A ministra da agricultura, Maria do Céu Antunes, visitou a região do Douro no passado dia 2 de setembro, uma visita que serviu para conhecer alguns projetos da região e para reunir com os autarcas da CIM Douro que lhe transmitiram as suas preocupações.
Com os trabalhos das vindimas a decorrerem já a bom ritmo, a Ministra da Agricultura iniciou a sua visita à região no concelho de São João da Pesqueira onde teve oportunidade de conhecer a Quinta do Pessegueiro. Após uma visita às instalações de vinificação e armazenamento dos vinhos, acompanhada pelo enólogo João Nicolau de Almeida, Maria do Céu Antunes visitou depois as vinhas da propriedade onde já decorre a vindima, tendo mesmo participado deste momento colhendo algumas uvas.
No final da visita, em declarações à comunicação social, a governante abordou o tema das ajudas ao setor para minimizar os efeitos da pandemia da Covid-19.
“O Douro representa 38% das nossas exportações de vinho, 23% da nossa área de vinha em todo o país e portanto, atendendo à circunstância difícil que se prevê que haja uma quebra de 20% neste setor, nós imediatamente fomos criando condições para disponibilizar ao setor um suporte financeiro para fazer face a estas dificuldades.
Numa primeira fase disponibilizamos 18 milhões de euros para medidas de crise, destilação e armazenamento. Gostava de dizer que a região do Douro está a contratar cerca de 4 milhões de euros, dos 11 milhões que foram utilizados nesta medida, portanto a medida não esgotou. Dos 18 milhões foram utilizados 11, sendo 4 para esta região, isto no que diz respeito aos vinhos DOP e com IG.
Contudo era importante criar medidas também de apoio ao Vinho do Porto, por isso criamos uma medida de Reserva Qualitativa de 5 milhões de euros que vai permitir guardar 10 mil pipas. Estamos a falar diretamente em medidas de crise para esta região de 9 milhões de euros. Sendo certo que este apoio financeiro é parte daquilo que é o prejuízo daquilo que o setor tem mas tivemos em consideração os custos acrescidos que esta região tem por ser uma região de montanha.
Estamos convictos que estas medidas que tomamos, direta e indiretamente ligadas à crise pandémica, têm aqui um efeito positivo. Queremos que esta região continue a crescer em exportações mas também em produção para consumo nacional, e queremos muito que o objetivo que nos propusemos a nível nacional (de atingirmos os 1000 milhões de euros em exportações) continue, melhorando o nosso lugar nos 10 países mais exportadores de vinho no mundo”.
Na mesma intervenção Maria do Céu Antunes aproveitou para falar do programa VITIS. De acordo com a ministra a região do Douro é a que mais fundos deste programa tem utilizado.
“Gostava ainda dizer que no programa VITIS, que não é um programa de apoio à crise, mas que tem sido importante na renovação das nossas vinhas. Aumentamos de 50 milhões, a dotação, para 73,5 milhões, num programa em que o Douro contratou cerca de metade deste montante”.
Questionada pelos jornalistas sobre a quebra de 6 mil pipas no benefício para a campanha deste ano, Maria do Céu Antunes escusou-se a comentar a redução preferindo sublinhar a importância do apoio dado para a criação da Reserva Qualitativa.
“O benefício é calculado e é discutido no Conselho Interprofissional do IVDP. Aquilo que gostava de dizer é que criamos condições para podermos ajudar o setor do Vinho do Porto com 5 milhões para uma Reserva Qualitativa onde 10 mil pipas vão poder ficar reservadas para que se continue a produzir e mais tarde virem a vender este vinho a um preço também igualmente competitivo. É uma medida que nos apraz, de grande relevância para este setor e que juntou tanto o comércio como a produção em torno dela mesma. Estão reunidas as condições para que esta região continue a trabalhar de forma eficaz e cada vez mais preparada para os desafios futuros como nós queremos que se posicione”.
Ao seu lado, o autarca pesqueirense, Manuel Natário Cordeiro, assumindo que o ano tem sido difícil para a região pediu também uma reforma profunda para o Douro sob pena de condenar uma região que do seu ponto de vista tem muito futuro.
“Na verdade existem alguns problemas, não é só aqui mas no mundo inteiro, de qualquer forma os problemas no Douro existem há mais tempo, não são apenas deste ano, apesar de se manifestarem com mais acuidade.
De qualquer forma eu costumo ter sempre um discurso positivo porque é isso mesmo que penso, que o Douro tem futuro. Esta região tem muito futuro agora, é necessária uma reforma profunda, e sei, pelos diversos contactos que já fizemos, que a ministra concorda com isso. O Ministério da Agricultura fez um esforço nesta altura para tentar minimizar aquilo que pode vir a acontecer, de qualquer forma fica essa nota de que o Douro precisa de uma reforma profunda. De uma vez por todas temos deixar de falar de produção e comércio e passar a falar do setor da viticultura porque um precisa do outro e a região só tem futuro nesse sentido”.
Após terminada a visita Maria do Céu Antunes seguiu para o concelho de Santa Marta de Penaguião onde, antes do almoço-reunião com os autarcas da CIM Douro visitou ainda outra adega, ficando a conhecer um pouco mais das diferentes características das sub-regiões do Douro.
Em declarações à comunicação social, o autarca penaguiense, Luís Machado, sublinhou a importância da visita da governante à região para um conhecimento mais aprofundado dos problemas dos durienses junto dos seus autarcas.
O autarca pediu ainda a simplificação dos processos de candidatura aos apoios apresentados pelo governo no combate à crise pandémica, assim como uma união entre diversos ministérios para dar resposta às necessidades da região para que o futuro da mesma não seja colocado em causa pela ausência de medidas e obras estruturantes ao seu desenvolvimento económico-social.
“Esta é uma excelente oportunidade para todos nós de partilharmos com a ministra as preocupações dos nossos munícipes, em especial duas situações, o impacto da pandemia e as medidas que a ministra já anunciou, e ainda a oportunidade de lhe mostrar as especificidades desta região que é a mais antiga do Mundo, tendo já reconhecido isso e que temos de ser tratados de maneira diferente. Não somos melhores que ninguém mas temos que ter um tratamento diferente tendo em conta as características do Douro.
É preciso juntar os diversos ministérios para que se crie condições de futuro nesta região, estou a falar da ferrovia, da rodovia, da Segurança Social, da formação, da fiscalidade, ou seja, que todos se reúnam para que o Douro seja uma região com o futuro que todos aqui acreditamos que tem.
Temos uma grande oportunidade de juntar o nosso produto que é o vinho ao turismo e com parcerias com outras atividades que aqui existem como a maçã, a castanha e a amêndoa, criando uma região forte, com oferta diversificada que crie mais riqueza.
Sabemos que há uma grande procura às medidas que foram apresentadas mas sabemos que somos um país ainda muito burocratizado, há sempre dificuldades nessas candidaturas, o que esperamos é que se consiga um simplex para o Douro tornando estes processos mais acessíveis. Há uma grande expectativa quanto a estas medidas mas ao mesmo tempo muita apreensão e preocupação nos nossos agricultores e alguma desconfiança até porque esta é uma situação nova para todos. Só no final do ano é que iremos ter a verdadeira noção do impacto desta situação nas nossas vidas, neste momento estamos ainda meio sedados pelo entusiamo que as vindimas trazem a esta região mas tememos, eu e os meus colegas, que o impacto venha a ser superior do que aquilo que pensamos”.