No Caminho dos Vinhos do Távora-Varosa

Júlio Pedrosa e Paulo Jesus (Casa de Vinhago): Uma química familiar no Távora-Varosa

Depois de uma primeira visita a S. Cosmado em Armamar na edição anterior, este mês continuamos na mesma freguesia, desta feita para uma visita à Casa de Vinhago, propriedade do ex-Ministro da Educação Júlio Pedrosa, acompanhado pelo filho Paulo Jesus, ambos formados em química e com paixão pelos vinhos e pela região Távora Varosa.

A propriedade está na família há já algumas décadas, “pertencia ao meu avô paterno” conta Paulo, uma ideia que o pai complementa dizendo que o sogro “já aqui fazia vinhos excelentes e eu decidi então plantar um hectare de uvas tintas”, depois continua Júlio Pedrosa, “este rapaz também se entusiasmou pelos vinhos e avisou-me logo que um hectare de vinha não dava para nada”.

A ideia inicial de Paulo era avançar desde logo para a produção de espumantes mas o pai confessa que contrariou essa ideia “porque é um processo mais complicado e longo”, além disso o avô “fazia grandes vinhos tranquilos”, por isso o projeto acabou por, numa primeira fase, “criar uma gama de vinhos tranquilos”.

Entretanto o projeto foi amadurecendo e crescendo, neste momento são cerca de 10 hectares de vinha plantada, até que mais recentemente a Casa de Vinhago decidiu “entrar no mercado dos espumantes, facilitada pela excelente relação que existe com as Caves Murganheira que ajuda especialmente na fase final do degorgement”, explica Júlio Pedrosa.

“Quando os meus pais começaram a pensar na reforma, decidimos iniciar a construção da casa neste terreno. As vinhas já estavam abandonadas há alguns anos e decidimos iniciar a sua reconversão na mesma altura. Desde a pandemia que esta é a morada principal deles, passam aqui mais de 70% do ano”.

Paulo lembra que quando o projeto teve início, já a região estava muito dedicada aos espumantes, o que dificultou um pouco o processo de definição do perfil dos vinhos tranquilos na região, uma questão que para o produtor se deve “ao número reduzido de operadores”, uma situação que, afirma “o atual presidente da CVR tem vindo a tentar mudar, atraindo mais investidores para o território”.

Paulo explica que, ao contrário do Douro, “nesta região as maturações são mais tardias, normalmente as nossas vindimas de tintos terminam a meados de outubro, o que obriga a ter castas mais resistentes ao clima que encontramos nessa época, daí a nossa aposta na Touriga Nacional. É uma casta que aguenta bem as primeiras chuvas”.

Na perspetiva de Paulo Jesus, esta é “uma aposta ganha” até porque, explica, “as alterações climáticas, apesar de negativas, são benéficas para regiões como esta porque nos dão maturações mais equilibradas”.

A entrada nos espumantes “esteve sempre na mente do projeto”, até porque é um produto “de excelência na região, para mim são mesmo os melhores do país”, afirma Paulo.

A primeira experiência foi em 2019, apenas com uvas brancas, e em 2020 produziram uma segunda base para espumante “com o objetivo de guardar durante mais tempo”, o que acabou por não acontecer porque esgotamos o de 2019 em 2 ou 3 meses tivemos que acelerar o processo e vamos agora lançar para o mercado o 2020”.

Tal como acontece na região, o método de produção de espumantes na Casa de Vinhago respeita o método tradicional e o estágio mínimo em cave de 12 meses.

“A próxima fase agora é fazermos a cave para estágio”, conta Júlio Pedrosa. Este será um momento especial para o desenvolvimento do projeto que pai e filho têm na região, “vai-nos permitir aumentar a capacidade de produção e armazenamento”.

Atualmente, em venda a Casa de Vinhago tem no mercado um vinho rosé, dois brancos (um blend e um Sauvignon Blanc), dois tintos (um Colheita Selecionada e um Reserva monocasta Touriga Nacional), e um espumante. Para breve está também um Reserva branco e uma segunda referência de espumante que deverá ser um Super Reserva ou superior, o que exige mais de 24 meses de cave.

Para a comercialização destes vinhos são usadas duas marcas, a Casa de Vinhago e o Poiesis, uma designação ligada à vida profissional de Júlio Pedrosa. É uma palavra grega que significa criatividade prática e que faz parte do lema da Universidade de Aveiro, onde o ex-Ministro foi reitor. Uma marca que é utilizada “nos vinhos com perfil mais fora da caixa”, explica Paulo.

Pai e filho defendem que a região precisa agora de mais marketing para se dar a conhecer “porque os vinhos e espumantes de qualidade têm que se dar a conhecer para que os apreciadores nos descubram”.

Apesar de estar já a exportar, para China, Alemanha e Dinamarca, o futuro do projeto passar por aumentar a produção, passando das cerca de 20 mil garrafas atuais para as 80 a 100 mil, com o mercado nacional na mira.

Desafiado pela nossa equipa, Paulo Jesus define o espumante que produz como “extra bruto, gastronómico, muito fresco, com acidez e frescura como o habitual na região e com alguma complexidade. São também vinhos com muita longevidade, sejam os tranquilos ou os espumantes, típicos vinhos de montanha”.

No futuro está também no projeto a reconversão das vinhas em modo de produção biológica, “o que trará um maior valor para os nossos vinhos e espumantes”, afirma Paulo.

Daqui a 10 anos Paulo imagina “uma empresa já autónoma, com recursos e maquinaria e uma equipa a trabalhar a tempo inteiro, esse é o objetivo”, conclui.

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