A reunião que ontem decorreu ontem, no Museu do Douro, na cidade de Peso da Régua, definiu o benefício para a vindima deste ano nas 90 mil pipas, um quantitativo definido sem acordo entre produção e comércio.
No final da reunião, que se prolongou por mais de três horas, António Filipe, Vice-Presidente pelo setor do comércio lamentou não ter sido possível “chegar a um acordo” assumindo contudo o “resultado democrático” da votação.
“O valor que tínhamos proposto de 85 mil pipas resultou da ponderação do cenário macroeconómico, das tendências do mercado, presentes e futuras, também da quantidade de stocks que o comércio tem, mas sobretudo, das intenções de compra dos nossos associados e que apontam para uma redução relevante relativamente ao ano anterior”
António Filipe garantiu ainda que as empresas exportadoras irão procurar “com todas as forças, encontrar maneiras de ultrapassar esta situação, que é manifestamente muito difícil, em particular para os lavradores da Região Demarcada do Douro”.
Pelo lado da produção, o Vice-Presidente do Conselho Interprofissional, Rui Paredes assumiu que este foi “o resultado possível”.
“Os viticultores não conseguem suportar a manutenção de um preço desde 2020 (cerca de mil euros por pipa). Há uma perda de centenas de milhões de euros durante os últimos anos e, por isso, a produção decidiu chegar às 90 mil pipas. É aquilo que é possível, sabemos que corremos sempre um risco, porque não há um regulador no mercado”.
O Vice-Presidente da produção lamentou ainda que a região, apesar do seu rico património, surge nas últimas posições na tabelas de rendimento per capita do país.
“O Douro é uma região riquíssima, que tem um património fantástico, com duas denominações de origem e um turismo a crescer exponencialmente, mas não consegue que o rendimento chegue às pessoas”, um resultado que segundo o mesmo provoca uma “erosão de jovens” e consequente envelhecimento da região.
Gilberto Igrejas, Presidente do IVDP, no final da reunião fez uma breve declaração à imprensa onde explicou que as 90 mil pipas que ficaram estabelecidas resultaram de uma tentativa de aproximação que não coincidiu com as das duas profissões” resultando numa “necessidade de ajuste dos valores iniciais, por forma a tentar minimizar o prejuízo dos agricultores num ano muito difícil”.
O Presidente do organismo que regula a produção vínica na região duriense remeteu mais esclarecimentos para um comunicado que foi enviado às redações ao final da tarde onde o instituto público explica uma vez mais que o resultado foi o possível, levantando ainda o véu sobre outras decisões tomadas e que pretendem minimizar o seu impacto.
“A quantidade de benefício estabelecido para a vindima de 2024 resulta de um grande esforço de negociação entre a produção e o comércio. As propostas iniciais estavam muito separadas para um acordo quanto às quantidades pretendidas. Houve uma posição que permitiu que o valor não sofresse uma queda mais acentuada, espelhando a evolução negativa das vendas, mas que evoluiu positivamente e defendeu o objetivo principal da diminuição do impacto socioeconómico na região e a valorização do Vinho do Porto.
É de salientar que, num processo não fechado, e antecipando dificuldades acrescidas pela complexa situação atual, o Conselho Interprofissional do IVDP, IP tem vindo, em grupos de trabalho sectoriais, a desenvolver análises e a propor medidas para minimizar o efeito do decréscimo mundial do consumo de vinho, prejudicado também pelas campanhas anti álcool que vão surgindo.
Destaque, desde logo, para a conclusão da revisão do Estatuto das Denominações de Origem Protegidas (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP), propondo um novo diploma para discussão e aprovação.
Foi também clarificada a utilização da designação Vinhas Velhas, no sentido de valorizar a sua utilização e proteger o património genético da região.
Por outro lado, a região foi pioneira ao alterar, para baixo, a regulação do rendimento por hectare para a vindima de 2024, com o objetivo de gerir a oferta e valorizar a uva.
Esta decisão foi ainda acompanhada de uma medida complementar, visando o maior controlo na entrada de vinhos a granel oriundos do exterior da região”.
Viticultores organizaram protesto
Com a reunião marcada há cerca de uma semana, um grupo de viticultores, na sua maioria da freguesia de Ervedosa do Douro, no concelho de São João da Pesqueira, freguesia com a maior produção de vinho do Porto em toda a região demarcada, deslocaram-se até à cidade de Pesa da Régua para protestarem contra o anunciado corte no benefício.
Manuel Fernandes, Presidente da Junta de Freguesia local e organizador do protesto, afirmou que os viticultores “estão preocupados com a situação que está cada vez pior”, acusando o poder político de “só olhar para Lisboa, o resto do país é paisagem”, chegando mesmo a afirmar que na região já “há viticultores a passar fome”.
Entre os protestantes, eram vários os que pediam “mais respeito” pelo seu trabalho, chegando mesmo a exigir a demissão do presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, acusando-o de não ouvir as preocupações dos viticultores.