Educação Destaque Reportagem

Douro atinge números históricos de alunos a ingressar no ensino superior

São quase três mil o número de novos alunos que este ano ingressa no ensino superior nas duas instituições do território CIM Douro, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego, estabelecendo assim um novo recorde de ingressos.

Com um número tão elevado de novos alunos há desafios que se colocam às instituições e ao território, que se pretende afirmar cada vez mais.

UTAD assinala “ano histórico”

Na UTAD o Reitor, Emídio Gomes, afirma que este é ”O” ano da universidade, no total a instituição preencheu 94,5% das vagas disponíveis para a 1ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES) 2022/23, o que corresponde a 1539 novos estudantes colocados. Os resultados foram divulgados hoje, 11 de setembro, pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES).

Comparativamente com o ano passado, os números agora alcançados representam um crescimento de 10% face a 2021, cifrando-se como o melhor resultado de sempre da academia transmontana.

Das 36 ofertas formativas de 1º ciclo disponibilizados pela academia transmontana, 28 cursos ficaram com as vagas totalmente esgotadas nesta 1ª fase. Engenharia Informática, Ciências do Desporto, Enfermagem e Medicina Veterinária são os que registaram maior número de alunos. Medicina Veterinária (171,5 valores), Psicologia (164,0) e Gestão (160,5) estão no “top 3” dos cursos com a classificação média de entrada mais elevada deste ano.

Para o responsável máximo da UTAD, estes resultados transmitem “um misto de satisfação e preocupação”, pelos números em si e pelos desafios que os mesmos trazem para a academia e o território.

“Satisfação por termos conseguido o melhor resultado de sempre da universidade, em especial quando percebemos que quase 1600 nos colocam como a primeira das suas opções, e sabemos que em Trás-os-Montes e Alto Douro não temos esta massa humana no 12º ano.

De preocupação por dois motivos, porque significa um acréscimo de responsabilidade, e para nós nos tornarmos um destino universitário sólido e com futuro temos muito trabalho pela frente. Um trabalho que é de tanta mais responsabilidade quanto maior é o número de famílias que nos confiam a educação dos seus filhos.

E por outro lado um pequeno sinal de preocupação, não tanto na engenharia civil que atravessa um período de menor procura que é geral no país todo, e que face ao número de vagas pré estabelecidas na licenciatura, temos alguma dificuldade, mas sobretudo na tristeza que vejo num curso que temos em parceria com a Universidade do Porto, Florestal, que teve uma procura tão baixa quando o país está tão necessitado destes técnicos.

Isto significa muito provavelmente que a carga negativa que durante o verão inteiro passamos aos nossos jovens, de manhã à noite, na fase em que se vão candidatar ao ensino superior, em que basicamente que a fileira para a qual eles poderiam estudar é uma coisa que arde, quando é muito mais do que isso, é uma fileira com inúmeras atividades e aliciantes.

Quando digo preocupação é no sentido de motivação, para trabalhar ainda mais e não desistir.

Em síntese, enorme satisfação pelos resultados, sentido de responsabilidade porque nos falta ainda muito trabalho para nos consolidarmos como um destino universitário prestigiado e com futuro, e esta pequena nota de preocupação numa área temática muito importante para uma parte do território mais ligado à componente florestal e que nos motiva a trabalhar ainda mais para superar no futuro”, explica Emídio Gomes.

O mesmo sentimento de satisfação pelos resultados é partilhado por Maria Ferreira, Presidente da Associação Académica que se confessa um pouco surpreendida com os números.

[caption id="attachment_30581" align="alignright" width="696"]Douro atinge números históricos de alunos a ingressar no ensino superior Maria Ferreira - Presidente AAUTAD[/caption]

“É um resultado muito positivo. Não era um resultado que estivesse à espera, aliás, este ano era difícil dizer o que esperar porque é muito atípico, estamos a entrar numa crise e faltava perceber a vontade dos alunos em prosseguir estudos para o ensino universitário mas penso que isso hoje é praticamente obrigatório.

Tivemos muitos alunos a escolherem a UTAD como primeira opção, é significado que o nome da UTAD começa a figurar entre as melhores universidades do país perante os alunos”.

ESTGL também bate recorde

Satisfação e recorde são palavras que este ano também entram no discurso de Miguel Mota, Diretor da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego (ESTGL), que viu aumentar significativamente o número de novos alunos na instituição.

“2022-2023, para a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego (ESTGL), foi um ano recorde no que diz respeito à admissão de novos alunos.

Pelo Concurso Geral de Acesso tivemos 108 colocados, nas licenciaturas, e nos restantes regimes mais 36 novos alunos. Nas outras ofertas formativas tivemos, nos cursos CTeSP, 124 colocados, outro recorde, e estamos ainda a aguardar a seriação dos candidatos para mestrados, sendo previsível que tenhamos 3 mestrados em funcionamento, o que significará mais 45 alunos. Ou seja, quase 300 novos alunos na nossa Escola”.

[caption id="attachment_30582" align="alignright" width="696"]Douro atinge números históricos de alunos a ingressar no ensino superior Miguel Mota - Diretor ESTGL[/caption]

Para o diretor da instituição estes resultados são fruto de uma adaptação da ESTGL à realidade do território que a rodeia, aos cursos CTEsP, e a uma divulgação próxima dos potenciais novos alunos na sua área de ação.

“Fizemos um trabalho muito grande de divulgação desde maio. Visitamos praticamente todos os agrupamentos escolares da faixa de Cinfães até Foz Côa que designamos como sendo a nossa área de ação, porque somos o ensino politécnico de referência desta região. Resultado dessa prospeção, iniciamos este ano a licenciatura em Gestão Comercial, que teve logo metade das vagas preenchidas na primeira fase.

O que tentamos transmitir aos pais e aos responsáveis dos agrupamentos passa pela vantagem que podem ter ao ingressar na modalidade que temos que são o CTeSP’S, que nos permite moldar os alunos e ter mais oferta formativa porque nas licenciaturas estamos também limitados quanto ao número que podemos abrir.

A aposta este ano, além dos cursos tradicionais que continuamos a ter, passa por novos cursos na área tecnológica, principalmente direcionados para a área dos CTeSP’s, com um curso que já tinha sido inovação no ano transato ligado à Softinsa, de TPSI (Técnicos de Programação de Sistemas de Informação), e um curso novo este ano com a Deloite que também encheu a turma seriada. É um curso que tem a curiosidade de ser um projeto misto onde os alunos seriados estão a trabalhar e estudar ao mesmo tempo em projetos da empresa.

Esta aposta não acontece apenas em Lamego, pelo que vamos constatando, regiões muito parecidas com a nossa têm feito uma abordagem aos grandes players do mercado tecnológico. Suponho que esse foi um ponto chave para o aumento de alunos, bem como a resposta positiva que demos à proposta do Governo e do Instituto Politécnico de Viseu, na chamada descentralização, ou seja, a procura de levarmos o ensino às nossas gentes e aos nossos territórios.

Este ano iniciamos em dois concelhos, Moimenta da Beira e Sernancelhe, e temos já para o próximo ano aprovado um novo curso que esperamos abrir em São Pedro do Sul. Nos dois primeiros concelhos conseguimos abrir dois CTeSP’s em cada um, que estão completamente cheios”.

[caption id="attachment_30583" align="alignleft" width="696"]Douro atinge números históricos de alunos a ingressar no ensino superior Bruno Gomes - Presidente AE-ESTGL[/caption]

Bruno Gomes, presidente da Associação de Estudantes da ESTGL está também satisfeito com os resultados alcançados, afirmando que “é uma grande honra e um orgulho enorme ver tantos alunos a escolherem a ESTGL para prosseguirem os seus estudos académicos.

A nível institucional são números recorde, reflexo do trabalho que a Escola tem feito nos últimos anos, em especial sob a direção do professor Miguel Mota que tem feito um trabalho exemplar à frente da instituição”.

Para o responsável académico, “esta chegada de tantos novos alunos trará também novas dinâmicas para a cidade tornando-a mais viva, com mais jovens, e é isso que Lamego precisa”.

Alojamento preocupa responsáveis

Com o início de um novo ano letivo surge novamente a questão do alojamento para os estudantes universitários que chegam à região.

Os quartos são escassos e a elevada procura faz os valores aumentar também eles para valores recorde, “em Vila Real nenhum estudante consegue alugar um quarto por menos de 150 euros, sem despesas incluídas”, afirma Maria Ferreira, presidente da AAUTAD, concluindo que “se este aumento continuar nos próximos anos não é só a universidade que terá de se adaptar e crescer, mas também a cidade em si”.

A dirigente académica conta que esta “é uma das primeiras questões que, quer os pais quer os novos alunos, colocam quando chegam para efetuar a matrícula, depois vêm as questões sobre as bolsas, transportes, entre outras curiosidades”.

Para Maria Ferreira este ano requer uma atenção maior por parte da Associação perante os seus pares, o aumento dos custos pode levar a situações de abandono do curso.

“Com todos os preços a aumentar e as bolsas não, certamente teremos que ficar atentos ao longo do ano a algum caso de maior dificuldade que surja de forma a evitar que esses alunos abandonem a universidade.

Temos a nossa plataforma SOS Estudante que os alunos podem usar em qualquer altura para nos exporem a sua situação, temos ainda algum dinheiro que reunimos durante a pandemia com a ajuda de quem podia, vamos criar um armário solidário em que o aluno que precise pode ir lá buscar roupa para usar”.

Douro atinge números históricos de alunos a ingressar no ensino superior

Preocupações semelhantes tem o reitor Emídio Gomes que, apesar disso acredita que uma nova dinâmica territorial possa trazer novas soluções e com ela uma nova realidade para a universidade e a região.

“A UTAD, e a sua envolvente citadina, que é mais que apenas o território de Vila Real, tem que se constituir como um destino universitário com futuro.

Estamos a trabalhar com esse objetivo, ainda recentemente foram assinados os contratos das novas residências da universidade. Vamos triplicar a oferta de camas do lado da UTAD, no prazo de dois anos, sabemos que na cidade há muitos investimentos em curso por parte dos promotores privados. É normal que exista, entre uma universidade que está a crescer tanto e a envolvente que tenta acompanhar, possa existir um ou outro desajustamento que, em parceria com a autarquia, ou as autarquias, podemos ir minimizando.

A curto médio prazo temos que ser um destino universitário também conhecido pelas excelentes condições de alojamento que vamos proporcionar aos estudantes. Daí que diga, mais responsabilidade e, sobretudo, a consciência que há ainda muito trabalho por fazer.

A rede de transportes públicos está a ganhar uma dinâmica que não tinha antes e vejo, não em massa, mas franjas dos nossos estudantes prefiram viver em Vila Pouca, na Régua ou em Sabrosa, por exemplo, acredito que isso vá acontecer naturalmente.

Por esta razão é que eu falo da UTAD e da envolvente citadina como um novo destino universitário. Isto não é a Universidade de Vila Real, é uma universidade em Trás-os-Montes e Alto Douro, é assim que a vejo.

A nossa articulação com o município de Vila Real é fundamental mas isto é claramente uma universidade que ultrapassa os limites do concelho”.

Em Lamego, os problemas não passam apenas pela falta de alojamento para os estudantes, mas também pela falta  de espaço que a Escola já sente para albergar tantos alunos durante o período de aulas.

“Estes resultados são muito positivos, mas trazem algumas preocupações, desde logo a falta de espaço para lecionar e a questão do alojamento, tal como acontece em todo o país.

Sabemos que estão já planeadas para Lamego uma residência e outra para Moimenta da Beira, para poder apoiar o projeto de descentralização que já referi, porque não pretendemos ficar por aqui mas aumentar a nossa oferta naquelas regiões.

Quanto ao crescimento físico da Escola é algo que temos vindo a discutir com o município e o Instituto Politécnico de Viseu, a nossa casa mãe. Acreditamos que em breve esta situação possa estar resolvida para dar as melhores condições aos nossos alunos”.

Testemunhos novos alunos

UTAD

Douro atinge números históricos de alunos a ingressar no ensino superiorMariana Gaspar (curso de Reabilitação Psicomotora) e Rui Gaspar (pai)

Sou natural de Armamar e a UTAD é muito próxima, também tenho cá a minha irmã a estudar e gosto muito do ambiente da universidade

Tive psicologia no secundário e gostei muito do que aprendemos sobre esta área. Depois pesquisei um pouco mais, ouvi podcast dedicados ao tema e falei com algumas pessoas, ponderado tudo isso acho que fiz a escolha certa de curso.

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É uma mistura, de orgulho por um lado, mas também de alguma saudade que já se vai sentindo, vou ficar com a casa vazia, tenho uma filha a terminar e outra a iniciar.

Sempre dei liberdade de escolher o curso e a universidade que queriam, é obvio que as tentei orientar de alguma forma e, conhecendo a UTAD, sei que é uma das boas universidades do nosso país por isso tenho a certeza que a escolha foi bem feita e estão bem entregues.

ESTGL

Diana Dias (curso de Serviço Social) e Pedro Dias (pai)

Escolhi a ESTGL por ser uma escola que está bem conceituada, que está muito ligada à região e que nos oferece uma boa variedade de áreas de estudo. Estar próxima de Resende, de onde sou natural, também é uma mais valia, tal como já conhecer alguns dos colegas com quem vou estar, funcionários e professores porque já fiz aqui o CTEsP.

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É um orgulho muito grande, para mim e para toda a família. É complicado quando eles saem de casa, apesar dela já ter estado aqui no ano passado é sempre difícil. A irmã mais nova é que sofre mais um bocadinho, cada vez que a Diana sai de casa ela começa logo a chorar de saudades.

Ficar nesta Escola é uma vantagem porque já é um lugar familiar para ela e para nós, tendo ainda a vantagem de ser próxima de Resende, de onde somos.

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