Editorial

abril 2023

Estimados Leitores,

Um parvo é sempre um parvo. Não adianta ser promovido a presidente deste ou daquele organismo; não adianta ser candidato político a este ou àquele município, quando se é parvo aos 30 anos ainda se é muito mais aos 50.

Um parvo dificilmente se enxerga a ele próprio. Acha que tudo o que de mal lhe acontece – e são muitas coisas, pois um parvo é difícil vir a ser um ganhador – foi por culpa de terceiros e que ele (ou ela, também há muitas parvas) nunca tem culpa de nada pois foram os outros – aqueles que ele gostava de ser – que lhe provocaram os infortúnios.

Um parvo vai sempre discutir os cêntimos em vez de discutir a estratégia e de promover o desenvolvimento. Vai transformar as instituições em que possa ter algum poder para serem governadas pelos contabilistas (nada contra os contabilistas, apenas temos que ter a certeza de que estão a fazer o trabalho deles e não a condicionar para onde a organização deve ir) em vez de o serem pelos estrategas. Vai procurar obter prazer pela discussão se este ou aquele euro foi bem registado e contabilizado e não se os objetivos do investimento fazem sentido e são executáveis.

É por isso que um ditado antigo, atribuído a George Calin, diz que não adianta discutir com um parvo, pois ele leva a discussão para o seu próprio nível, no qual tem uma enorme experiência e onde ganha. Já Mark Twain dizia “Never argue with a fool, onlookers may not be able to tell the difference.”; ou seja, não discutas com um parvo pois quem está a ver pode não conseguir dizer a diferença.

Os parvos nas redes sociais são especialmente perigosos. Porque a argumentação parva que usam, para ser contrariada ou contestada obriga a um esforço que as pessoas não parvas não conseguem ter; pois têm mais o que fazer, e um parvo, por definição, tem todo o tempo do mundo e a motivação que a parvoíce lhe dá para promover uma boa discussão, especialmente se for on-line, em direto, e se houver muitos seguidores; muito melhor.

É por isso que os programas de representação da realidade (Reality Shows) gostam especialmente de ter parvos dentro das casas de onde são televisionados, pois alguns parvos garantem boas argumentações e promovem audiências das pessoas que gostam de assistir a uma boa parvoíce.  Note-se que a maior parte destas pessoas não são nada parvos; apenas gostam de assistir aos outros a serem.

Esperanças de que um parvo possa deixar de ser parvo ao longo dos anos são ténues. Ao longo do tempo, o nível de parvoíce costuma aumentar, principalmente quando o parvo foi sucessivamente exposto a cargos ou funções para as quais não estava preparado e nas quais, por comparação com os seus antecessores, facilmente se percebe que ultrapassou com velocidade estonteante o princípio de Peter e que não tem capacidade, conhecimento, experiência e “savoir faire” para as funções para que foi empurrado.

Para os não parvos é fácil de perceber. Basta ver a notoriedade e capacidade de mobilização que a organização tinha antes do parvo lá chegar e as que tem depois de ele sair, porque, inevitavelmente, o parvo depois de dar cabo do que lá existia vai-se embora, culpando sempre o resto do mundo pela sua incapacidade e ineficiência e que a culpa de tudo o que de mal lhe acontece é sempre dos outros. E raramente sai por a Lei o obrigar a sair, sai porque sabe que a organização não aguenta mais um mandato da sua pessoa e porque aquilo que sabe fazer já fez. Que venha agora um conhecedor, experiente e que não seja parvo procurar juntar os cacos que o parvo deixou.

Claro que, felizmente, também há o dizer popular que “vozes de burro não chegam ao Céu”.

Distinguir parvos de burros é uma tarefa difícil que deixo à inteligência dos nossos leitores.

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