Estimados Leitores,
Eleições. Dificilmente conseguiria abordar nesta coluna um outro tema.
O calendário político que temos para um ano é incrível. Parece que os nossos políticos resolveram festejar os 50 anos das primeiras eleições pós-revolução (25 de abril de 1975) com uma oferta de eleições para tudo e para todos.
Este calendário apertado tem apenas um grande culpado conceptual. São as sondagens de opinião.
Há sondagens para todos os gostos e os líderes partidários atribuem-lhes grande valor, especialmente àquelas que lhes são mais favoráveis, pelo que tomam decisões com base em telefonemas de inquirição que são realizados a amostras pouco representativas, apesar de estatisticamente e legalmente corretas.
Se um líder partidário acha que pode ganhar mais representatividade e força partidária realizando antecipadamente eleições, vai fazer tudo o que puder para as provocar. Isto porque governar com minorias obriga a muito esforço e porque estar na oposição durante vários anos como líder é desgastante, provoca oposição interna e potencia a substituição.
E, o mais curioso é que parece que andaram todos a ver sondagens diferentes pois é incrível que, no caso das eleições legislativas, TODOS as tenham querido e desejado como é patente na unanimidade dos votos no conselho de estado em que o Sr. Presidente da Républica se apoiou para tomar a decisão de dissolver o parlamento.
Podemos dizer que são as circunstâncias. Que o governo não queria eleições, mas que foi obrigado a apresentar uma moção de confiança sabendo com toda a certeza que seria reprovada. E que podendo-a retirar até ao último momento antes da votação não o fez. Que os partidos da oposição não queriam eleições, mas que foram obrigados a votar desfavoravelmente a moção de confiança, isto apesar da abstenção que tiveram dias antes no oposto de uma moção de confiança, uma moção de censura.
Confesso que não compreendo nem uns nem outros.
Medir o tamanho das coisas era giro quando eramos putos e ainda não tínhamos a maturidade nem o conhecimento de vida par saber que uma medição circunstancial não é sustentável nem permanente e que a dinâmica das coisas as modifica a elas próprias.
Para políticos maduros, no topo da sua carreira, fazer estas medições pode correr muito mal. Além de que medir o que já foi medido há muito pouco tempo dificilmente vai resultar numa potenciação ou numa diferença significativa.
Mas é muito mais irracional provocar eleições para a oposição do que para o governo. As sondagens, genericamente, dão quedas aos dois principais partidos da oposição em relação aos resultados de março de 2024 e todos os políticos juniores sabem que quem está no poder, se não cometer erros graves, ganha de 5 a 10 por cento durante o período de campanha eleitoral.
Estas duas circunstâncias deveriam ter sido consideradas, especialmente pelos partidos emergentes que tão depressa sobem como descem, pois, a sua sustentabilidade é conseguida por fogachos e fenómenos espontâneos, que não conseguem ganhar tração segura e firme.
Por outro lado, as pessoas estão fartas de eleições e de mudanças permanentes e votam de acordo com o que esperam que cada um venha a fazer.
É esse o trabalho em que os políticos têm de se fixar agora. Explicar o que vão fazer para melhorar a vida das pessoas e procurarem que as pessoas percebam o que acontece quando votam.
E a comunicação social deve seguir o mesmo caminho. Deixar para a redes sociais a espuma da discussão desequilibrada e emocional e passar para o jornalismo profissional e competente que todos queremos ser capazes de fazer.