Passam poucos minutos das sete horas da manhã e a nossa reportagem chega à cidade de Peso da Régua para acompanhar a 16ª edição da Meia Maratona do Douro Vinhateiro.
Com o trânsito já condicionado em algumas artérias e milhares de carros na cidade, encontrar um lugar de estacionamento já não é tarefa fácil mas lá conseguimos, o encontro com Paulo Costa, organizador da prova, está marcado para as sete e trinta junto à estação de comboios da cidade.
A manhã está fresca e as nuvens carregadas no céu parecem ameaçar chuva, nada que intimide os milhares de atletas e caminhantes com quem nos vamos cruzando pelas ruas da cidade.
Ao chegar junto da estação de comboios a azáfama já é muita, um comboio parado na linha 1 vai-se enchendo de participantes na prova enquanto aguarda a ordem de partida em direção à barragem de Bagaúste, ponto de partida d’A Mais Bela Corrida do Mundo.
Entretanto encontramos o Paulo Costa, telemóvel na mão vai andando de um lado para o outro, garantindo que tudo se desenrola como planeado. “Tudo bem Paulo? Nervoso?”, perguntamos. “Não, calmíssimo”, responde com um sorriso irónico enquanto estica à nossa frente uma trémula mão direita.
Continuamos a seguir os seus passos enquanto chega o autocarro para os convidados e atletas profissionais. “Tenho que ir ali à receção do hotel ver se os atletas já saíram todos dos quartos”, diz-nos enquanto caminha a passo acelerado, um percurso que vai sendo interrompido por várias pessoas que o vão cumprimentando, abraçando e desejando que tudo corra em durante a prova.
À chegada à entrada do hotel também já ali estão prontos os dois atletas da Associação Salvador, padrinhos da corrida em cadeira de rodas que tinham dispensado o transporte, mas que entretanto mudaram de ideias. “Está tudo controlado”, diz-lhes Paulo, “já liguei ao Rui (Comandante dos Bombeiros de Peso da Régua) e já aí vem uma equipa para vos ajudar”.
O autocarro que vai levar convidados e atletas profissionais já chegou, são oito da manhã e a voz do Paulo ecoa no lobby do hotel, “bora lá malta, o autocarro que vos vai levar já está ali, podem seguir”.
Regressados à rua aparece Aurora Cunha, a madrinha da prova que vai distribuindo beijinhos e tirando fotografias com todos quantos a solicitam. “Aurora, vais nessa mota para a partida, já lá vamos ter”, diz Paulo enquanto vão passando os autocarros cheios de participantes em direção à barragem. “são 72 autocarros, e fazem mais do que uma viagem, é uma loucura”, responde o organizador à nossa questão sobre o transporte dos atletas.
Ora de um lado, ora de outro da estrada, com o telemóvel encostado ao ouvido ou olhos no ecrã a escrever uma mensagem, Paulo não para.
Ainda não passam trinta minutos das oito da manhã e recebemos ordem de marcha, “vamos, entrem no carro para arrancarmos”. A viagem entre a estação da Régua e a barragem é curta e mais demorada que o esperado por causa das centenas de pessoas que vão caminhando com o mesmo destino. Paulo vai de janela aberta, buzinando incessantemente e pedindo às pessoas que circulem pela faixa da esquerda abrindo caminho não só para o carro, mas também para os autocarros que circulam atrás de nós.
Chegados ao destino o speaker da prova anuncia a sua chegada levando a que milhares o aplaudam. São já milhares os que estão por ali, entre eles muitos convidados que Paulo faz questão de cumprimentar individualmente.
Animação, música e muitos sorrisos, são aquilo que vamos vendo. Durante os próximos minutos é preciso garantir que tudo está pronto para a prova que começa às nove da manhã “acho que vamos ter que adiar um pouco a partida, ainda está muita gente a vir para cá”, diz-nos.
Na linha de partida começam a alinhar os atletas, as cadeiras de rodas serão as primeiras a partir, em seguida os atletas que farão os 21 quilómetros e só depois os caminhantes dos cinco quilómetros.
O speaker anuncia que vai iniciar a contagem decrescente mas antes disso há ainda tempo para Paulo pegar no microfone e, com uma voz emocionada, agradecer a todos a presença desejando uma boa prova a todos. No final do curto discurso sobre a um muro para uma selfie com uma moldura humana impressionante nas suas costas.
A contagem decrescente começa e chegada ao zero é João Paulo Fonseca, autarca de Armamar que dá o tiro de partida para a prova de cadeira de rodas. Após essa partida é preciso esperar breves minutos antes de dar a partida dos atletas da Meia Maratona com o tiro a ser dado pelo autarca reguense, José Manuel Gonçalves.
Com a prova iniciada é agora tempo de arrancarem os milhares de caminhantes. “agora é preciso que passem todos para podermos ir para a chegada”, uma viagem que será feita de carro, por uma estrada pela margem direita do rio, que é interrompida quando Paulo para a fotografar os milhares de participantes que, de t-shirt cor de vinho, vão colorindo a margem esquerda do rio “não há cenário mais bonito que este” diz Paulo quando reentra no carro, claramente emocionado.
De regresso à Régua dirigimo-nos para a meta onde já está tudo preparado para a chegada dos atletas.
Poucos minutos após uma hora de prova o speaker anuncia que está para breve a chegada do primeiro atleta da Meia Maratona, os fotógrafos alinham-se junto à meta e ao fundo surge Rui Teixeira, atleta do Sporting CP que, de braços bem levantados para o céu, festeja a sua terceira vitória nesta prova enquanto Paulo se acerca dele para um emocionado abraço, cena que se vai repetindo com vários atletas na linha de chegada.
Entre tantos abraços um dos mais emocionados é à vencedora da prova feminina, Carla Martinho, os olhos lacrimejantes de ambos recordam Cláudia Calçada, atleta que em 2022 viria a falecer após se sentir mal durante a prova e que este ano foi homenageada com a sua imagem na medalha da prova.
Emoção é mesmo o sentimento mais evidente nos que vão terminando a prova, desde os profissionais aos atletas de lazer, assim que é ultrapassada a linha de meta muitos são os que choram e soltam um “ahhhh!!” quase como que a dizer, consegui.
Ainda nem todos chegaram quando Paulo já começa a organizar os pódios, é preciso certificar que os atletas estão reunidos, bem como os convidados que lhes irão entregar os troféus.
Tudo preparado é o próprio organizador que assume o comando do microfone para ir chamando um por um os atletas vencedores e os convidados, culminando a cerimónia numa fotografia com todos, não sem antes agradecer uma vez mais os apoios recebidos e a participação de mais de 20 mil pessoas na prova.
Antes de darmos o nosso trabalho por terminado vamos despedir-nos do Paulo Costa que, de sorriso nos lábios nos agradece e pede desculpa “pela pouca atenção” que nos deu, sem saber que todos os passos que deu foram observados por nós para escrever esta reportagem.
Em 2024 a Meia Maratona do Douro Vinhateiro irá realizar-se no dia 26 de maio.