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Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda/Foto: Pedro Santos Ferreira[/caption]
Portugal vai a votos no dia 4 de outubro. O VivaDouro e o VivaCidade foram conhecer de perto as perspetivas dos cinco candidatos às legislativas, a nível nacional mas também no que diz respeito ao Douro e ao Interior do país. Leia a entrevista à porta-voz do Bloco de Esquerda.
O Bloco de Esquerda tem como lema de campanha a ideia “Um País Não se Vende”. O país está vendido?
Temos tido Governos que vendem o país de várias formas. Nós não temos controlo sobre a rede energética nacional, sobre os aeroportos, sobre os transportes que foram construídos com o nosso investimento e feitos pelos nossos trabalhadores.
Quando temos um Governo que diz sempre que sim ao Governo alemão, temos um Governo que não tem personalidade. Podíamos ter possibilidades para criar uma vida com dignidade. Hoje o Centrão do poder é o Centrão do negócio que deixa o interesse das pessoas de parte nestes negócios.
Que balanço faz dos quatro anos de governação PSD/CDS-PP?
Nestes quatro anos que passaram, a cada hora, a dívida pública portuguesa aumentou um milhão e meio de euros. Nunca nenhum Governo fez a dívida aumentar tanto. A cada dia que passou foram destruídos 200 empregos. O Governo pode fazer os malabarismos que quiser com os números do emprego mas a verdade é que foram destruídos 400 mil postos de trabalho nestes quatro anos. São 200 a cada dia que passa. A cada mês 10 mil pessoas emigraram. Ao todo, meio milhão teve de abandonar o país. Na sua maioria jovens. E um país sem gente é um país sem futuro. Este é o diagnóstico do que fez o Governo.
O PS é a alternativa?
O Partido Socialista não é igual ao PSD/CDS-PP. Não fazemos essa comparação. No entanto, não podem ser esquecidas as responsabilidades do PS no estado em que está o país. Não esquecemos as PPP’s, as privatizações e outras medidas que não foram inventadas pela direita. O PS tem grandes responsabilidades em tudo isso. Chegados a este ponto, vemos que o PS assinou o Tratado Orçamental com o PSD e o CDS-PP, ou seja, comprometeu-se a dizer que a Angela Merkel pode continuar a ditar a austeridade no nosso país e na Europa. O PS não se apresenta como solução. No momento em que se fala de empate entre o PS e a coligação de direita, é bom que as pessoas percebam que não têm que escolher entre austeridade e austeridade. É por isso que dizemos que quem fica preocupado com o empate deve votar no Bloco de Esquerda. Não vamos falhar os compromissos.
O Bloco de Esquerda vai lutar por esse voto útil para ter mais força na Assembleia da República?
O perigo é termos um Parlamento controlado só por PSD/CDS-PP. Quem controla a austeridade não pode ficar com uma maioria que lhes permita continuar neste rumo.
Considera que o país continua desligado do interior? A falta de acessibilidades é um problema grave?
O país está crescentemente desligado do interior. No litoral chegamos a ter três autoestradas paralelas e foram feitas opções danosas, veja-se o exemplo do programa de barragens que dá imenso lucro à EDP mas cria problemas ambientais em várias populações. Tem havido um crescimento dos problemas no Douro. Precisamos rapidamente de apostar muito a sério em acessibilidades rodoviárias essenciais, mas também é necessário considerar as vias ferroviárias. O desenvolvimento do Douro só existe se for pensado para as populações. Ver o Douro meramente como um local turístico é um desastre porque os turistas passam pelas vinhas mas não deixam nenhuma riqueza.
O que pode dizer às populações do Douro?
É importante não esquecer que o voto é ainda uma arma e o voto pode mudar muito. As pessoas não podem esquecer-se disso.
Qual foi o momento que a fez despertar para a política?
Desde sempre tive intervenção política não partidária. No Bloco não existem jotas e as pessoas que assumem cargos neste partido são pessoas que vêm do ativismo político de várias áreas e isso é bom porque dá-nos experiência de vida e contacto com os problemas do país. Participei em lutas estudantis, fiz parte de movimentos pelo acesso à cultura por todo o país, estive presente em movimentos contra a precariedade e a minha experiência vem dessas lutas pela dignidade do trabalho e pelo acesso ao conhecimento.
Quais são as referências que a motivam diariamente?
É o facto de saber que as pessoas trabalham tanto e são tão generosas. É difícil ver pais e avós dispostos a dar tudo pela geração mais nova. Esse sacrifício tem que ser respeitado.