Entrevista

“A Ucrânia aceita ser um país neutro mas vai querer garantias de várias partes”

José Milhazes é jornalista, historiador e tradutor. Atualmente é comentador em diversos órgãos de comunicação social. Mudou-se para a então União Soviética em 1977, país de onde saiu para regressar a Portugal em 2015.

Passado quase um mês do início da guerra, qual é o ponto de situação do conflito?

As coisas estão a correr mal para Putin. Ele pensou que seria uma invasão fácil mas acho que já percebeu que não é assim.

É ele (Putin), o grande responsável por esta guerra?

Putin e a camarilha que o rodeia, e que apoia a política dele neste momento.

É possível ver o fim ao conflito?

As coisas estão a correr mal para Putin. Esta é uma guerra que vai demorar bastante até se conseguir encontrar uma fórmula que a trave.

Existe uma fórmula para esse fim?

É muito difícil ainda prever uma fórmula que faça com que haja um cessar fogo estável, e um acordo de paz.

A Ucrânia aceita ser um país neutro mas vai querer garantias de várias partes, não só da Rússia porque essas não valem nada, mas vai exigir garantias da NATO. A NATO terá que dar garantias à Ucrânia que intervém no caso de a Rússia voltar a invadir o país no futuro, e isso a Rússia não vai querer.

Além disso a Rússia não se limita apenas à neutralidade da Ucrânia, ela pretende muito mais, pretende a destruição do sistema político ucraniano e a submissão total da Ucrânia à Rússia.

Não estou a ver a luz ao fundo do túnel, nem sequer ilusões de ótica.

E há o risco do conflito se espalhar ao resto da Europa?

Espero bem que não, isso significaria uma guerra nuclear, seria o último conflito da humanidade.

Putin teria a coragem de premir esse botão?

Para carregar nesse botão não é preciso coragem, é preciso loucura. Se Putin está louco a esse ponto? Não sei, até porque não sou especialista em doenças psiquiátricas.

Qual é o objetivo de Putin com esta invasão?

Putin queria ficar na história como o homem que fez renascer a Rússia como superpotência temida por todo o Mundo. Não conseguiu, está a ter sérias dificuldades na Ucrânia.

O conflito militar está a mostrar as fraquezas que alguns já sabiam que existiam, exceto o presidente Putin e a sua camarilha, nomeadamente a má preparação dos militares e o armamento, sobretudo devido à corrupção existente a todos os níveis na Rússia.

Claro que Putin não estava à espera da resistência levantada pelos ucranianos, para ele foi uma surpresa muito desagradável, assim como não estava à espera de uma resposta tão forte e bem coordenada  entre os países da NATO e do ocidente em geral.

A NATO poderia ter um papel diferente?

Não é possível. O mais que poderia ter sido feito teria sido antes, hoje já não é possível porque fazer mais pode resultar num confronto direto entre a Rússia e a NATO, que seria uma guerra nuclear, com tudo de mau que isso pode trazer.

A via diplomática ainda é solução para acabar o conflito?

Mais tarde ou mais cedo ele vai ter que acabar. Sabe-se que as guerras são fáceis de começar mas difíceis de acabar mas vai ter que acabar e isso só acontece com a diplomacia, nem que seja para assinar atos de rendição ou outro tipo de documentos. O problema é que a diplomacia ainda não deu nenhum resultado até agora.

Como será o Dia Seguinte desta guerra?

É muito difícil prever. Os russos querem uma Ucrânia retalhada, pretendem ficar com todo o Donbas e com a Crimeia, cortando praticamente o acesso da Ucrânia ao Mar Negro.

A Ucrânia não pode aceitar tais condições, daí ter o receio que Putin pretenda ocupar toda a Ucrânia e esmagar a resistência, colocando lá um líder fantoche pró-russo.

Encontra paralelo na história com outro conflito?

Paralelos há muitos, por exemplo a guerra Fino-Soviética de 1939, em que a União Soviética de Estaline pensava ter um passeio fácil, e ocupar a Finlândia. O país nórdico resistiu e mesmo não tendo a vitória, teve que ceder um terço do seu território, mas Estaline também não venceu.

Vendo a fraqueza do Exército Vermelho, perante as forças armadas finlandesas, Hitler considerou que seria altura para iniciar a invasão à União Soviética, o que veio a acontecer um pouco depois.

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