Entrevista

“A inflação é um flagelo para as famílias, em especial para as de menor rendimento, mas também para as empresas”

O aumento de preços tem sido generalizado e sentido pelos portugueses. Qual a causa deste aumento da inflação e de que forma provoca este aumento de custos?

A inflação (aumento generalizado dos preços) é um flagelo para as famílias, em especial para as de menor rendimento, mas também para as empresas que não conseguem repercutir o acréscimo de custo dos fatores no preço dos bens que produzem.

A origem estrutural da inflação deve ser explicada à luz do modelo de desenvolvimento prosseguido pela economia mundial nos últimos 40 anos, traduzido na globalização, na deslocalização da produção para países de menor custo de produção, relevando a China, e na criação de cadeias de abastecimento e interdependências, geográfica e economicamente, complexas.

Os pressupostos em que assentava o modelo da globalização completamente abalados pela pandemia Covid-19, com os confinamentos a reduzirem a produção e desregularem a cadeia logística de distribuição, com atrasos nas entregas e aumento dos custos de transporte. Tudo isto traduziu-se num desequilíbrio de mercado, com excesso generalizado da procura de bens, em relação à oferta, com o consequente aumento dos preços. Este desequilíbrio entre a oferta e a procura, foi ainda potenciado pelas políticas públicas de muitos países, com os bancos centrais a colocarem dinheiro “fácil” em circulação, sem a correspondência na produção real, e apoio público às famílias e empresas.

Mais recentemente, a situação inflacionista veio ser agravada pela guerra na Ucrânia, com mais disrupção nas cadeias de abastecimento e queda acentuada de produção em bens essenciais como o trigo e o óleo de girassol, em que a Rússia e a Ucrânia, no seu conjunto e respetivamente, representam cerca de 28% e 80% do comércio mundial. Também na sequência desta guerra, o mercado dos combustíveis fósseis, nomeadamente petróleo e gaz, sofreu um forte abalo com aumento generalizado dos preços.

Em síntese, as fontes da inflação atual, podem ser agregadas em Covid-19 (confinamentos e disrupção nas cadeias logísticas) guerra na Ucrânia, e política pública monetária e económica de mitigação aos efeitos da pandemia.

É possível estabelecer o momento em que os preços começarão a recuar?

Neste momento, não existe informação suficiente que permita estabelecer um momento de inversão dos preços. Começa a haver algum consenso entre economistas que, na sua essência e em parte relevante, a inflação tem caraterísticas estruturais, embora também tenha uma componente conjuntural, e que nos países desenvolvidos dificilmente atingirá os dois dígitos.

Para combaterem o efeito estrutural, os bancos centrais estão a aumentar a taxa de juro de referência e, por esta via, reduzirem o excesso de procura no mercado. Simultaneamente, para reduzirem impactos conjunturais, os governos, entre os quais o de Portugal, estão a intervir nos mercados energéticos, tanto por via fiscal como por fixação de preços máximos.

Diria que, tendo em consideração a sua origem, a inflação está para ficar ainda que com acréscimos de preços menos acentuados que os observados em 2022. Reduzir preços (deflação) ao nível pré-pandemia, é uma impossibilidade, até pelo acréscimo dos salários e do custo de matérias-primas essenciais.

Olhando para a realidade do Douro, que consequências económicas terá este aumento do custo de vida?

A realidade do Douro deve ser vista numa dupla perspetiva: a das famílias e da sua base económica (empresas). Para as famílias a situação não será diferente do que acontece no resto dos país, com o grupo social de menor rendimento a sofrer mais, restando-lhe, no fim do mês, muito pouco dinheiro para a compra de outros bens que não os essenciais (alimentação, energia, água e saúde).

Sendo a base económica da região centrada no vinho, os efeitos negativos da inflação irão sentir-se na rentabilidade e viabilidade da fileira vitivinícola, devido, simultaneamente, ao aumento do custo de produção (mão de obra, fitofármacos, combustíveis) e à dificuldade em transferir este acréscimo de custo na generalidade dos vinhos vendidos, por estarmos perante um bem de consumo não essencial, com procura sensível ao preço e ao rendimento real das famílias.

Salienta-se que no Douro, o efeito acrescido do custo do principal fator de produção, a mão-de-obra, já era sentido pré-pandemia, consequência, da regressão demográfica da região e envolventes. Um problema estrutural que deve merecer uma política estrutural.

Acrescentaria ainda o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) pode ter um papel ativo de suporte económico ao setor vitivinícola e, por esta via, á economia da região.

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