo, contudo, achei que estar a premiar uma delas em detrimento das outras seria sempre injusto.

Depois de um estudo chegamos a esta ideia, “A força do interior”. Não queremos ser os únicos a ser essa força mas queremos provar que temos essa força, como muitos outros concelhos do interior têm.

Em simultâneo usamos também uma nova imagem com três “M’s” que simbolizam, os monumentos, as montanhas e a maçã, apresentando um formato semelhante ao das eólicas que também temos muitas no nosso concelho.

Tentamos ter alguns inputs que não fosse apenas capital de algo, congregando uma série de forças que Moimenta da Beira tem.

Para terminar, e sendo umas das grandes preocupações no momento, pedimos-lhe que deixe uma mensagem à população relativamente à grave seca que se vive no concelho e na região.

 Estamos efetivamente numa situação gritante em que não podemos desperdiçar uma gota de água. No nosso concelho a água é muito barata, estamos com preços desatualizados há vários anos mas as pessoas têm que regrar o consumo deste bem.

Temos que reduzir ao máximo o desperdício, a água deve ser usada para a alimentação, higiene e para beber. As pessoas não podem gastar água a lavar carros, encher piscinas ou na agricultura. Falamos de água da rede, obviamente.

Ainda há poucos dias fui confrontado com uma situação que nunca imaginei, numa das nossas freguesias, que é a minha, Sever, o riacho secou completamente. É uma situação mesmo dramática.

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