Estimados Leitores,
Tinha planeado dedicar este editorial a desejar a todos os leitos dos nossos jornais uma muito feliz época de Festas, um Bom Natal e próspero Ano Novo.
Mas um amigo contou-me um episódio que me aparece fazer sentido partilhar com os nossos leitores. Este amigo é empresário industrial e está a estabelecer-se nos Estados Unidos, numa terra do seu interior profundo que, segundo os cálculos feitos, é o melhor sítio para chegar aos seus principais mercados e ter boas cadeias de fornecimento para o processo industrial da sua fábrica.
Quando decidiram a localização pensaram se, sendo esta num território de baixa densidade, não faria sentido procurarem apoios, até porque vão criaras postos de trabalho e vão ajudar a desenvolver a terra onde se vão instalar. Foram falar com as autoridades locais (equivalente aos nossos municípios) e foram falar com o governo estadual (equivalente às nossas comissões de coordenação regionais). Explicaram o que queriam fazer, onde, os planos, o plano de construção e de negócio.
Estas autoridades pediram-lhes para escrever uma carta a explicar tudo o que tinham explicado nas reuniões e que explicitasse os apoios que precisavam e como achavam que os governos municipais e do estado podiam ajudar.
Este meu amigo escreveu a carta, duas páginas, e enviou-a pelo correio.
Duas semanas depois tinha resposta positiva do governo estadual para o que tinha pedido e pouco tempo depois a mesma coisa do município. Cerca de um mês após a primeira conversa, tenho o acordo de princípio e pode iniciar a construção, sabendo quais os apoios que existem e o que vai receber desses apoios.
Quando este meu amigo me perguntou o que aconteceria se fosse ao contrário, ou seja um qualquer cidadão americano a querer investir em Portugal e a querer saber quais os apoios a que poderia concorrer, confesso que nem sabia bem o que lhe responder.
Primeiro teria de conseguir marcar reuniões com as pessoas certas, provavelmente o presidente da Camara Municipal e os técnicos superiores das CCDR, todas pessoas muito ocupadas e cuja agenda tem que ser libertada para falar com o americano investidor. Se se dirigisse aos muitos gabinetes de apoio ao empreendedorismo, receberia informação como constituir a empresa e quais as inúmeras obrigações fiscais e contabilísticas que teria de cumprir. Seria ainda levado para os sites e plataformas dos sistemas de apoio ao investimento produtivo, onde poderia vir a depositar um projeto de investimento.
Para o fazer teria de recorrer a um consultor ou a uma empresa pois para quem nunca viu as plataformas de gestão dos projetos e de gestão dos incentivos são muito sui generis. Teria de esperar que abrisse um aviso com o qual o seu projeto fosse compatível. Teria de elaborar um plano de negócios que cobrisse todos os aspetos do investimento. Teria de partilhar informação confidencial sobre o seu know how e sobre o seu modo de operar com os técnicos dos gabinetes, consultores, etc. Finalmente, cinco meses após a primeira conversa teria um projeto submetido. E só depois disso é que poderia fazer qualquer investimento pois se fizesse fosse o que fosse antes de depositar o projeto perderia o direito a todo o possível incentivo.
Depois de depositado o projeto, teria de aguardar a decisão para saber com o que contar. Há casos e há casos, mas pode demorar de 6 a 12 meses.
Daqui por dois anos o nosso empresário americano estaria a começar a construção, depois de mais alguns meses a lutar com a burocracia do município, para ver o seu projeto de arquitetura aprovado e pronto para avançar.
Percebem porque a Europa não é competitiva?