Entrevista Sociedade Vila Real

José Laranjo: “Em termos de produção de castanha Portugal é grande a nível europeu”

[caption id="attachment_1027" align="alignleft" width="300"]Laranjo, presidente da associação e Cândido Henriques, coordenador técnico da RefCast/ Foto: Salomé Ferreira José Laranjo, presidente da associação e Cândido Henriques, coordenador técnico da RefCast/ Foto: Salomé Ferreira[/caption] Formada oficialmente enquanto associação em fevereiro de 2013, a RefCast, Associação Portuguesa da Castanha, propõe-se a dar coerência ao setor da castanha em Portugal. O Vivadouro esteve à conversa com José Laranjo, presidente da associação e docente na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, acerca desta área da fruticultura a nível nacional e europeu. Como é que surgiu este gosto pela castanha? Sempre esteve ligado ao setor? Não, curiosamente sou de Viana do Castelo, uma zona em que quase não há castanha. Este gosto começou através do meu estágio integrado na licenciatura de Engenharia Agronómica, na UTAD. Fui falar com o coordenador, o professor Torres Pereira e ele propôs-me um estágio na área da castanha, no ano de 1987. Aceitei e a partir daí não parou mais o envolvimento com esta área, todos os meus trabalhos de investigação foram baseados no castanheiro. A RefCast tem-me ajudado a crescer muito enquanto investigador no conhecimento da castanha. É uma coisa que faço com gosto e quando as coisas são feitas com gosto e dedicação consegue-se conciliar tudo. Em que contexto é que surgiu a Refcast? Surgiu no contexto de se sentir a necessidade por parte do setor de se organizar. É uma estratégia de bottom-up, cresceu de baixo para cima, impulsionada a partir de uma parceria da UTAD, com a Espaço Visual e com a Arborea. A ideia inicial era a de um projeto para o reforço da castanha no concelho de Vinhais, a partir daí não parámos de fazer crescer este grupo, alargou à Terra Fria e a vários outros concelhos de Trás-os-Montes. O projeto foi crescendo e atingiu dimensão nacional, com um forte envolvimento também das instituições de Ensino Superior, designadamente o Instituto Politécnico de Bragança e a UTAD que esteve na sua génese. Foram-se ganhando laços e isso tem ajudado muito a dar substância a esta associação para ser aquilo que ela hoje é. [caption id="attachment_1030" align="alignleft" width="300"]José Laranjo, presidente da RefCast, Associação Portuguesa da Castanha José Laranjo, presidente da RefCast, Associação Portuguesa da Castanha[/caption] Esse apoio por parte das instituições foi importante para vocês? Este apoio foi de facto importante, formou-se aqui um Cluster essencial porque juntou  organizações de toda a fileira, não só do setor da produção e da indústria mas também da investigação e esta proximidade entre todos ajudou a dar coesão e tem ajudado a que o setor vá crescendo de uma forma bastante mais organizada do que aquilo que estava. Quais são os principais objetivos da RefCast? Desde logo dar coerência à fileira, pôr a fileira a falar numa só voz. Quando somos pequenos, se não formos organizados ainda mais pequenos nos tornamos. Na verdade esta organização tem a missão de reforçar a fileira através de um maior desenvolvimento em termos de informação e de conhecimento, para isso também estão aqui as instituições de ensino superior. Eu entendo que é bom para o setor ter as instituições de investigação ao pé mas também é muito bom para as instituições estarem em estreita colaboração com o setor. Temos a aprender uns com os outros e é desta interação que saem mais e melhores projetos, mais focados naquilo que são as verdadeiras fragilidades do setor. Outro papel muito importante nesta adesão é a sua integração também por parte dos municípios porque entendemos que estas entidades têm aqui um papel muito grande na credibilização da nossa mensagem junto das populações rurais, que é ai que queremos verdadeiramente chegar. Como é que chegam aos pequenos produtores? A ideia de chegarmos aos pequenos produtores é através das associações de produtores que são nossas associadas, portanto há aqui uma cadeia de transferência de informação. Nós temos a noção que não podemos chegar a todos os produtores, embora tenhamos as portas abertas aos que quiserem de facto estar connosco na associação. Quais são as principais fragilidades do setor da castanha a nível nacional? Podemos dividi-las em duas partes: as fragilidades ao nível da produção e as fragilidades ao nível da valorização do produto. Ao nível da produção aponto as pragas e as doenças, entre elas o cancro, a doença da tinta e agora mais recentemente a praga das Vespas do Castanheiro. Tudo isto representa fortes ameaças para o Castanheiro, mas diria também que as alterações climáticas são responsáveis por uma parte do impacto destes problemas, ao fragilizarem a árvore, tornando-a menos resistente e portanto mais sensível a estas doenças. O castanheiro tem um modelo de produção bastante tradicional, ainda com poucos tratamentos, e isso torna a cultura muito sujeita às condicionantes do meio e às doenças. Há muito trabalho a fazer na parte da investigação, ajudar esta espécie a defender-se melhor das agressões do meio ambiente. Depois há a necessidade do setor crescer ao nível da produção. O modelo de produção do castanheiro é ainda muito tradicional e precisa de ser melhorado e a partir daí com certeza que o nível de produtividade vai também melhorar. A baixa produtividade é portanto uma das fragilidades neste momento. Realizaram recentemente um Encontro Europeu sobre a Castanha, todos estes problemas foram lá debatidos? Que soluções foram encontradas? Sim, todos estes problemas foram lá debatidos e este encontro europeu tem uma coisa que na minha opinião o diferencia dos congressos, que são mais de natureza científica. O Encontro Europeu tem outra missão, são encontros de natureza técnico-profissional em que o objetivo e a grande motivação é a análise da fileira do ponto de vista técnico. Os países participantes  foram convidados a testemunhar as suas experiências em termos de mercado. O mercado Europeu da Castanha enfrenta neste momento enormes desafios, porque não tem castanha em quantidade suficiente mas a indústria precisa de castanha. A Europa não tem castanha mas o resto do mundo tem, portanto há aqui um desafio muito grande no sentido de adequar as necessidades e as ofertas de um lado e do outro, olhando de facto aos interesses de toda a fileira europeia, desde a produção à indústria. Estes encontros são cada vez mais a afirmação do setor a nível europeu e estamos convencidos que a solução passa por aqui, cada vez mais o setor europeu conversar, procurar os pontos de contacto, unir-se, ser coerente, porque isto vai-lhe dar força para de uma forma concertada junto dos governos nacionais e da União Europeia fazermos força para que o setor da castanha não seja esquecido. Comparativamente com outros países Europeus, em que patamar está a produção em Portugal? É maior ou menor? Há um país, que não é da União Europeia, que se salienta e que se sobressai na produção, a Turquia, que também participou neste encontro. Com as últimas estatísticas apresentadas por este país, estamos a falar de cerca de 60 mil toneladas. Em Portugal, segundo estatísticas da RefCast, nós podemos estar a falar de uma produção na ordem das 50 toneladas, atendendo aos problemas que Itália teve com a Vespa, Portugal talvez seja o maior produtor europeu de castanha depois da Turquia. O que espelha bem a importância do setor em Portugal no contexto europeu. A seguir a Portugal temos a Itália com uma produção que neste momento pode estar ligeiramente a baixo da portuguesa e depois bastante distanciado entre 20/25 mil toneladas temos a França, com 25/30 mil toneladas eventualmente 40, temos a Espanha. Mas de facto em termos de produção de castanha Portugal é grande a nível europeu. Considera que Portugal tem potencial para crescer mais dentro do setor? Há potencial para crescer mais 10.000 hectares, esse é o nosso objetivo através do programa Mais Castanha, de facto este é um setor onde Portugal é grande e tem vindo a afirmar-se na Europa entre os grandes produtores de castanha. A região Norte de Portugal aposta mais na produção da castanha do que o Sul? O norte aposta mais porque tem condições climáticas para apostar mais, o castanheiro é uma cultura muito seletiva e o habitat destas culturas são as regiões de média e alta montanha do interior, centro e norte do país. Embora o litoral também tenha potencial para a cultura do castanheiro e isso está-se a observar cada vez mais no Minho, já há mais gente a plantar castanheiro. Relevava ainda o contributo desta espécie como um fator de coesão territorial nos territórios de baixa densidade de média e alta montanha. Cada vez se fala mais destas questões dos territórios de baixa densidade e queria dizer que nós temos aqui uma solução, apõem a castanha, o setor tem dinâmica, tem dado provas.  O setor aguarda com ansiedade, com enorme expetativa que hajam mecanismo de ajudas para facilitar o sistema de candidaturas para novas áreas de castanheiro em Portugal. O que é que espera para o futuro do setor a nível nacional? O futuro é crescimento e é cada vez mais a afirmação desta espécie como um fator de coesão territorial. Neste momento são os próprios emigrantes que começam a olhar para os soutos de outra maneira. A castanha terá cada vez mais um contributo importante para o equilíbrio da balança das transações correntes da agricultura portuguesa, designadamente da fruticultura. Tudo isto vai trazer desenvolvimento e inovação na cultura e vai levar de encontro aquilo que está no nosso nome: “Reforço da Cultura do Castanheiro em Portugal”. Quais são os projetos que têm para o futuro da RefCast? Desde logo temos uma grande missão pela frente, a nossa sustentabilidade financeira. Tudo aquilo que está feito é graças à enorme disponibilidade dos seus associados. Primeiro eram apenas um grupo de amigos que se juntavam à volta de uma mesa para discutir castanha com paixão, depois foram parceiros e agora são associados. Já percebemos que temos de crescer para conseguir ter uma estabilidade financeira que nos permita ter um corpo técnico, ainda que reduzido, como o temos atualmente e que nos permitiu perceber a importância de ter um corpo técnico para nos apoiar. Esse é o nosso primeiro grande desafio, crescer para ter sustentabilidade. Depois em termos de outros desafios, queremos ajudar a crescer ainda mais a fileira da castanha. Outro das grandes metas, a curto prazo, é a resolução do problema das Vespas das Galhas do Castanheiro.

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