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Luís Tão, presidente da Nervir, Associação Empresarial de Vila Real/Foto: Salomé Ferreira[/caption]
Luís Tão encontra-se na presidência da Nervir, Associação Empresarial de Vila Real, desde 2011. Em Conversa com o VivaDouro o dirigente falou acerca dos cinco anos em que se encontra à frente da instituição, bem como quais as expetativas para o futuro da associação e do setor empresarial da região.
Quando tomou posse do cargo em 2011, assumiu que “se avizinhavam grandes dificuldades” a nível empresarial. Nestes quase cinco anos à frente da direção da associação, quais foram os principais desafios por que teve que passar?
Eu disse que vinham tempos difíceis e não era preciso ser muito iluminado para adivinhar as coisas que aí vinham. As eleições foram no fim do mês de maio, Portugal tinha pedido ajuda externa, portanto tínhamos os cofres vazios, não tínhamos hipótese quase de pagar à função pública. Mergulhamos numa crise profunda e eu adivinhei que eram tempos difíceis. Pelo memorando que saia da
Troika percebia-se que os empresários e os empregadores iam ser ainda mais sobrecarregadas e não me enganei. As empresas, nomeadamente as do interior, que são aquelas que eu represento, viveram e ainda vivem tempos complicados. Mas os empresários têm uma resistência especial e acreditam sempre no seu projeto e penso que foi isso que os manteve ainda vivos e a lutar.
O principal desafio foi então combater a crise e ajudar os empresários?
Exatamente. Foi esse o principal objetivo porque em 2012 os empresários perderam os benefícios fiscais. Os empresários dos territórios de baixa densidade tiveram um aumento de 10% de IRC, foi uma coisa muito pouco falada, porque realmente no interior fala-se pouco. Se fosse um aumento de IRC de 10% para as empresas do litoral provavelmente seria um escândalo e nós aguentamos. Que remédio, não havia alternativa.
Nesse período de tempo houve muitos encerramentos de empresas em Vila Real?
Houve, nós em 2012 ou 2013 tivemos uma reversão completa naquilo que era a história, que agora já se deu ao contrário outra vez, em que o número de empresas criadas foi menor do que as empresas que fecharam e isso não contava na história recente empresarial do distrito. Nem consta agora, portanto as empresas não acreditaram que havia alertas para ser empreendedor, mas realmente as condições que se davam e ainda se dão, não são suficientes para as pessoas se atreverem numa aventura destas.
Sente que a associação foi um meio de apoio para as empresas de Vila Real nestes anos mais difíceis?
Eu quero acreditar que sim. Há muito trabalho que a Nervir faz que é invisível aos associados, eu penso que um dos trabalhos mais importantes que aconteceu no meu mandato foi conseguir colocar a Nervir nos órgãos socais de copula, nomeadamente na direção da CIP e na direção AIP, duas das maiores organizações associativas em Portugal. É na CIP que nós conseguimos fazer valer a nossa voz. A defesa dos empresários faz-se aqui na região, lutando com eles, mas é a esses órgão sociais que ela tem que chegar senão não se consegue fazer eco disso. Acho que no meu mandato a estratégia mais importante foi colocar a Nervir nos órgãos sociais de associações nacionais. Nós aqui, por mais alto que falemos, acho que a nossa voz não consegue passar do Douro para baixo.
Na sua opinião, quais foram os setores de atividade mais afetados?
Tanto aqui em Vila Real como a nível nacional, penso que foi a construção civil. Os bancos fecharam o crédito às pessoas, os critérios para emprestar dinheiro eram muito mais exigentes e isso refletiu-se no consumo, nomeadamente na habitação. Havia já um parque habitacional de casas novas bastante grande, a procura diminuiu bastante e as empresas de construção civil pura e simplesmente desfizeram-se. Procuraram mercados alternativos como a Angola e o Brasil, mas a grande maioria abriu falência. Eu acho que foi o dizimar de um ramo que era muito forte.
Sente que ainda não começa a haver recuperação?
Em termos de construção dificilmente vamos voltar a ter o que tínhamos. Há alguma recuperação mas temos muitos apartamentos novos que já estavam construídos. Construção nova não estou a ver grandes edifícios a arrancar. Penso que a construção vai retomar pela renovação de edifícios antigos, nas zonas históricas, com a reabilitação urbana, penso que é por aí a saída. Nunca chegará aos níveis da construção nova que se fazia antes da crise.
O número de associados sofreu alguma alteração nestes últimos anos?
Nós entre 2011 e 2012 sentimos uma quebra de associados, até porque houve associados que cessaram atividade, mas havia quase uma promessa da direção que era aumentar a base associativa. Quantos mais associados tivermos mais conseguimos também ter outra posição. Mas realmente nas associadas da AIP a Nervir, que já tem perto de 400 sócios atualmente, é a 4.ª maior associação. Isso também nos deu alguma estratégia para nos posicionarmos nos órgãos sociais da CIP. O número de associados tem essa importância, diz-nos quanto é que nós valemos. Nos últimos anos temos sempre vindo a aumentar o número de sócios.
Que medidas propõe para o relançamento da atividade económica em geral, e em particular no caso de Vila Real?
Falta atrair investimento. As medidas macroeconómicas, nomeadamente em termos de impostos, isso é a base de decisão de um investimento. Por incrível que pareça há um estudo recente que publica que o que preocupa mais os empresários é a justiça. É o fator que mais impede o investimento e a sua manutenção. Isso é um entrave muito grande, aliado ao nível dos impostos. Nem diria se são elevados ou não, aquilo que nos queixamos mais é a instabilidade fiscal.
A instabilidade política também contribui para essa instabilidade?
Eu penso que sim, eu não diria a instabilidade, é toda esta alternância política. Devia haver dois pilares fundamentais que eu acho que a sociedade devia ter, nomeadamente a educação e a justiça, em que devia haver um acordo a vinte ou trinta anos. São pilares fundamentais da nossa sociedade e que sempre que muda o governo muda tudo.
Qual é o potencial empresarial da região, em especial, ao nível das exportações?
Nós temos dois ou três produtos que têm um potencial enorme. Os vinhos, temos uma zona de produção que nos difere de todo o mundo, é única e tem evoluído muito a produção nos últimos anos, na qualidade, mesmo no tipo de empresas, há muita gente nova no Douro que tem força para ir ao estrangeiro participar em feiras, promover os seus vinhos. A Nervir tem ajudado muito nisso também. Também temos o azeite, os frutos secos como a Castanha, os granitos também são um produto com grande potencial exportador. São áreas de grande potencial e que estão já no mercado internacional com grande força.
A exportação é uma das soluções para reverter a crise nas empresas?
Sim claro, porque se as pessoas perderam poder de compra, o mercado nacional deixou de consumir, tivemos que olhar para o exterior como alternativa. Penso que o mercado Angolano foi um mercado de grande aposta e que agora está em crise, mas também não adivinhávamos isso. Eu como presidente da Nervir tenho acompanhado muito a exportação e o crescendo dos vinhos, estou admirado e confiante porque não imaginava que estávamos neste nível de exportação. A insatisfação dos produtores é muita, queremos sempre mais e temos um produto realmente único e impar.
Quais são os apoios que a Nervir tem para os associados na área da exportação?
A Nervir desenvolveu ao longo da sua existência muitas ferramentas de apoio aos empresários, uma delas é a formação que é fundamental para os empresários. Uma pessoa está sempre a aprender e quanto mais souber mais se consegue proteger e desenvolver o seu negócio. Muitos dos produtores que querem exportar têm dificuldades na língua inglesa, assim é essencial a formação num inglês comercial, ligado à parte dos vinhos, que dado a essa necessidade a Nervir desenvolveu para a ajuda daqueles que necessitavam. Há dificuldade de uma pessoa ir sozinha à China ou a outro país, a Nervir desenvolveu missões empresariais com grupos de empresas. Temos também um evento em que convidamos exportadores de todo o mundo que passam três dias aqui, em que fazem visitas aos expositores de vinho. Os nossos produtores não precisam de sair do território e têm o mundo ali todo. Muitos negócios de exportação nasceram na nossa feira.
Concorda que a internacionalização e a inovação são dois fatores determinantes para o sucesso das empresas?
Nem todas as empresas têm potencial de exportação, há empresas que a atividade é virada unicamente para o mercado nacional. O mercado de exportação tem os seus riscos, tem que se viajar muito, é preciso ter alguém de confiança nos países para que se exporta. A inovação também é um termo muito difícil, mas eu penso que há um potencial muito grande, que se tem desenvolvido no mercado nacional, as novas tecnologias ligadas aos software e que das universidades têm saído trabalhos interessantíssimos, mesmo da UTAD, com produtos com grande potencial não no nosso mercado mas no mundo. Aqui a UTAD forma muita gente com vontade de empreender e eu tenho muita esperança na nova geração.
No que diz respeito ao novo Quadro Comunitário, de que forma é que os apoios podem ser importantes para a região?
A negociação do novo Quadro Comunitário tirou algum poder às associações e deu algum poder às Comunidades Intermunicipais, ou seja, tirou dos privados para dar aos políticos. É um Quadro que tarda a entrar, tem muitas ações que têm sido adiadas consecutivamente. Quando se desenha um Quadro Comunitário em que os territórios de baixa densidade têm que ser privilegiados em relação às regiões que já quase atingiram o grau de desenvolvimento e quando se verifica passado algum tempo que o dinheiro efetivamente não chega alguma coisa está mal. O desenho do Quadro Comunitário não se tem adequado aquilo que as empresas do interior precisam.
Considera então que este Quadro Comunitário não vai servir para atenuar as assimetrias existentes entre o interior e o litoral?
Não, se continuar assim não. As nossas empresas têm especificidades diferentes das empresas do litoral, portanto as expetativas estão a ser muito más em relação a este Quadro Comunitário.
Qual é o principal motivo que leva as empresas a apostar no interior do país?
Eu acho que há uma grande ligação das pessoas à terra e isso é que as leva a ficar e investir. Há uma certa paixão por esta terra e leva-nos a investir aqui.
Quais são as grandes prioridades que tem neste momento para a associação?
O meu principal objetivo é aumentar sempre a base associativa. Temos que dar motivos aos sócios para que se identifiquem connosco e é isso que temos feito. Temos que continuar a dar-lhes razões para que eles se associem, e nos deem força para continuarmos. Penso que esta é a maior batalha que eu tenho até ao fim do mandato, que é o último, porque a Nervir tem limitação de mandatos.
Qual é o balanço que faz até ao momento do tempo que esteve na direção?
Faço um balanço positivo. Eu tive que olhar para a associação em termos de posicionamento politico, foi isso que eu fiz, foi bem conseguido. Portanto não há história sequer em nenhuma associação do interior que tenha lugar numa direção da CIP e na direção da AIP, ao mesmo tempo. Ter conseguido isso dá-me um certo orgulho de me terem aceite e terem visto que eu seria também uma mais-valia.
Quer deixar uma mensagem para os empresários da região?
Quero deixar principalmente para os empresários que nestes últimos anos têm acreditado. Os empresários acreditam sempre mais. Eles são os grandes responsáveis pela manutenção do emprego em Portugal. Eu admiro a capacidade que eles tiveram em aguentar o impacto e continuarem a tentar criar riqueza num mercado interno adverso. Tivemos muitas dificuldades mas continuamos a acreditar e a manter os postos de trabalho. “Juntos somos mais fortes”, é uma frase banal mas é uma frase que explica bem o sentimento que as associações têm. Eu deixava o desafio de se associarem, juntos somos mais fortes e se tivermos uma associação forte de certeza que os problemas deles em vez de serem falados apenas na mesa do café poderão ser levados a outro nível.