Entre as estações projetadas, duas são em território duriense, Vila Real e Alijó/Murça. Capital espanhola ficaria a cerca de duas horas e meia de Vila Real.

A proposta da Associação surge no âmbito da consulta pública para o Plano Nacional Ferroviário (PNF), que está a decorrer, tendo já o Ministro Pedro Nuno Santos garantido que a mesma será analisada. "Estamos a ouvir o país (...) as ligações a Espanha terão que ser avaliadas ainda com mais cuidado", afirmou o governante.

Também Frederico Francisco, Coordenador do Plano Nacional Ferroviário, já veio a público afirmar que o projeto é “inovador”, referindo ainda que “as novas ligações não colocam em causa as atuais”.

De acordo com Luís Almeida, Presidente da associação responsável pelo estudo, o mesmo foi “desenvolvido por um conjunto de técnicos de reconhecida idoneidade, e competência técnica, a título gracioso”.

“Os ecossistemas das associações, sejam elas culturais ou de outro cariz, dependem muito dos voluntários que as integram. Se nós temos recursos para dar um determinado tipo de resposta devemos aproveitá-los. Na missão de qualquer associação está o apoio às sociedades em que estão inseridas.

No caso da nossa associação ela é constituída por diversos engenheiros civis o que nos dá uma certa sensibilidade para estes assuntos. Se essas pessoas estavam disponíveis para, de forma gratuita, dar o seu contributo neste projeto, cabia-nos a nós agregar essas vontades”.

O responsável associativo afirmou ainda que esta “pretende ser uma proposta construtiva que lance a discussão, sobre a possibilidade da construção de uma linha ferroviária de alta velocidade que ligue o aeroporto Francisco Sá Carneiro, e a rede de alta velocidade espanhola a 35 km da fronteira, passando por Paços de Ferreira, Amarante, Vila Real, Alijó/Murça, Mirandela, Podence/Macedo de Cavaleiros e Bragança”.

A linha proposta, de tráfego misto, com velocidades de 160 km/h até Paços de Ferreira, de 200 km/h até Vila Real e de 250 km/h no restante traçado, representando um investimento de cerca de 4 mil milhões de euros, que permitirá devolver à região um caminho-de-ferro moderno, invertendo-se uma dependência exclusiva do transporte rodoviário para a mobilidade de pessoas e bens.

“O que nós quisemos com este projeto foi dar uma visão integrada sobre o que pode ser a ferrovia na região. A ferrovia deve desenvolver-se em torno de uma coluna cervical que acreditamos que possa ser a Linha de Alta Velocidade que propomos.

No passado, se fizermos a analogia, esse trabalho foi feito pela Linha do Douro mas os tempos mudam, tal como a tecnologia e, a Linha do Douro, apesar de ter a sua importância, que é grande e que esta proposta nada afeta, a verdade é que os tempos de viagem nunca poderão ser muito reduzidos devido às velocidades que ali se conseguem atingir.

A ideia é termos uma linha transversal a todo o norte, e a partir dali alimentar todas as outras linhas que possam surgir, como a do nordeste que está a ser discutida em Bragança. Mesmo a linha do Corgo tem, neste nosso projeto, um suporte para a sua reabertura. Até porque é necessário depois alimentar esta linha”, sublinhou Luís Almeida.

Linha do Douro não é posta em causa

Para o responsável pela apresentação da proposta, as críticas que têm surgido, afirmando que este projeto pode colocar em segundo plano a luta da região pela reabertura da Linha do Douro até Espanha, não têm fundamento, sendo dois projetos distintos, que se complementam.

“Só quem estiver de má fé é que pode ver neste projeto um impedimento à reabertura total da Linha do Douro, como defendemos. A Linha do Douro é uma perspetiva de curto prazo, e que já devia estar aberta até Salamanca. Nada nem ninguém pode parar esse desígnio. Este projeto é pensado para as próximas duas ou três décadas, são coisas completamente diferentes.

A Linha do Douro tem o seu mercado, é o turismo e as populações que dependem dessa linha, como a cidade da Régua ou a vila do Pinhão, por exemplo, é uma linha consolidada que não pode ser posta em causa.

Há também a questão dos valores, reabrir a Linha do Douro até Barca D’Alva custa cerca de 50 milhões de euros, contra 4,3 mil milhões, considerando as contingências, desta linha de alta velocidade. São duas realidades completamente distintas.

A linha do Douro entra naquela visão de proximidade, do estender da malha da ferrovia na região. é uma linha que pode ser o início das cadeias logísticas da zona do Porto para Espanha e consequentemente para a Europa. Contudo, futuramente esta linha não comportará mais do que três ou quatro comboios de mercadorias por dia, porque está saturada. Fala-se muito que a Linha do Norte está saturada mas, agora que o turismo começa a regressar em força, já se percebe que o mesmo cenário se vive aqui.

É preciso estar de muita má fé para se dizer que esta linha de alta velocidade pode tirar financiamento da Linha do Douro, são duas coisas diferentes, são as duas necessárias, para a região e para o país”.

Financiamento está assegurado

Quanto ao financiamento para esta empreitada, Luís Almeida garante que o mesmo está garantido pelo PNF que já definiu um montante semelhante para o Corredor Internacional Norte, disputado por este projeto e outro já apresentado na região beirã, passando por Aveiro e Viseu até Salamanca.

“Portugal já decidiu há muito tempo que vai fazer dois corredores internacionais, sul e norte. O sul já está em obra, o norte está previsto entre Aveiro, Viseu e Salamanca. O valor de investimento a que chegamos, foi feito com a metodologia da ADIF (empresa espanhola gestora da alta velocidade), que eles usam nesta fase dos projetos.

Além disso é um custo muito próximo do que já está estimado para o Corredor Internacional Norte. Portanto, o que conseguimos provar com este estudo é, não só, que esta solução é tecnicamente viável como, do ponto de vista do investimento, é muito próxima do que já está pensado. A ideia não é comparar mas a verba já todos temos na mente que a vamos gastar, é só decidir onde vai ser feito o investimento”.

Tecido económico e demografia são argumentos de peso

Para esta escolha serão ponderados diversos fatores, contudo, Luís Almeida acredita que o norte é quem tem os melhores argumentos para conseguir este investimento.

“Em termos de tecido económico e empresarial, ele está todo a norte do Rio Douro. Temos o Terminal de Lousado da Medway, que será só o maior terminal de mercadorias da Península Ibérica quando estiver concluído, temos um território que perdeu menos gente. Estamos a falar de uma região que tem praticamente tudo, estamos a passar por várias cidades, Vila Real, Mirandela, Bragança, Amarante, Porto, Paços de Ferreira, etc.

Não podemos pedir aos nossos empresários que façam a volta por Pampilhosa ou por Aveiro para irem para Espanha quando podemos ter aqui um corredor direto.

Outra questão é a ligação entre a nossa fronteira e a ligação à alta velocidade espanhola. No caso deste projeto essa ligação seria de 35 quilómetros, na outra solução essa distância é muito superior. Estará Espanha disposta a fazer um investimento assim tão avultado?

Eu atrevo-me a dizer que, se o corredor, pela beira alta, como está pensado, é viável, este também é de certeza”.

Luís Almeida afirma ainda que o objetivo foi “colocar o país a pensar. Havia o mito que o comboio não passava o Marão e que Vila Real não voltaria a ter comboio, esta solução quebra esse mito. O que queremos é que se tomem decisões informadas porque isto envolve muito dinheiro, é para essa discussão que pretendemos contribuir. Não se trata de regionalismo ou achar que no nosso quintal é que é melhor, trata-se de capacitar o país com ferramentas para decidir”.

Projeto já está em análise

De acordo com informações que o dirigente associativo já conseguiu apurar, “o estudo está a ser analisado pela equipa do Plano Nacional Ferroviário”, equipa essa “que tem algumas questões para nos colocar mas, essa abordagem ainda não foi feita de forma oficial”. “É desde logo um bom sinal porque é sinal que o trabalho está a ser considerado, podendo ser uma solução para o desafio que o Governo lançou de voltar a ligar as capitais de distrito por ferrovia”.

O presidente da Associação Vale D’Ouro afirma que “agora falta fazer uma análise de custo-benefício e uma análise de procura, que poderão sustentar e confirmar aquilo que neste trabalho já deixamos em aberto, que é a sustentação económica deste projeto.

Isso são trabalhos que a associação já não consegue fazer até porque envolvem custos muito elevados, esperando que aí a região possa dar o seu contributo”.

Poder político apoia projeto

Rui Santos, autarca vila-realense, foi o primeiro político da região a mostrar-se favorável a este projeto, afirmando que o mesmo sustenta a política de desenvolvimento que tem apresentado para a região, lembrando que muitos também afirmavam que o Túnel do Marão nunca passaria do papel.

“Em boa hora a Associação Vale D’Ouro fez um estudo que de certa forma vem confirmar aquilo que já era a nossa perceção. Olhando para as alternativas no norte do país, esta (grosso modo: Porto – Penafiel – Amarante – Vila Real – Bragança – Zamora) é, em termos de custo, semelhante ou igual a outras alternativas, e em termos de benefício é muito mais vantajosa, quer em termos de exportação, e os comboios hoje têm que competir com a rodovia.

Esta confirmação vem de encontro a uma outra perspetiva que é o desenvolvimento desta região do país, dos territórios do interior. Ficamos muito felizes que os estudos que são apresentados venham confirmar aquilo que defendemos há anos, esperando que depois deste estudo e da consulta pública, fique bem explicitado no Plano Ferroviário Nacional que esta é a melhor opção, e que já agora haja um calendário que preveja esta ligação mais cedo do que tarde.

Muitos diziam que o Túnel do Marão era uma impossibilidade, ele está feito, muitos diziam que as SCUTS com perfil de autoestrada, incluídas no Plano Nacional Rodoviário, eram impossíveis, elas aí estão… está na hora deste Governo, e dos próximos, passarem do discurso à prática e confirmem com investimento aquilo que apregoam nos seus discursos”.

Para Rui Santos, a localização de Vila Real, bem no centro da região norte, é uma vantagem, podendo a partir dali partir uma rede de ligações ferroviárias, como já acontece a nível rodoviário.

“Vila Real é o centro geodésico do norte. Num processo futuro de regionalização, por exemplo, obviamente (acho que também é uma evidência), Vila Real terá uma forte possibilidade de ser a capital do Norte, é isso que faz sentido. Estamos a 50 minutos do Porto, de Viseu, De bragança e da fronteira com Espanha, Vila Real é o centro quer em termos geográficos quer em termos de malha rodoviária, a ferrovia vem reforçar esta ideia, sedimentar esta possibilidade.

Sendo Vila Real capital de distrito, tal como Bragança, e havendo compromisso do Estado Central junto de Bruxelas para que todas as capitais de distrito ficarem ligadas por ferrovia, eu só vejo mesmo como possibilidade a escolha desta opção, qualquer outra seria contranatura. Esta vantagem deixa-nos a 40 minutos do TGV, isto é uma mudança drástica.

Neste momento o importante é não baralhar conceitos, há quem diga que temos agora este discurso mas que o projeto só avançará daqui a 5, 8, 10 ou mais anos… Às vezes é preciso semear para depois colher, quando há 15 anos, ou mais, se avançava com o estudo do Túnel do Marão, havia muita gente que condenava o investimento. Manuela Ferreira Leite dizia que era um mau investimento…”.

Nas declarações prestadas ao nosso jornal, o autarca vila-realense mostra-se convicto que esta posição possa ser partilhada pelos restantes colegas da CIM Douro, e de toda a região Norte.

“Não me passa pela cabeça que não haja vontade política na região para abraçar este projeto. Não acredito que os autarcas do Norte não defendam esta perspetiva, não me passa pela cabeça, diria até que seria muito estranho se fosse ao contrário.

Mas mais do que a vontade política são os factos e os dados, e esses são irrefutáveis. Esses factos demonstram que esta é a melhor opção, economicamente mais viável e menos custosa.

Houve eleições e houve alguma reconfiguração, desde aí ainda não reunimos mas penso que todos os meus colegas estarão nesta luta, até porque a solidariedade na região tem sido uma constante.

Eu  percebo que o autarca de Lamego diga que a linha devia passar lá, ou a de Sabrosa, mas todos sabemos que as coisas não são assim e a argumentação que é feita na apresentação do projeto da associação é, como digo, irrefutável”.

Também em Murça, Mário Artur Lopes, apoia a apresentação do projeto. O autarca diz, à nossa reportagem, que esta poderá ser uma oportunidade de desenvolvimento para a região.

“Sobre este investimento em concreto, aquilo que nos parece a nós é que nenhum governante irá fazer essa proposta sem que ela seja para levar a cabo. Sendo esse o objetivo, obviamente é algo que desejamos profundamente e que irá ajudar a levar, com facilidade, aquilo que no concelho existe (os produtos, os serviços e as pessoas), mas também nos poderá trazer muitas outras coisas.

Se eu acredito ou não que será concretizado, volto a dizer o que já disse, se quem nos governa a nível nacional considera essa linha para a ter em conta no PNF em curso, tenho que acreditar que há uma intenção verdadeira de levar este projeto em diante”.

Para Mário Artur Lopes não só é importante, como fundamental, que esta proposta tenha surgido da sociedade civil, sublinhando a importância de uma vontade conjunta entre eleitores e eleitos num projeto desta dimensão.

“É importante e determinante. Ou seja, havendo vontade da comunidade, a força mobilizadora para que essas realidades venham a concretizar-se é muito maior. Não há interesse em promover qualquer projeto que não vá de encontro à vontade das populações, isso é fundamental.

A força que um projeto destes pode ter, mesmo em territórios a perder população é sempre maior se houver uma vontade conjunta”.

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