Portugal é caracterizado climaticamente por uma significativa variabilidade intra e interanual. Contudo, os anos mais recentes têm sido particularmente quentes e secos. A título de exemplo e de acordo com dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (ipma.pt), o ano hidrológico 2021/2022 (outubro-setembro) correspondeu somente a 33% do valor médio anual (normal climatológica) de precipitação acumulada. Este foi aliás o 3º ano hidrológico mais seco desde 1931 (anteriormente o número de estações sobre as quais há valores normais era diminuta). E estas condições têm-se prolongado em 2023, com praticamente todo o território continental, no final de maio, em seca meteorológica, com o Sudoeste Alentejano e o Algarve nas classes severa ou extrema, do índice meteorológico de seca (PDSI, Palmer Drought Severity Index).
As condições de elevada demanda atmosférica e reduzida disponibilidade hídrica no solo potenciam elevados stresses abióticos (hídrico, térmico e radiativo) com impactos negativos para a agricultura, característica da seca agrícola. Acresce que os cenários futuros de modelos climáticos apontam para um aumento da temperatura e redução da precipitação para as próximas décadas em Portugal continental, o que intensificará problemas de escassez de água. Neste sentido, projetos de investigação como o “Clim4Vitis” foram desenvolvidos por investigadores do CITAB/UTAD.
Note-se que estas condições de seca promovem a desertificação, uma vez que um solo sem ou escassa cobertura vegetal está mais sujeito a processos erosivos (incêndios florestais/rurais acentuam este efeito) e diminuição da fertilidade (ex., menores teores de matéria orgânica), promovendo um processo contínuo de degradação dos ecossistemas (com impactos negativos aos níveis do sequestro de carbono e biota do solo). Realce-se que Portugal tem uma baixa área de solos (maioritariamente pouco férteis e delgados) com aptidão agrícola elevada, acentuando a premência na sua conservação. Condições ambientais mais severas e de degradação do solo limitarão certamente o desenvolvimento e crescimento de espécies vegetais (e por consequência de espécies animais), podendo inclusive redefinir a aptidão das áreas agrícolas atuais.
De forma a colmatar as necessidades hídricas (urbanas e agrícolas) é frequente recorrer-se diretamente aos lençóis freáticos através de captações de água subterrânea. Tais práticas e consumos associados a eventos de seca acentuada e prolongada levantam questões de sustentabilidade ambiental, social e económica, particularmente em regiões de clima Mediterrânico. No que à agricultura diz respeito, esta problemática é de particular relevância. Exige-se uma crescente aposta na eficiência da gestão da água ao nível do uso (enquadrou-se neste âmbito o projeto “VitisHidri”, por exemplo) e da qualidade complementada com aproveitamento de águas pluviais e residuais, bem como a implementação de técnicas de conservação e recuperação do solo (como utilização de enrelvamento e de biocarvão, como é o caso do projeto “AgriFood XXI”).
Estas medidas têm que ser enquadradas numa gestão integrada (holística) dos recursos naturais e do ordenamento do território, acompanhadas pela consciencialização ambiental, social e política.