Estimados Leitores,
Poucas pessoas associam o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que é celebrado a 10 de Junho todos os anos ao longínquo ano de 1580, data da morte de Luís Vaz de Camões e ao Anjo Custódio de Portugal. Este é também o dia da língua portuguesa, dos cidadãos e das Forças Armadas.
As comemorações deste dia são organizadas pelos serviços da Presidência da República, sendo, portanto, um dos momentos de maior visibilidade publica do Presidente da República e um momento em que todos os políticos de Portugal, especialmente aqueles que têm responsabilidades governamentais dizem presente nas cerimónias oficiais.
Não se estranha que o Presidente da República aproveite a ocasião para procurar promover Portugal, fazendo-o de uma forma muito inteligente, procurando que as comemorações tenham impacto externo e interno.
É por isso que no ano em que a região do Douro é a Cidade Europeia do Vinho a escolha da Régua como ponto principal das comemorações tem vários sentidos, bem como também o têm as metáforas utilizadas no discurso do Presidente, que conseguiu que Portugal inteiro e especialmente que a comunicação social baseada na longínqua capital procurasse avidamente saber o que é uma “poda” e como se faz para “podar”.
A atenção que a comunicação social dos órgãos de informação nacionais dedica aos problemas da interioridade e aos problemas da efetiva desertificação dos territórios deprimidos do interior a que chamam carinhosamente “territórios de baixa densidade” como se a densidade fosse o único fator a ter em conta no que toca ao desenvolvimento humano e à qualidade de vida das pessoas e como se estes territórios estejam condenados à densidade que quem governa acha que têm é muito próxima de zero.
Por isso, iniciativas como as comemorações do 10 de Junho no interior de Portugal são de saudar e de aplaudir, mesmo quando as podas são o assunto principal e o que devia ser o essencial acaba por não ser o centro principal das atenções.
Sim, porque apesar do vinho do Douro, apesar das Amêndoas do Douro, apesar das Castanhas do Douro, apesar do Azeite do Douro, apesar do Turismo do Douro e apesar de todos os fantásticos fatores endógenos de desenvolvimento, este só é possível se os fundos existentes forem de facto canalizados e dirigidos para os investimentos que fazem potenciar o interior e para aqueles que permitem estabelecer industrias, instalar agricultores, desenvolver a transformação dos produtos e acrescentar valor áquilo que é natural e bom.
Para isso, além das podas que se perceberam, é preciso cuidar das outras podas. É preciso que o estado desenvolva muito mais os sistemas administrativos e de controlo para que sejam ágeis e rápidos. É preciso que o desenho dos projetos e dos concursos de apoio sejam pensados pela região e para a região. É preciso que a sua aprovação ou decisão seja rápida, eficiente e justa. É preciso que os promotores façam a sua parte, investindo conforme prometeram. É preciso que o estado saiba monitorizar e controlar o que está a ser feito e se está adequado aos objetivos. E é preciso saber encerrar devidamente os projetos.
O que é raro acontecer. Porque é normal olharmos para avisos de abertura que foram desenhados para realidades completamente diferentes e que não são aplicáveis na nossa região. Porque é normal os promotores estarem mais de um ano após a submissão à espera de respostas. Porque é normal que os investimentos a fazer sejam diferentes passados anos do planeamento original e é normal a total incompreensão dos serviços pelas alterações necessárias.
E é normal planear-se pouco dinheiro para os avisos que são muito concorridos. Ou seja onde se poderia investir com garantias. E não.