Futuro das cooperativas passa pelo associativismo e interligação entre si
O VivaDouro esteve à conversa com António Camilo, presidente da Cooperativa Agrícola de S. João da Pesqueira e com o presidente João Ferreira, presidente da cooperativa de Penela da Beira. Na opinião dos dirigentes o futuro das cooperativas passa por mais associativismo entre si.
[caption id="attachment_1374" align="alignleft" width="300"] António Camilo, presidente da Cooperativa Agrícola de São João da Pesqueira/ Foto: Salomé Ferreira[/caption]
Em que contexto surgiu a Cooperativa Agrícola de S. João da Pesqueira?
Surgiu da necessidade de os agricultores terem um lugar onde transformar as uvas, para não estarem dependentes de terceiros.
Quais são os vossos principais objetivos?
São transformar e tentar vender com melhor preço o produto e manter os pagamentos em dia aos agricultores, isso é fundamental.
Quais são as principais vantagens encontradas por os agricultores ao trabalharem com cooperativas?
Se os agricultores transformassem independentemente faziam concorrência uns aos outros. Quando se criaram as cooperativas foi para não ficarem dependentes do comércio, este foi o principal objetivo das cooperativas.
Tem havido uma evolução no número de sócios ao longo dos anos?
No que diz respeito à Adega Cooperativa da Pesqueira nós temos tido equilíbrio numa coisa que é fundamental, os pagamentos. Por isso é que não houve grandes desequilíbrios. Não temos felizmente oscilações de saída de agricultores, o que temos é algum condicionamento na entrada de viticultores. Quem vem tem ficado e há alguns que querem entrar. Mantemos aqui algum equilíbrio.
Que tipos de vinho produzem mais?
Em termos de produção aqui fazemos metade Porto, cerca de 55% e o resto é vinho DOC Douro tinto, não temos branco. As uvas brancas representam apenas cerca de 2% da produção, porque as pessoas apostaram muito nos tintos devido ao Vinho do Porto. O Vinho do Porto vendemos todo aos exportadores, o Vinho de Mesa vendemos algum no mercado e a granel, não temos mercado suficiente para tanto vinho e isso obriga-nos a vender a granel.
No que diz respeito à produção dos últimos três anos, qual foi a quantidade de produtos produzida? E o valor?
Nós aqui andamos sempre na ordem de produção de três milhões de quilos por ano, essa é geralmente a média. Em termos de volume de vendas já rondou para cima dos cinco milhões de euros mas neste momento isso já não acontece porque os preços também caíram. Atualmente as vendas situam-se à volta dos quatro milhões de euros.
Sentiram o efeito da crise nestes últimos anos? Houve uma quebra nas vendas?
Claro que sim. Há muita concorrência, sobretudo o vinho espanhol. Há alguns operadores portugueses que preferem usar o vinho de lá porque ganham mais dinheiro, as produções na Espanha têm um custo muito mais baixo, é tudo mecanizado. As cooperativas fazem um esforço enorme para se manter, porque se fechassem as portas o agricultor desistia de ser agricultor.
Há algum motivo para ainda não terem apostado na exportação?
É um processo que fica caro e demora tempo. Já tentámos isso em coisas pequenas, mas não temos dimensão suficiente para exportar. Não temos volume de produto, penso que as cooperativas se deviam juntar num bloco só para terem capacidade de venda. Eu acredito que o futuro dos viticultores está no associativismo.
Qual é a maior dificuldade que a cooperativa sente neste momento?
Para já não temos grandes constrangimentos. O que gostávamos realmente era que os vinhos fossem mais valorizados para pagarmos melhor aos agricultores. Mas isso não depende só de nós, nem do mercado, até porque quem dita as regras não é quem consome mas sim quem está no meio. Quem dita os preços não é quem produz é quem vende.
O que é que espera em relação ao futuro da cooperativa?
Espero um futuro muito bom (risos). Temos que ser positivos. Pretendemos apostar mais nos jovens, os mais novos têm outra maneira de estar, estão melhor preparados e têm o futuro à frente. Como estão melhor preparados têm todas as condições para melhorar ainda mais, aqui pode estar o futuro deles se quiserem e trabalharem por isso. Portanto eu acredito nas novas gerações que podem potenciar isto, não tenho dúvidas disso. Eu acredito no futuro da cooperativa.