Junto à Aldeia da Lapa, em Sernancelhe, surgiu um projeto inovador que se apresenta como acessível, inclusivo, dinâmico, interativo e saudável. Dá pelo nome de Moinho da Lapa e visa apoiar o investimento em iniciativas de interesse turístico que promovam a coesão económica e social do território.
Maria Frias é a responsável por este projeto que nasceu depois de uma tragédia familiar que a fez repensar no sentido da vida.
“As minhas raízes são daqui, apesar disso sempre vivi em Lisboa e eram poucas as vezes que vinha cá. Tudo mudou quando um dos meus irmãos adoeceu, e faleceu, não podendo cumprir o seu sonho que era vir viver para aqui. Esta situação afetou-me e faz-me refletir sobre o que queria para o futuro.
Acabei por passar a vir mais vezes ao norte até porque as cinzas dele vieram para o jazigo de família e, a verdade é que as palavras dele me fizeram pensar. Depois compramos esta propriedade e quando começamos a limpar o terreno e a trabalhar o projeto achei que seria um espaço demasiado bonito para não partilhar com outros, foi assim que nasceu este projeto, como uma homenagem ao meu irmão”.
O sorriso no rosto de Maria enquanto nos conta esta história é expressivo, no olhar um misto de saudade e alegria por estar a criar um legado familiar num espaço acolhedor, elegante e relaxante.
“Já fazia umas brincadeiras de turismo em Lisboa no âmbito do alojamento local que vendi para investir aqui, a rentabilidade é completamente diferente mas a vida não é feita apenas de dinheiro e também feita de ideais, por isso faz sentido.
Ganhei qualidade de vida, paz de espírito, momentos de tranquilidade, tempo para ler um livro ou passear com os meus cães. Nestes dois últimos anos já tive mais vida social aqui do que em Lisboa, aqui falamos com as pessoas, convivemos com elas, temos tempo, lá as coisas não são assim, a vida da cidade nem sempre nos permite ter esse tempo e essa disponibilidade mental”.
A mudança de vida e os momentos que se ganham são mesmo o aspeto mais referido por Maria Frias para justificar a sua alegria.
“Este ano tive um Natal como nunca tinha tido na minha vida, viemos todos para aqui e vivemos o verdadeiro espírito todos juntos, foi isso que ganhei”.
A vida no interior é diferente da vida em Lisboa. Apesar da ambição de fazer a mudança definitiva para Sernancelhe, Maria ainda divide a sua vida entre este projeto e a sua vida profissional em Lisboa.
“Insistiram para continuar a acompanhar um projeto que tinha em mãos e eu aceitei mas deixei logo o aviso que seria uma função com termo certo, o objetivo é ficar em Sernancelhe de forma permanente daqui a dois anos”.
Esta vontade da empresária está intimamente relacionada com um estilo de vida diferente em que as pessoas interagem entre si de forma tranquila e onde o acesso a serviços e produtos tem que ser pensado e planeado de forma distinta do reboliço citadino.
“Aqui a abordagem é outra, quando vamos às compras temos que programar muito bem a nossa vida, se me esquecer de algo tenho que pensar que estou isolada, por isso tudo tem que ser bem programado mas, depois disso, são muitas as vantagens em estar aqui.
Este projeto também se tem construído com experiências positivas, quando a primeira casa ficou pronta viemos cá passar uns dias durante o mês de agosto, a certa altura aparece aqui uma senhora de trator que nos deixou ficar diversas coisas da sua horta porque sabia que vinha para cá viver e ainda não tinha a minha própria horta, isto é algo que não se paga e que torna tudo isto ainda mais mágico, em Lisboa não conhecemos sequer o vizinho da porta ao lado.
A própria relação com os órgãos de poder como é diferente, em Lisboa mesmo que quisesse acho que o autarca não teria tempo para me receber, aqui o presidente Carlos Silva fez questão de estar comigo, de conhecer o projeto e a autarquia tem sido mesmo uma ótima parceira deste projeto, apoiando em tudo o que tem sido necessário e só tenho a agradecer por isso”.
No Moinho da Lapa, num terreno com mais de 45 mil metros quadrados de área atravessado pelo rio Vouga, o alojamento em casas tradicionais (neste momento com capacidade para doze camas duplas e o objetivo de poder mais tarde receber até 44 pessoas) alia-se à interpretação, contemplação e usufruto da natureza nas suas mais variadas vertentes.
“Quisemos dar um conceito rural com a envolvente da natureza, apostando no requinte no interior das casas e nos pormenores. Os nossos hóspedes não o são, são como família, daí a mesa grande para todos podermos fazer uma refeição juntos, queremos que se sintam confortáveis, em paz, que desfrutem do silêncio e da natureza, e isso só se consegue neste meio. É bom vermos as famílias a desfrutarem do tempo que têm para si, de as ver felizes aqui neste espaço”.
Além disso, este projeto valoriza ainda os recursos endógenos da região e assim nasceu a primeira unidade de alojamento desta aldeia com mais de cinco séculos de história, impondo-se no contexto do turismo cultural e de natureza.
São inúmeras as atividades que os clientes podem experimentar, desde passeios pedestres ou de bicicleta, a observação de aves, canoagem, Ioga ou meditação.
A cultura também é valorizada com a sugestão de atividades como visita à serra da Lapa, ao património religioso e cultural da aldeia, nomeadamente a Rota de Aquilino Ribeiro. Os clientes podem ainda desfrutar de uma piscina exterior na propriedade, bem como de um moinho de água recuperado e de um forno em pedra.