A contar os 125 anos de existência o CLUB de VILA REAL agrega neste momento mais de 150 sócios e 52 desportistas em duas modalidades, ténis de mesa e xadrez.

Sem nunca ter interrompido a sua atividade ao longo destes anos, o CLUB tem já no seu palmarés diversos títulos regionais e nacionais dos quais se destacam: Campeão Nacional de Equipas Femininas Iniciadas, 11 títulos de Campeão Nacional Singulares (diferentes atletas), Campeão Regional mais de 20 categorias, todos em ténis de mesa.
A propósito desta efeméride o VivaDouro conversou com o atual presidente da direção, João Gonçalves, que nos falou do passado mas também do presente e do futuro desta instituição.
Comecemos pela génese do CLUB, quando foi criado qual era o seu propósito?
No final do seculo XIX a sociedade estava em plena transformação, a nobreza e o clero perderam o protagonismo da produção intelectual e começaram a aparecer os club’s onde os intelectuais, os burocratas (sobretudo juristas) e os militares tinham a possibilidade de se reunir e organizar. Estes club’s também conhecidos muitas vezes como “clubes de cavalheiros” eram locais onde se realizam reuniões de negócios sob reserva e discrição, não são clubes sociais ou recreativos, são para conversas sérias, numa primeira fase.
O CLUB estava vedado ao público, a curiosos, só entravam sócios, havia serviços de bar impecáveis, poltronas confortáveis, ambiente tranquilo, nem os jornalistas não entram.
Mais tarde, já em meados do século passado o CLUB de VILA REAL passou a ter atividades mais recreativas, os bailes de salão, as quermeces, as festas de carnaval e inclusivé atividades mais culturais, até muito recentemente o CLUB tinha um piano que frequêntemente se fazia ouvir nos salões, teve uma biblioteca riquissima, que infelizmente hoje em dia está muito depauperada.
Foi uma época de grande dinamismo no CLUB.
Já mais próximo do final do século o CLUB os sócios foram diminuindo e foi-se tornando novamente num espaço muito fechado, onde os jogos de cartas predominavam e era frequentado exclusivamente por homens.
Mais recentemente, já neste século o CLUB teve uma grande transformação. Em 2007 é criada por mim a secção de ténis de mesa e alguns meses depois assumo as funções de Presidente do CLUB de VILA REAL.
Alterou-se o processo de admissão de sócios, facilitando o processo, até ai muito difícil. Passou a ter uma quota mensal mais acessível e passou a ter um cargo de Diretor Cultural, que iria voltar a dinamizar atividades que até então não estavam desenvolvidas.
O primeiro diretor cultural, Abílio Frias, que merece destaque foi o impulsionador, embora muitos não se recordem, começou por organizar exposições, a primeira a ser realizada foi de material escutista, a organizar concertos e a dinamizar a apresentação de cinema de animação e documentários, desde sempre com boa adesão.
Mas o ténis de mesa treinava na sede e a organização de tantas atividades era difícil. E quando o ténis de mesa encontra outro espaço, no Seminário de Vila Real, um dois anos depois, coinside com a entrada em funções de novo diretor cultural que potencia ainda mais as atividades culturais e recreativas. Foi um periodo de grande numero de concertos, de um crescimento extraordinário de sócios, chegamos às várias centenas.
Mais recentemente, em 2017 voltamos a ter problemas financeiros, e a nova direção eleita nesse ano, assumiu diretamente a direção cultural apenas o Presidente transitava da direção anterior.
As atividades culturais voltaram a ser realizadas em grande numero, e o desporto nunca neste anos todos sofreu com estas situações, tendo sido sempre um motivo de orgulho com os inumeros títulos nacionais que foi alcançando.
Ou seja, o CLUB de VILA REAL foi-se transformando ao longo dos anos, de modo a poder perpetuar a memória.
125 anos de história, certamente não os viveu todos mas, para si, qual é a estória que mais destaca desta longa vida?
Não saberei contar muitas das estórias do CLUB, mas felizmente ainda temos alguns sócios que contam mais de 70 anos como sócios e nos foram contando muitas das estórias que por aqui ocorreram. Aquilo que mais destaco nas várias estórias é a particularidade do CLUB ter sido uma associação que contou com a participação das mais importantes figuras históricas de Vila Real, muitas das figuras que se destacaram na história da cidade passaram pelo CLUB e por isso o CLUB teve um papel importante, deve ter sido neste espaço que foram discutidas muitas das decisões que afetaram os vilarealenses e a importância e a exclusividade do CLUB foi de tal ordem que nos anos 60, tendo o CLUB permitido a entrada como sócio a um comerciante rico da cidade, que tentava há vários anos sem sucesso, ser sócio, os jornais da época evidenciavam a admiração geral, pois relatavam que para aceitar tal situação deveria o CLUB de VILA REAL estar já em situação delicada.
Não era fácil ser sócio, de tal modo que quando cheguei à Presidência do CLUB havia apenas 13 sócios, fui o 14º sócio.
Certamente está é uma história repleta de altos e baixos, qual o momento mais negativo que destacaria destes 125 anos?
Não posso falar muito sobre os anos antes de estar presente na vida do CLUB, sei que no final dos anos 90 do século passado o CLUB teve um período muito difícil em termos financeiros e teve de vender grande parte do espólio que tinha, ficando reduzido a muito pouco. O espólio acabou por ser vendido aos sócios da época e houve alguns que fizeram empréstimos de verbas significativas para o CLUB.
Recentemente, em 2017 o CLUB também passou por um período difícil em termos financeiros, coincidiu com uma gestão financeira ruinosa do diretor cultural à data, que felizmente saiu do CLUB, por sua própria iniciativa, mas a atual direção conseguiu recuperar e está com a situação regularizada. Desde que estou à frente das sucessivas direções o período mais difícil foi efetivamente 2017, para além das dificuldades financeiras tínhamos uma notificação do senhorio para abandonar o edifício em março de 2018, a lei assim o permitir. Esta situação só poderia ser revertida se o Município de Vila Real reconhecesse o CLUB como entidade de interesse social, cultura e histórico, o que viemos a conseguir.
O ténis de mesa desempenha um importante papel nas atividades do Club, havia essa lacuna na cidade?
Havia já no concelho de Vila Real alguns clubes de ténis de mesa, que ainda hoje existem, mas nenhum tinha dimensão nacional. Não é por surgir um atleta que se bate a nível nacional, que até pode ser campeão nacional, que temos um clube bem estruturado.
O nosso objetivo foi criar condições para que surgissem muitos atletas desses, para que o trabalho pudesse ser desenvolvido com os olhos no futuro e não nos resultados imediatos. Felizmente conseguimos, somos o clube vilarealense com maior número de atletas. Trabalhamos sem o apoio financeiro que outros clubes nesta modalidade, aqui bem perto, têm. Somos a entidade que mais divulga ténis de mesa em Vila Real e somos totalmente autónomos em relação à Associação Regional da Modalidade, que deveria ser a entidade que mais divulga ténis de mesa.
São muitas as conquistas desportivas do Club, em especial neste desporto, qual é a que mais destacaria?
Em 12 anos da existência desta modalidade no CLUB, em que os nossos atletas foram 12 vezes campeões nacionais há muitas conquistas importantes. Desde logo a conquista do Campeonato Nacional de Equipas Femininas Iniciadas. Podemos ter um atleta bom, mas uma equipa, que é composta por 3 atletas, tem de se trabalhar muito, até hoje nenhum outro clube vila-realense o conseguiu. Outro destaque é o facto de termos uma equipa sénior feminina a disputar o Campeonato Nacional da 2ª Divisão, a única deste campeonato apenas com atletas da formação e na sua maioria as atletas ainda não são seniores sequer.
Conseguimos criar um torneio que é único neste país, um torneio com dimensão dentro de um Shopping, com mais de uma centena de atletas participantes, o “NOSSO TORNEIO” de ténis de Mesa que todos os anos traz a Vila Real várias centenas de participantes.
Por fim, merece destaque o facto de termos sido o único clube, desde que ando no ténis de mesa que conseguiu encher um autocarro de 56 lugares para se deslocar a um torneio, mais de metade eram atletas e os restantes eram treinadores e pais, o que nesta modalidade é assinalável.
Olhando agora para o futuro, como imagina o CLUB daqui a uns anos?
Fruto das alterações legislativas parece-me muito difícil que se venha a manter a possibilidade do CLUB permanecer na mesma sede, que diga-se, não é a primeira sede do CLUB. Por isso, será com naturalidade que o CLUB poderá ter de mudar de sede, mas manter-se-á a dinâmica cultural e a potência desportiva.
Aliás, apesar desta direção estar de saída, e em particular eu, ao fim de 12 anos de Presidência, estamos a lançar projetos internacionais para dinamizar ainda mais o CLUB e garantir o futuro. O CLUB saberá adaptar-se aos tempos e continuará mais 125 anos certamente.