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Com selo de certificação à vista a Junça de Beselga ganha nova vida

[caption id="attachment_2915" align="alignleft" width="300"] Com selo de certificação à vista a Junça de Beselga ganha nova vida/ Foto: Salomé Ferreira Com selo de certificação à vista a Junça de Beselga ganha nova vida/ Foto: Salomé Ferreira[/caption] A autarquia de Penedono encontra-se a trabalhar em conjunto com os artesãos e outras entidades para dar uma "nova vida" à Junça da Beselga, artesanato típico que faz parte da história desta freguesia e do concelho. Para além do selo de certificação, a autarquia pretende ainda modernizar as peças como forma de atrair novos mercados. O serão na aldeia da Beselga, concelho de Penedono, é sinónimo de trabalho e de boa disposição. Em tempos, eram mais as mãos que moldavam a Junça e a transformavam em ceiras, tapetes, cestos e chapéus. Chegaram a ser cerca de 700 pessoas a dedicar-se a este ofício. Mas, a “tradição já não é o que era”. Atualmente é pelas mãos de um homem e cinco mulheres que nascem as peças de artesanato, que em breve serão vendidas com selo de certificação. [caption id="attachment_2917" align="alignleft" width="300"]Ilídio Serôdio, o "mestre" da Junça de Beselga/ Foto: Salomé Ferreira Ilídio Serôdio, o "mestre" da Junça de Beselga/ Foto: Salomé Ferreira[/caption] Ilídio Serôdio, de 79 anos, é considerado o mestre da Junça de Beselga. Tinha oito anos quando começou a aprender esta arte, “acompanhava os meus pais ao serão”, tal como outras famílias da aldeia. “Trabalhei na Junça até aos 20 anos, depois fui para a tropa. Andei na Marinha 30 anos e quando regressei, já reformado, voltei-me a dedicar a isto, sempre gostei muito de o fazer”, contou ao VivaDouro Ilídio Serôdio. “Quando voltei da tropa esta profissão já estava em decadência, a maior parte das pessoas emigraram”, acrescentou, ao recordar que houve uma altura em que apenas três pessoas se dedicavam ao artesanato. [caption id="attachment_2919" align="alignleft" width="300"]Algumas peças feitas a partir da Junça / Foto: Salomé Ferreira Algumas peças feitas a partir da Junça / Foto: Salomé Ferreira[/caption] Com o passar dos anos, também o tipo de peças sofreram algumas mudanças. Aos habituais tapetes, às “ceiras filtro de azeite” e aos cestos, juntaram-se posteriormente “peças mais modernas”, nomeadamente os “potes” e os chapéus. “Muitas das vezes são os clientes que nos levam a modificar e modernizar as peças, porque nos pedem determinadas coisas”, revelou o artesão, enquanto moldava um molho de Junça. Em outros tempos, a ceira filtro de azeite era “muito procurada por azenhas”, explicou Ilídio Serôdio, “mas agora é tudo moderno”, acrescentou. No entanto, esta peça já chegou a ser procurada para outros fins, nomeadamente para decoração, sendo que uma peça destas pode custar cerca de 200 euros. Foi exatamente com a “ceira filtro de azeite” que Ilídio Serôdio foi premiado, em 2013, na Feira Internacional de Artesanato de Lisboa. “A partir desse momento tive cada vez mais vontade de trabalhar nisto”, confessa ao VivaDouro. Foi também esse um dos motivos que levou a autarquia a iniciar o processo de certificação. Mas o interesse em “manter viva” esta tradição já começou há algum tempo. Há cerca de 20 anos a Câmara Municipal de Penedono e o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Lamego promoveram um curso para ensinar a fazer a Junça da Beselga e, nessa altura, Ilídio Serôdio foi convidado para ser o formador. Foi este um dos momentos chave para o renascimento deste ofício, uma vez que do “grupo de 16 mulheres que frequentaram o curso, algumas ficaram posteriormente a trabalhar comigo”, afirmou Ilídio Serôdio. Assim, de segunda a quinta-feira durante três horas, ao serão, juntam-se estas seis pessoas no Centro de Artesanato da Beselga. [caption id="attachment_2924" align="alignleft" width="300"]Silvandira Gregório, artesã/ Foto: Salomé Ferreira Silvandira Gregório, artesã/ Foto: Salomé Ferreira[/caption] Entre as cinco mulheres que acompanham diariamente Ilídio Serôdio no serão, encontra-se Silvandira Gregório, 70 anos. Para ela a técnica já não é novidade, uma vez que já trabalha a Junça há cerca de 20 anos. “Este artesanato tem tudo de especial, as peças são bonitas e o material é muito bom, dura muitos anos”, contou ao VivaDouro. Material que é criado na natureza, mais concretamente “no alto das serras”, para ser posteriormente colhido numa altura própria, “uma semana antes do São João”, explica Ilídio Serôdio. Depois de colhida a Junça é seca e antes de ser trabalhada fica cerca de quatro horas na água, “para não partir enquanto a moldamos”, acrescenta o artesão. Uma vez que a certificação do artesanato se encontra já numa fase final, Carlos Esteves de Carvalho, presidente da autarquia de Penedono acredita que esta mudança “vai trazer o reconhecimento do valor do nosso artesanato e com isso estamos a valorizar e consequentemente a trazer para o nosso concelho mais-valias”, afirmou ao VivaDouro. A vontade, dedicação e saber de Ilídio Serôdio são alguns dos motivos que levam o município a querer manter viva esta tradição, dando-lhe também um toque de modernidade com vista a atrair novos mercados. “Este artesanato assenta no saber do senhor Ilídio Serôdio e, um dia que ele desapareça, como todos nós, há um saber que se corre o risco de se perder e daí o investimento que estamos a fazer de ele dar formação para que esse saber se mantenha por muitos longos anos”, revelou o edil. A autarquia fez um protocolo com a associação 30 Moios de Sal (MS), constituída por estilistas e designers de áreas como o têxtil e calçado, com vista a trabalharem em conjunto com Ilídio Serôdio e as artesãs para darem um cunho de modernidade às peças. Nesse sentido, vai iniciar no dia 17 de novembro um workshop de “Criação de novos produtos em Junça de Beselga”. Um curso pensado para “todos aqueles que pretendam aprender a técnica e os saberes associados à execução de objetos em junça, combinados com alguns princípios do design de produto”. Desta forma, a Associação 30 MS, em colaboração com o Centro de Artesanato da Beselga e a Câmara Municipal de Penedono, “dará ferramentas para o desenvolvimento de novas peças utilizando a junça, cruzando técnicas ancestrais com novos conhecimentos adaptados às necessidades e gostos atuais”.

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