
Olhando aos apoios dados pelo Estado à região para colmatar os efeitos da Covid-19, que análise faz desses apoios?
O que tenho a dizer é muito simples, todo e qualquer apoio que venha para o Douro é bem-vindo.
A ALD, e eu em particular, metemo-nos nesta luta para defender os pequenos viticultores. É isso que nos move. Os grandes estão defendidos, não precisam de nós para nada. Os pequenos e médios estão a passar um mau bocado, por isso, todo e qualquer dinheiro que venha é bom.
Eu não acredito muito, talvez por deformação profissional só acredito quando vejo. Ouço falar em milhões e milhões e não vejo como é que todo esse dinheiro vai chegar ao pequeno e médio viticultor.
Aquilo que ouvi falar foi em apoio ao armazenamento, à destilação, ao vinho que não foi vendido, por causa do Covid. Eu tenho a dizer uma coisa, o vinho Covid ainda está nas videiras. Portanto, todo o apoio que é bem-vindo, não é apoio para vinho Covid. Corro o risco de pensar, se calhar a crise ainda não chegou! Dizem que há vinho a mais, mas não é essa a informação que nós temos nos nossos associados que são essencialmente cooperativas, é que não há vinho nos armazéns. Ou seja, se vem apoio para o armazenamento, ele não é para o produtor é apoio para o comerciante que já o comprou, por alguma razão não o vendeu.
Repito, o apoio é bem-vindo mas não é apoio para a produção.
O que é preciso ter noção é se esse vinho que está no armazém irá desequilibrar a lei da oferta e da procura no futuro, pressionando o preço que é pago por pipa a baixar. Se o vinho Covid, que chega em outubro, novembro não for vendido por haver esse vinho armazenado no comércio, eu pergunto, que apoio chegará à produção em outubro, novembro e dezembro?
Em comparação com outras regiões vitícolas do nosso país, o Douro fica a perder ou a ganhar?
O apoio que vem para o Douro é muito reduzido. Falou-se em 5 milhões, depois 3 milhões, 15 milhões… Na globalidade, se vierem 20 milhões, isso não é nada.
O que eu noto é o seguinte, o pequeno e médio viticultor, que são quem nós defendemos, neste momento têm na sua frente um drama. Este ano, em termos meteorológicos, foi adverso para a viticultura duriense, com muito calor e muita humidade, propício a doenças como o míldio e o oídio, que obrigaram a tratamentos. Temos associados que nos dizem que fizeram 6, 7 tratamentos. Portanto, o custo de produção este ano aumentou.
Agora o comércio faz a sua previsão de compra em baixa, prevê-se, segundo eles, que se vai vender menos vinho, portanto há viticultores que podem nem vender o vinho ou fazê-lo a um custo muito mais baixo, já se aponta para o valor de 600 euros por pipa, que normalmente rondaria os mil euros. Isto é uma catástrofe para o Douro, e isso vai-se verificar em outubro, novembro. Este dinheiro que se fala ainda não chegou à produção e a minha pergunta é, se há 300 milhões para o Algarve, se há milhões para todo o lado, o que é que o nosso Ministério da Agricultura está a pensar fazer no final do ano, quando o vinho não for vendido ou até seja vendido mas abaixo do custo de produção?
Vai dar algum apoio?
Ficamos claramente a perder em relação a outras regiões do país, 300 milhões lá para baixo, 15 para o Douro…
Falando agora da Casa do Douro, o que motivou a sua candidatura?
Muito simples. Em 2014 a Casa do Douro foi desmantelada, fizeram aquilo a que chamo um pseudo-concurso ao qual apareceram duas candidaturas, a da ALD representada por mim e a da Federação.
O processo para ficar com a Casa do Douro era algo complicado em termos de representação mas, em traços gerais, ficaria a Casa do Douro privada nas mãos de quem tivesse mais sócios. A ALD reivindica a representação de mais de 15 mil sócios e a Federação teria 3 mil e qualquer coisa.
Fez-se o concurso, andamos com papeis para traz e para a frente e a ministra de então deu a vitória à Federação. Nós contestamos em tribunal e ainda estamos à espera de uma decisão. Entretanto este Governo anulou o concurso e reverteu a privatização e abriu um processo eleitoral na Casa do Douro, que foi aquilo com que sempre nos batemos. Para nós cada viticultor é um voto e não acreditamos que a representação seja feita por via administrativa.
Já que encabecei este movimento com milhares de viticultores, agora estou refém dessa minha atitude e não posso dizer que não é nada comigo. Vamos em frente, candidatamo-nos porque também tivemos a “pressão” daqueles que representamos. Vamos a votos, se ganhar muito bem, se não ganhar darei os parabéns ao vencedor.
Qual deverá ser o papel da CD no futuro da região?
Há desde logo aqui uma componente política que eu gostava de afastar, o que nos move não é a política. Posso até ter alguma simpatia mas não sou filiado em partido nenhum.
O que nos une é a viticultura. Não subscrevo a eterna guerra entre o comércio e a produção. Estou cansado de dizer isto, o comércio é preciso porque os produtores produzem e o comércio vende mas se não houver nada para vender também não vale a pena haver comércio. As profissões têm que estar unidas, ninguém pode ficar a perder, e o que acontece neste momento é que o prato da balança tende sempre para o comércio que são menos e estão melhor organizados.
Para mim a Casa do Douro antes de ser um instrumento político, algo que sempre critiquei, será uma associação de viticultores que pura e simplesmente defenderá os interesses destes. Tal como as ordens profissionais dos médicos e dos advogados, por exemplo.
Quando se fala em inscrição obrigatória é no sentido de não existir a pulverização associativa mas isso não pode significar uma quota obrigatória. Não é necessário obrigar as pessoas a mais uma despesa.
Os viticultores já pagam uma taxa ao IVDP que parte dela é alocada à Casa do Douro, ninguém diz nada sobre isso mas ela existe. Por isso os viticultores já pagam uma quota camuflada sem darem por ela.
A Casa do Douro como eu conheço, na sua componente comercial, com as delegações e tudo isso terá forma de se autofinanciar e não precisa de cobrar mais nenhuma taxa.
Como presidente da CD, como será a relação com o IVDP?
Com o IVDP, bem como com a AEVP, terá que ser um relacionamento profícuo. Teremos que encontrar formas de levarmos a bom porto o que queremos. Conjugação de interesses, é verdade mas, o que nos une é a vinha e o vinho e eu não vejo que seja necessário andar sempre com a bandeira de guerra entre nós.
Conheço minimamente o presidente do IVDP, acho que há espaço para todas estas organizações e, pela minha parte, o relacionamento será o melhor possível.
E com o comércio?
Exatamente igual.
Num comparativo entre os três candidatos já apresentados, que atributos o destacam dos restantes?
Não conheço pessoalmente nenhum dos outros candidatos já apresentados.
Da parte do Leandro não tenho nenhum feedback, nem positivo nem negativo. Nunca ouvi, se calhar por desinformação minha, que lhe seja atribuída alguma afirmação menos correta para com a minha pessoa. Portanto, até prova em contrário o Leandro será uma excelente pessoa porquanto não tenho nada contra ele.
Para mim é um candidato do sistema, é um candidato da Federação. Eu acho que quem deveria encabeçar esta lista era o engenheiro Lencastre, porque assim como ele é presidente da federação eu sou da ALD. Eu dei a cara e ele não, arranjou um substituto que é o Leandro. Não sei porquê, isso deveria ser ele a responder.
Como disse, contra o Leandro não tenho nada e já tive informações de que é uma excelente pessoa. Sendo um candidato do sistema irá perpetuar a Federação. Eu não ataco pessoas, ataco projetos, movimentos, e a Federação, neste caso, é contra esta eleição.
A Federação subscreveu uma queixa no tribunal constitucional em que esta lei é inconstitucional, portanto, a primeira crítica que faço é como é que uma pessoa vai candidatar-se a umas eleições quando à partida é contra esse sistema. Não faz o mínimo sentido, é a única coisa que tenho a dizer.
Quanto ao Romeu, para mim não existe. O Romeu não é nada. Não o conheço, não sei de onde aparece, sei que é da Penajóia. Gostaria que não tivesse nada a dizer sobre ele mas, infelizmente ouvi ultimamente que ele andou atrás de apoiantes para a sua candidatura e falou com um dos nossos apoiantes, nomeadamente Freixo de Espada à Cinta, e começou por falar mal de mim.
Quando começamos a pessoalizar as coisas. Aquilo que eu disse do Leandro, que até prova em contrário é boa pessoa, eu dizia o mesmo do Romeu, neste momento já não digo. Uma pessoa que não me conhece e que procura aqueles que me apoiam e a primeira coisa que faz é falar mal de mim, como sendo responsável, segundo palavras dele, pelo descalabro da Casa do Douro, é uma pessoa que terá que se retratar e terá de ver o que anda aí a dizer porque, em primeiro lugar eu não sou responsável por Casa do Douro nenhuma, nunca fui diretor e, em segundo lugar, se a Casa do Douro fez a gestão financeira da sua dívida e sobraram 115 milhões, não sei onde está o descalabro.
É com alguma tristeza que vejo isto porque o Romeu podia ser um candidato interessante com quem poderíamos colher algumas ideias e até ajudar a região e a sua primeira entrada na corrida é dizer mal dos outros candidatos. Portanto, isso registo com desagrado. Deve estar mal assessorado porque, segundo uma declaração que vi do pseudo movimento que encabeça, deu a entender para fora da região, porque aqui dentro ninguém o entende, que o movimento da região estaria bipolarizado, de um lado a ALD do outro a Federação e que nós éramos inimigos. Nós não somos inimigos, a Federação e a ALD foram os únicos dois concorrentes ao concurso para a Casa do Douro privada.
Na cabeça dele queria ocupar o vazio que existia entre um lado e o outro. Vazio que não existe, portanto ele está mal preparado e não estuda os dossiers. Se a ALD representa mais de 15 mil viticultores e a Federação mais de 3 mil, está aqui o universo ocupado, não há vazio nenhum.
Eu duvido sequer que o Romeu consiga concretizar a sua candidatura porque ele não tem apoios mas, o que lhe diria é que, desde logo não comece por dizer mal dos viticultores ou de quem os representa, neste caso da minha pessoa, porque o caminho não é por aí. Nós estamos é à procura de soluções, de ideias, não de quem diga mal do outro porque isso é o mais fácil que há.
Para terminar, se não fosse a nossa exposição, se não fosse a ALD e eu próprio, não havia eleições na Casa do Douro portanto o Romeu não era candidato a coisa nenhuma, por isso devia estar grato a alguém que quer repor a democracia no Douro.
O que é que o Alexandre Ferreira tem, como mais valia, que os outros dois candidatos não têm?
Tenho conhecimento. Conheço os dossiers da Casa do Douro, conheço a representação da viticultura, conheço o que foi ou deveria ter sido a Casa do Douro, muitos erros foram cometidos no passado que não me são imputados.
Com essa experiência, com os viticultores que eu conheço, com a região com a forma que a Casa do Douro exerceu o cadastro, como as delegações trabalham ou como deveriam ter trabalhado, seguro de colheitas… Muita coisa que deveria ter sido feita e não foi, eu e a minha equipa sabemos como representar e pôr os viticultores no mapa.
É muitas vezes acusado de estar ligado a uma suposta falência ou endividamento da Casa do Douro. Como reage a estas acusações?
É uma acusação falsa e injusta. Em primeiro lugar a Casa do Douro nunca esteve falida. A auditoria feita pelo Ministério Público, e foram feitas duas, veio mostrar que o vinho que a Casa do Douro tem é mais do que suficiente para pagar a dívida que ainda falta pagar e que é ao Estado, as restantes já foram todas pagas pela Comissão Administrativa.
De acordo com essas contas a Casa do Douro terá um património de cerca de 250 milhões e uma dívida que ronda os 130 milhões, portanto, é mais do que suficiente para pagar ao Estado e sobrar bastante dinheiro. Por isso, quando alguém tenta dizer que a Casa do Douro está falida, os número dizem o contrário.
Em segundo lugar, mesmo que a Casa do Douro estivesse numa situação menos saudável, atribuir-me a mim quer o resultado de uma má gestão, quer o elogio de pagar a toda a gente e deixar 115 milhões remanescentes é injusto.
Eu liderava uma equipa na Casa do Douro que tratava da contabilidade, que começou com 17 pessoas e depois foi diminuindo. Eu era o TOC, quem colocava a vinheta quando assinava o modelo 22 era eu, portanto quem dá a cara sou eu mas, como toda a gente sabe ou deveria saber, um contabilista trata papeis.
Houve uma acusação injusta que me fizeram nos últimos tempos que a Casa do Douro nunca apresentava contas, que não tinha contas. Ora bem, quem é o responsável pela apresentação de contas de qualquer empresa é a direção e o que me foi dado a constatar nos últimos anos é que a direção não conseguia reunir quórum. Eram 125 conselheiros que durante anos e anos não conseguiam reunir quórum para apresentar contas. Isto é, a Comissão Administrativa tomou conta das contas da Casa do Douro, pediu-me uma série de elementos e foi com base neles que pode pagar e receber o que lhe era devido. Se não houvesse contas eu dizia que não sabia, agora, se me perguntarem se há balanços aprovados… Havia contabilidade feita ao dia, não havia era balanços e contas aprovadas de dois ou três anos mas isso tem que se perguntar à direção e, mesmo sem estar aqui a defender a última direção, não havia quórum. O grande problema da Casa do Douro era que a reunião dos 125 conselheiros era praticamente impossível e, pelo menos nos últimos três anos, de 2012 para a frente, não se conseguiu fazer nenhuma reunião com quórum, portanto, todo e qualquer poder deliberativo para aprovar contas era impossível porque as pessoas não iam lá.
Como quando alguém diz que o responsável pela não entrega de contas ou pela eventual falência da Casa do Douro sou eu, obviamente que não o posso ser nem de facto nem de direito porque não é nem nunca será o TOC o responsável pela boa ou má gestão de uma empresa.