Entrevista

Casa do Douro: Entrevista ao candidato Alexandre Ferreira

Olhando aos apoios dados pelo Estado à região para colmatar os efeitos da Co­vid-19, que análise faz desses apoios?

O que tenho a dizer é muito simples, todo e qualquer apoio que venha para o Douro é bem-vindo.

A ALD, e eu em particular, metemo-nos nesta luta para defender os pequenos vi­ticultores. É isso que nos move. Os gran­des estão defendidos, não precisam de nós para nada. Os pequenos e médios estão a passar um mau bocado, por isso, todo e qualquer dinheiro que venha é bom.

Eu não acredito muito, talvez por defor­mação profissional só acredito quando vejo. Ouço falar em milhões e milhões e não vejo como é que todo esse dinheiro vai chegar ao pequeno e médio viticul­tor.

Aquilo que ouvi falar foi em apoio ao armazenamento, à destilação, ao vinho que não foi vendido, por causa do Co­vid. Eu tenho a dizer uma coisa, o vinho Covid ainda está nas videiras. Portanto, todo o apoio que é bem-vindo, não é apoio para vinho Covid. Corro o risco de pensar, se calhar a crise ainda não che­gou! Dizem que há vinho a mais, mas não é essa a informação que nós temos nos nossos associados que são essencial­mente cooperativas, é que não há vinho nos armazéns. Ou seja, se vem apoio para o armazenamento, ele não é para o produtor é apoio para o comerciante que já o comprou, por alguma razão não o vendeu.

Repito, o apoio é bem-vindo mas não é apoio para a produção.

O que é preciso ter noção é se esse vinho que está no armazém irá desequilibrar a lei da oferta e da procura no futuro, pres­sionando o preço que é pago por pipa a baixar. Se o vinho Covid, que chega em outubro, novembro não for vendido por haver esse vinho armazenado no comér­cio, eu pergunto, que apoio chegará à produção em outubro, novembro e de­zembro?

Em comparação com outras regiões vití­colas do nosso país, o Douro fica a per­der ou a ganhar?

O apoio que vem para o Douro é muito reduzido. Falou-se em 5 milhões, depois 3 milhões, 15 milhões… Na globalidade, se vierem 20 milhões, isso não é nada.

O que eu noto é o seguinte, o pequeno e médio viticultor, que são quem nós defendemos, neste momento têm na sua frente um drama. Este ano, em ter­mos meteorológicos, foi adverso para a viticultura duriense, com muito calor e muita humidade, propício a doenças como o míldio e o oídio, que obrigaram a tratamentos. Temos associados que nos dizem que fizeram 6, 7 tratamentos. Portanto, o custo de produção este ano aumentou.

Agora o comércio faz a sua previsão de compra em baixa, prevê-se, segundo eles, que se vai vender menos vinho, portanto há viticultores que podem nem vender o vinho ou fazê-lo a um custo muito mais baixo, já se aponta para o valor de 600 euros por pipa, que nor­malmente rondaria os mil euros. Isto é uma catástrofe para o Douro, e isso vai-se verificar em outubro, novembro. Este dinheiro que se fala ainda não che­gou à produção e a minha pergunta é, se há 300 milhões para o Algarve, se há milhões para todo o lado, o que é que o nosso Ministério da Agricultura está a pensar fazer no final do ano, quando o vinho não for vendido ou até seja ven­dido mas abaixo do custo de produção?

Vai dar algum apoio?

Ficamos claramente a perder em relação a outras regiões do país, 300 milhões lá para baixo, 15 para o Douro…

Falando agora da Casa do Douro, o que motivou a sua candidatura?

Muito simples. Em 2014 a Casa do Douro foi desmantelada, fizeram aquilo a que chamo um pseudo-concurso ao qual apareceram duas candidaturas, a da ALD representada por mim e a da Federação.

O processo para ficar com a Casa do Douro era algo complicado em termos de representação mas, em traços gerais, ficaria a Casa do Douro privada nas mãos de quem tivesse mais sócios. A ALD rei­vindica a representação de mais de 15 mil sócios e a Federação teria 3 mil e qualquer coisa.

Fez-se o concurso, andamos com papeis para traz e para a frente e a ministra de então deu a vitória à Federação. Nós con­testamos em tribunal e ainda estamos à espera de uma decisão. Entretanto este Governo anulou o concurso e reverteu a privatização e abriu um processo eleito­ral na Casa do Douro, que foi aquilo com que sempre nos batemos. Para nós cada viticultor é um voto e não acreditamos que a representação seja feita por via ad­ministrativa.

Já que encabecei este movimento com milhares de viticultores, agora estou re­fém dessa minha atitude e não posso dizer que não é nada comigo. Vamos em frente, candidatamo-nos porque tam­bém tivemos a “pressão” daqueles que representamos. Vamos a votos, se ga­nhar muito bem, se não ganhar darei os parabéns ao vencedor.

Qual deverá ser o papel da CD no futuro da região?

Há desde logo aqui uma componente política que eu gostava de afastar, o que nos move não é a política. Posso até ter alguma simpatia mas não sou filiado em partido nenhum.

O que nos une é a viticultura. Não subs­crevo a eterna guerra entre o comércio e a produção. Estou cansado de dizer isto, o comércio é preciso porque os pro­dutores produzem e o comércio vende mas se não houver nada para vender também não vale a pena haver comér­cio. As profissões têm que estar unidas, ninguém pode ficar a perder, e o que acontece neste momento é que o prato da balança tende sempre para o comér­cio que são menos e estão melhor orga­nizados.

Para mim a Casa do Douro antes de ser um instrumento político, algo que sem­pre critiquei, será uma associação de vi­ticultores que pura e simplesmente de­fenderá os interesses destes. Tal como as ordens profissionais dos médicos e dos advogados, por exemplo.

Quando se fala em inscrição obrigatória é no sentido de não existir a pulverização associativa mas isso não pode significar uma quota obrigatória. Não é necessário obrigar as pessoas a mais uma despesa.

Os viticultores já pagam uma taxa ao IVDP que parte dela é alocada à Casa do Douro, ninguém diz nada sobre isso mas ela existe. Por isso os viticultores já pa­gam uma quota camuflada sem darem por ela.

A Casa do Douro como eu conheço, na sua componente comercial, com as de­legações e tudo isso terá forma de se au­tofinanciar e não precisa de cobrar mais nenhuma taxa.

Como presidente da CD, como será a relação com o IVDP?

Com o IVDP, bem como com a AEVP, terá que ser um relacionamento profícuo. Teremos que encontrar formas de levar­mos a bom porto o que queremos. Con­jugação de interesses, é verdade mas, o que nos une é a vinha e o vinho e eu não vejo que seja necessário andar sempre com a bandeira de guerra entre nós.

Conheço minimamente o presidente do IVDP, acho que há espaço para todas es­tas organizações e, pela minha parte, o relacionamento será o melhor possível.

E com o comércio?

Exatamente igual.

Num comparativo entre os três candi­datos já apresentados, que atributos o destacam dos restantes?

Não conheço pessoalmente nenhum dos outros candidatos já apresentados.

Da parte do Leandro não tenho nenhum feedback, nem positivo nem negativo. Nunca ouvi, se calhar por desinforma­ção minha, que lhe seja atribuída algu­ma afirmação menos correta para com a minha pessoa. Portanto, até prova em contrário o Leandro será uma excelente pessoa porquanto não tenho nada con­tra ele.

Para mim é um candidato do sistema, é um candidato da Federação. Eu acho que quem deveria encabeçar esta lista era o engenheiro Lencastre, porque as­sim como ele é presidente da federação eu sou da ALD. Eu dei a cara e ele não, arranjou um substituto que é o Leandro. Não sei porquê, isso deveria ser ele a responder.

Como disse, contra o Leandro não tenho nada e já tive informações de que é uma excelente pessoa. Sendo um candidato do sistema irá perpetuar a Federação. Eu não ataco pessoas, ataco projetos, movimentos, e a Federação, neste caso, é contra esta eleição.

A Federação subscreveu uma queixa no tribunal constitucional em que esta lei é inconstitucional, portanto, a primeira crítica que faço é como é que uma pes­soa vai candidatar-se a umas eleições quando à partida é contra esse sistema. Não faz o mínimo sentido, é a única coi­sa que tenho a dizer.

Quanto ao Romeu, para mim não existe. O Romeu não é nada. Não o conheço, não sei de onde aparece, sei que é da Penajóia. Gostaria que não tivesse nada a dizer sobre ele mas, infelizmente ouvi ultimamente que ele andou atrás de apoiantes para a sua candidatura e falou com um dos nossos apoiantes, nomea­damente Freixo de Espada à Cinta, e co­meçou por falar mal de mim.

Quando começamos a pessoalizar as coisas. Aquilo que eu disse do Leandro, que até prova em contrário é boa pes­soa, eu dizia o mesmo do Romeu, neste momento já não digo. Uma pessoa que não me conhece e que procura aqueles que me apoiam e a primeira coisa que faz é falar mal de mim, como sendo res­ponsável, segundo palavras dele, pelo descalabro da Casa do Douro, é uma pessoa que terá que se retratar e terá de ver o que anda aí a dizer porque, em primeiro lugar eu não sou responsável por Casa do Douro nenhuma, nunca fui diretor e, em segundo lugar, se a Casa do Douro fez a gestão financeira da sua dívida e sobraram 115 milhões, não sei onde está o descalabro.

É com alguma tristeza que vejo isto por­que o Romeu podia ser um candidato interessante com quem poderíamos co­lher algumas ideias e até ajudar a região e a sua primeira entrada na corrida é di­zer mal dos outros candidatos. Portanto, isso registo com desagrado. Deve estar mal assessorado porque, segundo uma declaração que vi do pseudo movimen­to que encabeça, deu a entender para fora da região, porque aqui dentro nin­guém o entende, que o movimento da região estaria bipolarizado, de um lado a ALD do outro a Federação e que nós éramos inimigos. Nós não somos inimi­gos, a Federação e a ALD foram os úni­cos dois concorrentes ao concurso para a Casa do Douro privada.

Na cabeça dele queria ocupar o vazio que existia entre um lado e o outro. Va­zio que não existe, portanto ele está mal preparado e não estuda os dossiers. Se a ALD representa mais de 15 mil viticul­tores e a Federação mais de 3 mil, está aqui o universo ocupado, não há vazio nenhum.

Eu duvido sequer que o Romeu consiga concretizar a sua candidatura porque ele não tem apoios mas, o que lhe diria é que, desde logo não comece por dizer mal dos viticultores ou de quem os re­presenta, neste caso da minha pessoa, porque o caminho não é por aí. Nós estamos é à procura de soluções, de ideias, não de quem diga mal do outro porque isso é o mais fácil que há.

Para terminar, se não fosse a nossa ex­posição, se não fosse a ALD e eu próprio, não havia eleições na Casa do Douro portanto o Romeu não era candidato a coisa nenhuma, por isso devia estar gra­to a alguém que quer repor a democra­cia no Douro.

O que é que o Alexandre Ferreira tem, como mais valia, que os outros dois candidatos não têm?

Tenho conhecimento. Conheço os dos­siers da Casa do Douro, conheço a re­presentação da viticultura, conheço o que foi ou deveria ter sido a Casa do Douro, muitos erros foram cometidos no passado que não me são imputados.

Com essa experiência, com os viticulto­res que eu conheço, com a região com a forma que a Casa do Douro exerceu o cadastro, como as delegações traba­lham ou como deveriam ter trabalhado, seguro de colheitas… Muita coisa que deveria ter sido feita e não foi, eu e a mi­nha equipa sabemos como representar e pôr os viticultores no mapa.

É muitas vezes acusado de estar ligado a uma suposta falência ou endivida­mento da Casa do Douro. Como reage a estas acusações?

É uma acusação falsa e injusta. Em pri­meiro lugar a Casa do Douro nunca es­teve falida. A auditoria feita pelo Minis­tério Público, e foram feitas duas, veio mostrar que o vinho que a Casa do Dou­ro tem é mais do que suficiente para pa­gar a dívida que ainda falta pagar e que é ao Estado, as restantes já foram todas pagas pela Comissão Administrativa.

De acordo com essas contas a Casa do Douro terá um património de cerca de 250 milhões e uma dívida que ronda os 130 milhões, portanto, é mais do que suficiente para pagar ao Estado e so­brar bastante dinheiro. Por isso, quan­do alguém tenta dizer que a Casa do Douro está falida, os número dizem o contrário.

Em segundo lugar, mesmo que a Casa do Douro estivesse numa situação me­nos saudável, atribuir-me a mim quer o resultado de uma má gestão, quer o elo­gio de pagar a toda a gente e deixar 115 milhões remanescentes é injusto.

Eu liderava uma equipa na Casa do Dou­ro que tratava da contabilidade, que co­meçou com 17 pessoas e depois foi di­minuindo. Eu era o TOC, quem colocava a vinheta quando assinava o modelo 22 era eu, portanto quem dá a cara sou eu mas, como toda a gente sabe ou deveria saber, um contabilista trata papeis.

Houve uma acusação injusta que me fizeram nos últimos tempos que a Casa do Douro nunca apresentava contas, que não tinha contas. Ora bem, quem é o responsável pela apresentação de contas de qualquer empresa é a direção e o que me foi dado a constatar nos últi­mos anos é que a direção não conseguia reunir quórum. Eram 125 conselheiros que durante anos e anos não conse­guiam reunir quórum para apresentar contas. Isto é, a Comissão Administrati­va tomou conta das contas da Casa do Douro, pediu-me uma série de elemen­tos e foi com base neles que pode pa­gar e receber o que lhe era devido. Se não houvesse contas eu dizia que não sabia, agora, se me perguntarem se há balanços aprovados… Havia contabilida­de feita ao dia, não havia era balanços e contas aprovadas de dois ou três anos mas isso tem que se perguntar à direção e, mesmo sem estar aqui a defender a última direção, não havia quórum. O grande problema da Casa do Douro era que a reunião dos 125 conselheiros era praticamente impossível e, pelo menos nos últimos três anos, de 2012 para a frente, não se conseguiu fazer nenhuma reunião com quórum, portanto, todo e qualquer poder deliberativo para apro­var contas era impossível porque as pes­soas não iam lá.

Como quando alguém diz que o respon­sável pela não entrega de contas ou pela eventual falência da Casa do Douro sou eu, obviamente que não o posso ser nem de facto nem de direito porque não é nem nunca será o TOC o responsável pela boa ou má gestão de uma empresa.

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