Entrevista

“Desde o início sempre fui um presidente muito próximo das pessoas”

Valdemar Pereira cumpre o último mandato à frente da autarquia de Tarouca. Na conversa com o VivaDouro fez o balanço do seu trabalho à frente da autarquia, perspetivando ainda o que falta fazer em prol do seu concelho.

Ser autarca implica uma dedicação ao cargo que vai muito além das habituais 8h de trabalho, quem é que fica a perder por se dedicar tanto à causa pública?

Quando nos propomos a vir para este lugar já temos consciência, mais ou menos, daquilo que vai acontecer. Fui presidente de junta e isso já me dava mais ou menos noção do que ia acontecer.

Como autarcas, em especial em meios tão pequenos como o nosso, não temos horários, temos uma afetividade muito grande com as nossas gentes, tratamos quase todos pelo nome, temos o gabinete aberto a toda a hora, quem quiser entra logo, não precisa de estar à espera, desde que eu não esteja em reunião.

Por isso, a nossa vida torna-se realmente muito difícil, durante o fim de semana temos sempre atividades, com as diversas instituições, (associações, IPSS, etc), e se há coisa que valorizamos muito é as associações. O associativismo é muito importante naquilo que é a dinâmica dos povos e do nosso concelho. Automaticamente é quase obrigatória a nossa presença.

Aquilo que eu tento é conjugar as coisas, para não falhar muito à família. Desde a primeira hora que programo tudo muito bem. Se estiver que estar com os meus netos hoje ou amanhã, tenho que programar para estar com eles porque é uma obrigação também como avô. E isso eu faço.

Tenho também uma boa vantagem, quando vou aos eventos das instituições, normalmente a minha esposa acompanha-me, assim também passamos esse tempo juntos.

Viemos para aqui para dar o nosso melhor.

Aqui falamos com as pessoas, por vezes trazem-nos o seu problema que é algo simples de resolver, se resolvermos, foi a melhor obra que lhes fizemos. Basta às vezes deslocar um funcionário para resolver a situação.

Sendo muitas vezes de fácil resolução para a autarquia, para os fregueses é de uma enorme importância?

Para eles era aquilo que eles queriam. Não queriam mais nada. Então, só este gesto da nossa parte é importante, nota-se isso claramente na forma como nos abordam depois, como nos agradecem.

Desde o início sempre fui um presidente muito próximo das pessoas. Se for convidado vou a um aniversário, a um batizado, ou a um casamento. A todas as festas populares. Estou sempre com as pessoas.

Como também gosto muito de tocar música, toquei órgão durante 35 anos no convento de Ferreirim, e toco viola, dá aqui uma margem muito grande às vezes para estar a conviver com a minha gente. Partilho esse momento e sinto-me muito bem.

Isso é um prazer?

É um prazer. Para além de ser um trabalho, um trabalho à sociedade, é um prazer que tenho.

O facto de a esposa o acompanhar, para ela não é, como que vulgarmente se diz, "uma seca", ela vai com gosto?

Não, ela vai com gosto. Ela sempre me acompanhou, fui diretor do rancho folclórico de Ferreirim, e ela sempre me acompanhou no rancho. Tal como as minhas filhas.

Hoje já faz isso com gosto, ela própria já gosta de socializar. Gosta de estar com as pessoas, e sentimo-nos muito bem a fazer isto.

Falou na esposa, ela ajuda-o a tomar as grandes decisões? Partilha isso em casa?

Não costumo misturar aquilo que é institucional com aquilo que é familiar. Até porque não a quero preocupar com as questões mais políticas, assumo essas decisões para mim, mesmo que por vezes não sejam as mais corretas e, se assim for, temos de ter pelo menos a humildade de reconhecer que podemos mudar.

É importante sabermos que estar na política também é isso.

Se perceber que errou, altera a decisão?

Sim. Mudar é um sentido de humildade.

Desde o início sempre fui um presidente muito próximo das pessoas

Partimos agora para o seu último mandato, que legado é que gostava de deixar às pessoas de Tarouca?

Aquilo que quero continuar a fazer é melhorar cada dia a qualidade de vida das pessoas. Foi algo que, desde o início do meu mandato, quis fazer. As pessoas precisam de nós, precisam de nós em qualquer momento.

Tarouca é um concelho, em termos turísticos, muito importante, temos edifícios classificados, como a igreja de São João de Tarouca, de Salzedas, a Ponte Fortificada do Ucanha, etc. Queremos continuar a dinamizar este setor e, para isso, fomos também criando diversos espaços de lazer como o Parque Ribeirinho que é já hoje uma atração não só para as pessoas de Tarouca como para todos aqueles que nos visitam.

Para mim, a obra mais importante que falta finalizar, é a Área Empresarial. Um espaço onde os empresários se sintam bem em instalar as suas empresas para criarem postos de trabalho, tão importantes em concelhos do interior como o nosso.

Temos aqui poucos serviços públicos, temos que criar condições para atrair empresas para aqui.

A área empresarial é sem dúvida aquilo que eu mais quero deixar para os anos vindouros. É isso que quero deixar ficar. É um projeto que já está mais ou menos com uma dinâmica bastante avançada. Já vendemos praticamente 8 ou 9 lotes.

Já temos uma empresa que se está a instalar, e vamos ter outras com certeza, que se vão fixar aqui. Isto é aquilo que mais importa no nosso concelho, é dinâmica empresarial. Porque se queremos emprego temos de ter empresas. Se não for assim, não estamos bem. Nem Tarouca, nem os concelhos vizinhos.

É um projeto que não depende de dinheiro de exteriores? O município tem dinheiro para essa empreitada?

O projeto teve apoio comunitário, na primeira fase. Mas a primeira fase, como já vendemos os lotes todos, já está concluída e já seguimos para a expansão da área empresarial, isso já tem que ser o município a fazer. Mas que vai correr bem com certeza.

E há capacidade para isso?

Temos que ter, para isso temos que ter. Se queremos dar às nossas gentes emprego e dinâmica empresarial, então temos ao lado deles.

As decisões que vai tomando no seu dia-a-dia, e são muitas naturalmente, nem todas são do agrado da população. Consegue lidar bem com isso?

Por vezes tomamos decisões que podem não ser do agrado de todos mas, como já referi, temos que tentar conciliar vontades, para que agrade ao mais largo número de pessoas possível.

Quando nos apresentamos a eleições apresentamos o nosso projeto, de acordo com aquilo que achamos que falta no nosso município, e as pessoas têm a oportunidade de se pronunciar. Mediante aquilo que é a pronuncia da maioria, nós também sabemos o que vai de encontro à vontade das pessoas.

É um presidente que ausculta a população?

Precisamente. Aliás, falo com as pessoas todos os dias, convivo com elas todos os dias, partilho os momentos da minha vida com elas, automaticamente vou ouvindo o que é necessário numa ou noutra freguesia, porque nem todas são iguais. Vamos de encontro aquilo que é a necessidade de cada um.

Os dois anos de pandemia foram muito difíceis para nós precisamente por essa falta de contacto, de diálogo para tomar as decisões mais corretas. O estado falava e nós tínhamos as nossa gentes e instituições todos os dias a vir ter connosco. Por vezes a decisão que tomávamos era na hora, tinha de ser na hora! Dávamos conta que nem sempre era a melhor. Temos que ser sinceros, nem sempre era a melhor. Mas também nós não conhecíamos a realidade da situação, porque aquilo apanhou-nos de surpresa.

Mas isso fica mais fácil num concelho com a dimensão de Tarouca, a comparar com Braga, Guimarães, ou Porto, por exemplo?

Precisamente, cada concelho tem a sua realidade. Se não dá para reunir o presidente da câmara ou 20 instituições, faz 5 de cada vez. Nós aqui foi isso que fizemos, a proximidade também nos facilita isso.

Temos gente muito boa à frente de todas as instituições, que nos ajudam nessas situações, e depois a resolvê-las. O importante também é resolvê-las, não é só decidir. Sinceramente fiquei bastante comovido, diversas vezes, da forma como as nossas gentes atuaram nesta pandemia.

Foram tempos difíceis?

Muito difíceis, foram tempos muito difíceis. Estávamos aqui todo o dia, e a toda a hora gente a chamar-nos, nem sempre sabíamos o que fazer e, muitas vezes, íamos para casa sem saber se a decisão que tínhamos tomado era a mais correta.

Agora, numa avaliação à distância, acho que a maioria das decisões foram bem tomadas.

Deixando agora um pouco de lado a pandemia, vivemos outro momento difícil com a guerra na Ucrânia que levou a uma vaga de refugiados. Alguns desses refugiados foram instalados aqui em Tarouca, como é que está esse processo?

Já estávamos com algumas dificuldades uma vez que estávamos a sair de uma pandemia, quando pensávamos que ia ficar tudo bem, veio esta guerra.

Com esta guerra, e pensando mais no nosso concelho, aquilo que mais me preocupa é a questão da inflação. Os preços para o consumidor estão a subir todos os dias, em especial nos bens essenciais, o que pode provocar algumas situações muito complicadas. As pessoas não ganham o suficiente para fazer face a isso. Para a nossa comunidade está a ser um problema.

Quanto aos refugiados, desde a primeira hora que estivemos também na linha da frente. Fiquei mais uma vez comovido, aliás isto já é apanágio desta gente de Tarouca, pela disponibilidade total de toda a gente, tivemos até que pedir para pararem as doações porque já não tínhamos espaço para guardar tanta ajuda.

Depois tivemos a disponibilização de diversas casas para alojamento dos refugiados, desde particulares a casas paroquiais, por exemplo. Espaços onde a autarquia fez alguns melhoramentos em termos de casas de banho, aquecimento, etc, para que tivessem toda a dignidade. Fizemos tudo para que não lhes falhasse nada.

Hoje temos as pessoas quase todas inseridas em todos os espaços, as crianças já estão na escola, e algumas pessoas já estão mesmo a trabalhar.

Não há dia nenhum que uma técnica da câmara não contacte com todos eles. Fazem as encomendas para cada refeição via SMS, e vai sempre um carro da câmara levar os bens essenciais para serem eles a cozinhar. Não falhamos em nada.

Queremos que se sintam bem, depois de tudo aquilo por que passaram só queremos que não tenham preocupações de maior e que se sintam bem. Estão longe do seu país, na sua maioria as famílias estão separadas, enquanto as mulheres e crianças estão cá, os seus maridos e pais ficaram para trás, a combater, é uma situação muito complicada, automaticamente a nossa disponibilidade para eles tem que ser total.

Quantos refugiados receberam?

Cerca de 15.

É normal alguém que está em funções autárquicas ouvir o agradecimento do povo por aquilo que fez em prol do concelho. Ao longo desta conversa tem-se mostrado um presidente muito agradecido, muito feliz, pelo povo que tem. Deve também um obrigado às suas gentes?

Não estamos nestes cargos nem para que nos agradeçam, nem para agradecer. Há uma coisa que sinto sempre que é a felicidade dos outros quando fazemos bem. Isso damos conta no dia-a-dia.

Há uma coisa que nenhum presidente da câmara se pode sentir é realizado, porque todos os dias tem outra coisa para fazer! Automaticamente isso é que é o nosso agradecimento. Prestarmos um bem às pessoas, porque estamos no lugar para prestar. Para isso é que nós fomos eleitos. Para servir a nossa gente. Não para estarmos à espera que nos agradeçam.

Às vezes, mesmo em público, algumas pessoas até nos deixam envergonhados, com tantos agradecimentos, já tive situações dessas. Seja por algo que fizemos pelas crianças, ou pelos idosos, por exemplo. São situações que nos dão alento e motivação para continuar a fazer mais e melhor.

Tive aqui há dias uma criança que vinha a descer as escadas e agarrou-se a mim, precisamente a agradecer-me, por aquilo que eu fiz pela família dela. Uma criança! Sabia daquilo que nós estávamos a fazer. Isso é que nos dá alento.

Sendo no fundo, a "obrigação" do autarca, dá algum conforto?

Precisamente! Dá-nos algum conforto, porque sabemos que aquela família estava a passar dificuldades, e nós realizamos um sonho, que foi precisamente eles conseguirem ter aquilo que não tinha possibilidade de ter, se não fossemos nós.

É o melhor que pode existir?

É o melhor presente que nos podem dar...

Para terminar, este é o seu último mandato, na sua cabeça tem a linha de sucessão definida? Quem é que estará mais apto para ser o próximo presidente de câmara de Tarouca?

Tenho a questão da sucessão perfeitamente definida na minha cabeça, no entanto, acho que é cedo demais para estar a falar disso.

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