Editorial

julho 2024

Estimados Leitores,

Os preços dos produtos agrícolas pagos aos agricultores são uma muito pequena percentagem dos preços de venda nas grandes superfícies e, no caso especial do vinho, para os agricultores sem marcas e que entregam as uvas aos grandes armazenistas ou nas cooperativas têm sido mesmo muito baixos.

No caso da maior parte dos produtos frutícolas, quando não há o chapéu de uma marca que seja reconhecida pelos consumidores e quando a estratégia dos agricultores é o dinheiro fácil, imediato e muitas vezes informal dos intermediários em vez de procurarem contribuir para a construção de produtos valorizados pela sua qualidade, pela marca que ostentam e pelas regiões onde os produtos são mais reconhecidos pelas suas características específicas, dificilmente se poderá vir a falar de valorização.

Isto porque a valorização, quando é feita por alguns em sacrifício próprio para valorizar os produtos dos outros, que acaba por ser uma estratégia completamente altruísta, pode até ser sustentável no curto prazo mas dificilmente o será no longo prazo, pois os agricultores conscientes do valor dos seus produtos não podem estar sempre a pagar a conta dos outros agricultores que vendem de qualquer maneira em cada ano sujeitando-se ao preço de compra dos intermediários que, muitas vezes, trabalham de forma coordenada para que os preços não subam.

Infelizmente já se viu diversos esforços de grande dimensão e com grande esforço de dinheiros públicos para criar imagem de marca para um dado produto de uma região ou com características próprias que aparentemente resultam muito bem nos primeiros tempos mas que, quando os agricultores espertos percebem que a valorização já atingida lhes permite ganhos imediatos fora do processo definido são os primeiros a furar as regras e a vender os produtos de forma irregular. Como exemplo poderia dar o do vinho verde, ou da pera rocha ou da maça de alcobaça ou até da cereja do fundão, marcas em que houve investimento colossal e nas quais as entidades gestoras têm dificuldade em assegurar que os produtos são certificados e validados em termos de qualidade, havendo por aí muitos destes produtos cujo circuito comercial não é certificado.

Passei das uvas para as peras, maças e cerejas de propósito. Porque o grande problema da região do Douro, dos preços muito baixos para os agricultores, só tem solução se se respeitarem as regras e se se impedir a comercialização como vinho do porto ou do douro de vinho produzido com uvas com origem noutras regiões ou países. Mas a valorização só é viável se houver uma estratégia de marketing e comercial que permita a valorização dos vinhos do douro e do vinho do Porto junto dos consumidores. Porque enquanto o preço de uma garrafa de vinho do Porto for metade do preço de qualquer licor corrente ou a um quarto do preço de um qualquer gin martelado e houver bilhões e bilhões de litros de vinho corrente nos stocks não será possível esta valorização. E a valorização das marcas guarda chuva não é um tema interessante para as grandes casas nem para as grandes adegas, pois a valorização do vinho dessas entidades já foi conseguida e mais vale ficar o vinho em stock e depois ser vendido como velho, reserva ou outro fator distintivo que faz subir a sério a sua valorização do que promover o consumo e a venda de vinho corrente, seja ele vinho de mesa ou do Porto.

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