Opinião

A biosfera precisa das abelhas

O Dia Mundial das Abelhas é uma data que visa conscientizar a população sobre a importância destes insetos para a manutenção da vida no planeta. As abelhas são responsáveis por grande parte da polinização das plantas espontâneas e cultivadas, o que garante a sua reprodução e, consequentemente, a produção de alimentos para os seres humanos e outros animais. Estima-se que cerca de 70% dos alimentos consumidos pelo Homem dependem da polinização realizada por abelhas e outros polinizadores. Por outro lado, as abelhas integram a dieta de muitos animais insectívoros, desde répteis, aves, peixes, vespas, aranhas, batráquios, etc., contribuindo também, desta forma, para manutenção da biodiversidade e da preservação dos ecossistemas.

Atualmente, as abelhas enfrentam uma série de ameaças, como a perda de habitat, a degradação do meio ambiente, o uso indiscriminado de pesticidas e a disseminação de doenças, aspetos relacionados, direta ou indiretamente, com a ação humana. Estes fatores têm levado ao declínio populacional de diversas espécies de abelhas em todo o mundo, o que representa um perigo não só para as próprias abelhas, mas também para a segurança alimentar e a saúde do planeta como um todo. Em Portugal, existem cerca de 720 espécies de abelhas selvagens, na sua quase totalidade abelhas solitárias (não formam colónias). Apesar de estar sujeita aos mesmos condicionalismos, e por consequência aos mesmos efeitos, a abelha do mel (Apis mellifera) é a única espécie que tem mantido uma população estável. Os apicultores desempenham aqui um papel importante na preservação da abelha de mel, pois cuidam da sobrevivência e da reprodução das colónias, garantindo, ao mesmo tempo, que elas continuam a polinizar as plantas e a produzir mel, pólen, própolis e outros produtos apícolas.

A abelha de mel apresenta um conjunto de características que a tornam uma polinizadora eficiente num amplo leque de espécies de plantas cultivadas e espontâneas, designadamente:

  • Como outras abelhas, têm o corpo coberto de pelos ramificados, o que promove a adesão dos grãos de pólen e potencia o transporte de pólen na polinização;
  • O ciclo biológico é conhecido e dominado pelo apicultor, o que permite cuidar e proceder à sua reprodução para repovoar ou aumentar o efetivo;
  • O maneio é relativamente fácil, permitindo gerir a população em função da utilização prevista;
  • Vivem em colónias com vários milhares de indivíduos e podem ser deslocadas facilmente para qualquer local;
  • Desde que as condições meteorológicas o permitam (temperatura ambiente superior a 12ºC, ausência de chuva e vento), estão ativas em qualquer altura do ano (a maioria das espécies de abelhas solitárias possui uma fase do ciclo com atividade de poucos meses);
  • O raio de ação ronda os 3 km em redor da colónia, o que representa uma área relevante para um animal tão pequeno;
  • Em cada voo de recolha de alimento os indivíduos desta espécie mantêm-se fiéis à espécie de planta que selecionaram, o que aumenta a eficiência na polinização;
  • Possui um sofisticado sistema de comunicação, por danças, o que lhes permite indicar às congéneres da colónia a fonte de alimento que encontraram e, por conseguinte, aumentar o número de indivíduos que a visitam.

Apesar destas características, esta espécie de abelha não pode substituir as restantes uma vez que ocorrem na natureza especificidades abelha-planta em favor de outras espécies de abelhas. Por exemplo, as abelhas do género Bombus têm maior eficiência na polinização do tomateiro, pois são capazes de promover vibração das flores (“buzzing”) sem a qual não se soltam os grãos de pólen, o que não acontece com a Apis mellifera.

Em 2022, Portugal contava com cerca de 11 000 apicultores e 700 000 colónias, distribuídas por 43 000 apiários. Apesar dos apicultores desempenharem um papel importantíssimo na preservação das abelhas e, por conseguinte, do meio ambiente, não são beneficiários das ajudas agroambientais, ao contrário do que acontece para outras espécies zootécnicas.

É crucial que as autoridades, instituições e a sociedade em geral reconheçam o papel fundamental que as abelhas e a apicultura desempenham na manutenção da biodiversidade e na produção de alimentos. Devem, por isso, ser desenvolvidas medidas específicas de apoio à apicultura e à conservação de habitats que garantam o desenvolvimento das abelhas e a continuação dos seus serviços agroambientais. A região do Douro caracteriza-se por extensas áreas com videiras que as abelhas pouco usam. Contudo, é possível promover a criação de habitats mais favoráveis através de práticas que utilizam plantas de cobertura atrativas para abelhas nas entrelinhas de videiras. A redução do uso de pesticidas que possam ser prejudiciais aos polinizadores é outra medida a considerar.

Neste Dia Mundial da Abelha é importante lembrar que todos nós podemos proteger os polinizadores, desde escolher produtos agrícolas produzidos de forma sustentável, plantar flores que atraiam abelhas ao nosso jardim ou optar por efetuar os eventuais cortes de plantas apenas após a floração, por exemplo. A UTAD, o CITAB e o Laboratório Apícola continuarão a dar o seu contributo a favor dos polinizadores, investigando soluções para as ameaças de que são alvo e promovendo formação na área apícola destinada aos apicultores e à sociedade em geral.

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